Santo Dias da Silva: marco na luta pela democracia


29/10/2004 19:18

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Santo Dias da Silva<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/santodias.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Há 25 anos, morria Santo Dias da Silva, operário, e nascia um símbolo de luta contra o governo militar e pela democratização do país. Metalúrgico e um dos líderes da greve da categoria em São Paulo, Santo Dias foi baleado pela Polícia Militar durante piquete em frente à fábrica Sylvania, em Santo Amaro, em 30 de outubro de 1979, poucos dias depois da promulgação da Lei de Anistia.

A morte de Santo Dias revoltou o país e se transformou num marco. Várias iniciativas de defesa dos direitos humanos levam seu nome, como o Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo e o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos, concedido pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. A história do metalúrgico é tema do livro "Santo Dias: quando o passado se transforma em história", de Luciana Dias (filha de Santo), Jô Azevedo e Nair Benedicto.

A vida de Santo Dias também já foi tema do filme "Eles não usam black-tie", de Leon Hirzschman.

Nascido em 22 de fevereiro de 1942, na cidade de Terra Roxa, em São Paulo, filho de Jesus Dias da Silva e Laura Amâncio, Santo Dias era operário metalúrgico, motorista de empilhadeira da Metal Leve S/A. Antes, havia sido lavrador, colono, diarista e bóia-fria. Em 1961, foi expulso, com a família, das terras onde era colono, por exigir registro de carteira profissional, como era lei. Trabalhador em fábrica, foi demitido por participar de campanhas coletivas por aumento de salário e adicional de horas extras. Era casado e pai de dois filhos.

Cristão atuante, participou das lutas dos trabalhadores rurais, da Pastoral Operária, do Movimento Contra a Carestia, do Sindicato dos Metalúrgicos e do Comitê Brasileiro pela Anistia.

O metalúrgico Luís Carlos Ferreira testemunhou a morte de Santo Dias da Silva, no depoimento que prestou à Comissão de Justiça e Paz. Segundo Luís Carlos afirmou à Comissão, ele estava a uns seis metros de distância de Santo Dias, no momento em que ele foi baleado. "Os policiais estavam puxando o Espanhol por um lado. Do outro, Santo segurava o companheiro. Começou então a violência, com tiros para cima e, depois, eu vi o Santo ser atingido na barriga, de lado, e o tiro sair de outro lado. Escutei três gritos: ai, ai, ai. E o Santo caiu no chão", disse Luís Carlos Ferreira, que também reconheceu o soldado Herculano Leonel como o autor do disparo que matou o operário.

O corpo de Santo Dias foi velado na Igreja da Consolação. Milhares de pessoas desfilaram diante do caixão aberto de Santo, prestando sua homenagem. Às 8 horas da manhã a movimentação diante da Consolação era grande. Saindo da Consolação às 14h10, o cortejo com faixas e palavras de ordem contava com mais de 10 mil pessoas.

Homenagens

Criado em 1996, por iniciativa do deputado Renato Simões, presidente da Comissão de Direitos Humanos, o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos concedido pela Assembléia Legislativa de São Paulo é entregue anualmente a pessoas e entidades que se destacam na luta pelos direitos humanos.O VIII Prêmio será entregue no próximo dia 10 de dezembro, em Sessão Solene, às 20 horas, no Plenário Juscelino Kubitscheck da Assembléia Legislativa.

O livro "Santo Dias: quando o passado se transforma em história", de Luciana Dias, Jô Azevedo e Nair Benedicto, foi lançado no dia 29 de outubro, na Câmara Municipal de São Paulo.

Este ano, por conta dos 25 anos de sua morte, o Comitê Santo Dias programou uma caminhada para o dia 29 de outubro, às 17h00. Fará o mesmo itinerário do cortejo, em 1979: às 17h00, sai da Igreja da Consolação e vai até a Catedral.

No dia 4 de novembro às 19 horas, D. Paulo Evaristo Arns e d. Pedro Casaldáliga, bispo de São Félix do Araguaia, além de políticos, sindicalistas e professores participam de ato de lançamento do livro de Luciana Dias e da entrega solene de mais de 3.500 documentos da família de Santo Dias ao Centro de Estudos, Documentação e Memória da Universidade Estadual de São Paulo (Cedem-Unesp), no auditório da entidade, rua Benjamin Constant, esquina com Praça da Sé, último andar. É a primeira vez que o Cedem recebe a documentação completa de um operário, pois seu acervo tem somente memórias de militantes, escritores e outros intelectuais.

alesp