DA ASSESSORIA O programa "Arena Livre", que foi ao ar na noite desta segunda-feira, 7/4, com reprise ao meio dia da terça-feira, 8/4, teve em seu centro o procurador geral de Justiça do Estado, Luiz Antônio Guimarães Marrey.O procurador geral de Justiça do Estado de São Paulo, Luiz Antônio Guimarães Marrey, participou na última sexta-feira, 4/4, da gravação do programa "Arena Livre", da TV Assembléia. O 2.º secretário do Parlamento paulista, deputado José Caldini Crespo (PFL), foi um dos debatedores. Também participaram do programa os deputados Ítalo Cardoso (PT) e Rosmary Corrêa (PSDB), além do jornalista Jorge Machado, da TV Assembléia.Durante o debate, o procurador geral enfatizou a necessidade de mudanças por parte do Judiciário: "Em alguns casos podemos pensar em mudar algumas penas, mas antes disso precisamos ter o efetivo cumprimento das penas". Para Marrey, algumas profissões implicam enfrentar desafios e não existem apenas para dar prestígio. "É o ônus das funções. Devemos ter cautela. É normal ter medo. Mas medo pode ser visto como acovardamento e isso não pode existir." Perguntado pelo deputado José Caldini Crespo sobre o porquê de não haver ainda um cadastro nacional dos cidadãos, para que se evite que baste que um bandido mude de Estado para começar vida nova, e porquê ainda hoje um policial é sua própria memória, Marrey respondeu que infelizmente o Infoseg, que seria esse cadastro nacional informatizado, ainda está incompleto, devido à falta de informatização de alguns Estados. "Informatização é um bem público e não é possível que o arquivo fique na cabeça do promotor e do juiz", completou. De acordo com ele, isso acontece também muitas vezes pela vontade que se tem de deter a informação, "porque informação é poder". Marrey lamentou não ter havido, até agora, uma cultura de trabalho conjunto, e afirmou sua crença de que essa é uma iniciativa que deverá ser tomada pelo ministro Márcio Thomaz Bastos, da Justiça. "Temos de ter fé de que as alterações terão princípio, meio e fim. Temos de passar da retórica à ação. Infelizmente temos de esperar atos se repetirem para que providências sejam tomadas."Melindres injustificadosA receita para se começar a mudar a atual realidade - na qual juizes são ameaçados e assassinados - para Marrey, começa com cada um fazendo a sua parte: Ministério Público, Executivo, Assembléia. "Temos de nos sentar e ver de que forma podemos ajudar, o que podemos fazer."Um dos motivos pelos quais até hoje não se realizaram grandes mudanças nessa área é, de acordo como procurador geral, o corporativismo. "Isso tem de acabar. Estamos fartos de narizes torcidos, de melindres. Não importa de quem é a iniciativa, se é da Polícia Militar, da Polícia Civil, da sociedade civil, do Ministério Público. Se a idéia for boa, tem de ser posta em prática." Segundo o procurador, as pessoas com visão estreita, antiga, corporativista, têm de ser afastadas.RepressãoLuiz Antônio Guimarães Marrey lamentou que a expressão "repressão" tenha ficado desgastada pelo seu uso e prática durante a ditadura. Para ele, a repressão ao crime é necessária. "O Estado democrático tem de encontrar formas de reprimir o crime", falou, lembrando que alguns municípios da Grande São Paulo tiveram diminuídos seus índices de violência com uma medida simples: a alteração do horário de fechamento (mais cedo) de bares."Temos de ter coragem histórica de fazer valer o Estado de Direito", defendeu Marrey, lembrando as vítimas invisíveis, as centenas de pessoas do povo que morrem sem merecer uma linha nos jornais, "característica de uma sociedade desigual".Acordos às clarasQuestionado por Crespo sobre a possibilidade legal de se infiltrar policiais no crime organizado e de libertar o pequeno traficante em troca da delação dos grandes, Marrey disse que um dos pontos que deveriam passar por reforma imediata é este: permitir que o Ministério Público faça acordos às claras. "No sistema americano é somente assim que se chega aos grandes", comparou, ressaltando que no Brasil só é possível fazer acordos para a diminuição da pena, o que pode levar o delator a sofrer pressão dentro das cadeias. Sobre infiltração de agentes, Marrey disse que ainda não há como dar segurança a policiais nessa situação. "Também é necessária a discrição de causa excludente de criminalidade. Mas essas são duas formas de agir que acho bom que sejam regulamentadas."Luiz Antônio Guimarães Marrey respondeu também a várias perguntas de Ítalo Cardoso e de Rosmary Corrêa e encerrou sua participação no "Arena Livre" insistindo que é preciso que a sociedade dê um "basta" e que todos nos unamos para alterar o quadro atual.