Empregando simples elementos formais, estritamente geométricos, Valdeir Maciel sentiu sempre a necessidade de uma ordem transparente na complicada realidade de nossos dias. A intensidade de sua percepção se manifestou através de um vigor projetado, que insere o seu trabalho no horizonte de um concretismo animado de espirituais ressonâncias e líricas pulsações. Interprete crítico foi um dos artistas que deram consciência às intenções, vigor de análise e severidade ao movimento abstrato em São Paulo. O seu abstracionismo é neo-plástico: a ele se consagrou num momento em que descobriu a inutilidade de "conservar" as figuras e as imagens dos objetos, considerados supérfluos, que os cubistas não desejaram ou ousaram suprimir. Ele buscou o equilíbrio espiritual no interior dessa problemática. Entre os próprios sentidos e a sua espiritualidade, Valdeir Maciel enfrentou também o problema do espaço. Enquanto a razão indagou sobre os equilíbrios interiores da obra, é sobre a superfície que encontramos a tensão das massas, das linhas e das cores que fazem vibrar os sentidos. O artista permaneceu sempre fiel a essa visão. Suas obras oferecem ao olhar do espectador, constantemente, novas alternativas, assim sendo as formas e partes da obra que, em certo momento, podem parecer planas e, no instante sucessivo, são vistas no sentido espacial e vice-versa. Theo Spanoudis, o grande crítico de arte que o descobriu, destacava com ênfase a originalidade, o ineditismo e o grande valor plástico de sua obra, afirmando: "Seus complexos formais colocados no meio da tela, sugerem símbolos de objetos sagrados e litúrgicos, símbolos de objetos significativos e transcendentes, algo de místico e revelatório. São como emblemas de uma religião desconhecida, lapidados com carinho, decisão e sutileza". Em "Geométrica I", obra doada pela família Maciel ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo, está evidenciada a concepção "metafísica" do seu conhecimento perceptivo. Trata-se de uma pintura original que soube explorar a nitidez e a pureza das formas elementares geométricas a serviço de uma religiosidade profunda, misteriosa e transcendente. O Artista Valdeir Maciel nasceu em Bacabal, Maranhão, no ano de 1937 e faleceu em São Paulo em 2001. Autoditada, discreto, desenvolveu sua tragetória artística em São Paulo a partir de 1961, frequentando um seleto grupo de amigos que circulavam em torno do críico de arte Theón Spanudis. O artista valorizou sempre as formas geométricas mais simples como o triângulo, o retângulo e, já como resultado do ritmo de sua pintura, o trapézio. Em contrapartida, utilizou cores ousadas e em várias matizes inspiradas nas camadas mais profundas da alma brasileira. Participou de inúmeras exposições coletiva no I Salão do Trabalho (1962); II Bienal da Bahia; XI e XVII Salão de Arte Moderna de São Paulo (1962 e 1968); Galeria Novas Tendências (1964); I Salão de Arte Contemporânea de Campinas (1965); I Salão de Abril no Rio de Janeiro (1966); IX e X Bienal de São Paulo (1967 e 1969); Galeria F. Domingo (1967); VII Salão de Arte Contemporânea de São Paulo (1979), além de mostras no Museu de Arte Contemporânea, Museu de Arte Moderna, Museu de Arte de São Paulo, Galeria Paulo Figueiredo e CCBB do Rio de Janeiro. O artista conquistou inúmeros prêmios, incluindo medalhas de bronze no XII e XIV Salão de Arte Moderna de São Paulo e Menção Honrosa no I Salão de Arte Contemporânea de Campinas. Suas obras encontram-se em importantes acervos particulares e oficiais na Alemanha, Estados Unidos, Brasil e no Museu de Arte do Parlamento de São Paulo.