O empresário todo poderoso Kia Joorabchian, o homem-forte da MSI, empresa que controla o Corinthians paulista, deu recentemente entrevista na qual reclama das constantes propinas que tem de entregar a jogadores, técnicos, empresários e sabe-se lá a mais quem. Tudo em nome da transformação do Corinthians em um supertime internacional. As revelações de Joorabchian são estarrecedoras. Confirmam, na verdade, o que todos sempre supuseram: o futebol brasileiro está dominado por um submundo de negócios escusos, personagens cinzentos e dirigentes mal-intencionados. Nos últimos dias, inclusive, explodiu uma polêmica entre Joorabchian e o próprio presidente do Corinthians, Alberto Dualib, que, na verdade, tem como pano de fundo a briga pelas gordas comissões oriundas do patrocínio milionário que o clube assinou com a multinacional Samsung. Nosso país está vivendo uma séria crise. Mas é dela que podem sair caminhos capazes de limpar o poder público, varrer os corruptos do cenário político. Ora, a CPI federal que investigou o futebol confirmou a existência de uma "bancada da bola"; parlamentares que recebiam mensalões (ou talvez mensalinhos) para pagar a defesa de interesses de dirigentes e empresários esportivos. Ou seja, futebol, poder, dinheiro e corrupção sempre estiveram intimamente ligados. Em São Paulo, denunciei com veemência o escândalo que foi o acordo MSI-Corinthians, transformando o maior clube do estado em uma lavanderia de dinheiro suspeito, talvez proveniente do tráfico de drogas, da prostituição ou do comércio de armas. Fui então procurado por suposto emissário da máfia de Joorabchian, com uma oferta milionária para que eu abrisse mão das denúncias. Dei voz de prisão ao emissário e rejeitei a propina. Mas se o próprio personagem responsável pela farta distribuição de gorjetas está reconhecendo que a situação do futebol no país é uma barbaridade, então a coisa chegou a um ponto insustentável. Manifestação recente do Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu que as CPIs são instrumentos das minorias parlamentares. Logo, não é necessário que sejam aprovadas pela maioria em qualquer Legislativo. Aqui em São Paulo, isso derruba o argumento dos partidários do governador Geraldo Alckmin, que, maioria na Assembléia Legislativa, impediram nos últimos dois anos a instalação de qualquer CPI, das cerca de 50 protocoladas. Nas próximas semanas, certamente, a Assembléia instalará, por fim, as devidas CPIs. As declarações de Kia Joorabchian confirmam que a CPI do Futebol é prioritária. Afinal, ela pode começar investigando contratos suspeitos e chegar muito longe. Talvez, a novos mensalões. * Romeu Tuma é deputado estadual pelo PMDB, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos do Consumidor, membro da Comissão de Segurança Pública e corregedor da Assembléia Legislativa de São Paulo.