A Frente Parlamentar em Defesa da Água Limpa, coordenada pelo deputado José Candido (PT), realizou nesta quinta-feira, 19/3, audiência pública para discutir a situação dos mananciais da Região Metropolitana de São Paulo. Com a presença do secretário de Política Urbana do município de Suzano, Miguel Reis Afonso, da vereadora Luíza Cordeiro, presidente da Comissão de Defesa do Meio Ambiente na Câmara Municipal de Guarulhos, e do arquiteto e urbanista Renato Arnaldo Tagnin, o encontro reuniu representantes de diversas entidades ligadas à defesa do meio ambiente e à comunidade. Durante uma apresentação de imagens com informações sobre a situação da água no planeta, Renato Tagnin demonstrou que o mau uso dos recursos hídricos, assim como a expansão humana sem planejamento, são os principais fatores que provocam a escassez da água. Segundo Tagnin, ao ignorar o espaço da água, ações como aterramentos e desvios de curso de rios e córregos acabam provocando, de um lado, a falta do recurso e, de outro, enchentes e alagamentos. Vegetação preserva a água "A rapidez com que estão ocorrendo as alterações do clima do planeta torna praticamente impossível prever chuvas", afirma Tagnin, o que impede de traçar um mapa preciso da movimentação da água pelo planeta. Há lugares com abundância de chuvas em determinadas épocas do ano e outras em que não chove. Em outros locais ocorrem enchentes e alguns estão em processo de desertificação. As alterações climáticas são produto da ocupação e do desenvolvimento humanos. Ilustração disso é o desaparecimento de reservas de água, como rios, lagos e aquíferos. Em 40 anos, o lago Chad, que se localiza na fronteira entre Nigéria, Camarões e Chade, na África, sofreu redução de 75% de seu tamanho, em razão da captação de água para agricultura. Também o lago Aral, no Cazaquistão, perdeu 60% de sua extensão nas últimas quatro décadas. Entretanto, segundo informou Tagnin, áreas em que a água havia escasseado ou mesmo desaparecido voltaram a se tornar irrigadas graças à recomposição da cobertura vegetal. As atividades agrícolas extensivas também devem ter controle, pois consomem grandes quantidades de água, não raro com desperdício. Ricos e pobres No caso das regiões metropolitanas, o encarecimento da vida nas áreas centrais das cidades, onde há uma valorização imobiliária decorrente da abundância de serviços públicos, leva a população pobre a habitar as regiões periféricas, não raro áreas de mananciais - como é o caso dos entornos das represas de Guarapiranga e Billings, que abastecem boa parte da capital paulista. A situação verificada nas regiões metropolitanas - concentração de população de renda mais alta no centro urbano e expansão para a periferia da população pobre, com a consequente perda de serviços públicos essenciais - é uma repetição do que acontece entre os países do mundo. Uma estatística de 2007 mostra que enquanto um cidadão norte-americano consome por ano dois mil metros cúbicos de água, um jordaniano consome duzentos, e um haitiano, sete. A estimativa de consumo de água leva em conta também o uso da água alheia: a importação de produtos de países em desenvolvimento por países desenvolvidos carrega consigo a água envolvida na produção, e sua perda: os processos de desenvolvimento industrial ou agroindustrial que geram perdas ambientais em alguns países acabam "poupando" os importadores dessas perdas. Mesmo a produção de energias limpas, como a hidrelétrica, provoca impactos ambientais na conservação e oferta de água. No Brasil As áreas ainda ricas em recursos hídricos no Brasil, como as da região amazônica, estão hoje ameaçadas, segundo Tagnin, pela expansão de atividades como o agronegócio e a pecuária. Para Tagnin, empresários estão ocupando a região e provocando devastação da forma como já ocorreu no sul e sudeste do Brasil. O Estado de São Paulo perdeu mais de 90% da cobertura vegetal estimada para o período anterior a 1900. Os impactos ambientais são cumulativos: o desenvolvimento industrial, associado à potencial poluição de solo e de água, a migração e assentamento humano e eventuais conflitos sociais relacionados são fatores que levam a desmatamento, redução da biodiversidade e alterações do clima. Consequentemente, a oferta de água fica afetada.