Polícia atacada tem que reagir

Opinião
17/05/2006 19:31

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Afanasio Jazadji<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/Afanasio Jasadji2.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Com mais de 150 ataques externos dos bandidos do PCC e dezenas de rebeliões em presídios, que deixaram mais de 70 mortos, centenas de feridos, rastro de destruição, terror na população, trauma nas polícias, alerta à Justiça e o maior desgaste dos últimos governos paulistas, o Estado de São Paulo viveu, de 12 a 14 de maio, um fim de semana mais sangrento que o do Iraque.

Em Bagdá e outras cidades iraquianas tumultuadas pela guerra que já se prolonga por três anos, os choques e explosões de sexta-feira a domingo causaram 48 mortes, bem menos que por aqui. E, na imprensa do mundo, o caos instalado em nosso espaço maior em relação ao habitual conflito do Oriente Médio.

Foi mesmo algo digno de destaque no Livro de Recordes: desta vez, São Paulo superou até seu antigo recorde de 18 de fevereiro de 2001, quando um motim simultâneo, articulado por telefones celulares do PCC " Primeiro Comando da Capital - , agitou 29 penitenciárias.

O mais incrível de tudo foi a posição dos secretários Saulo Abreu, da Segurança Pública, e Nagashi Furukawa, de Administração Penitenciária. Se eles disseram que já esperavam essa onda de violência por parte do PCC, por que mostraram expressão de surpresa na tensa entrevista coletiva do sábado?

Por que os secretários não alertaram os policiais? Por que negociaram com os criminosos? Por que os celulares entram nas cadeias? Por que não temos outros presídios de segurança máxima, como o de Presidente Bernardes? Por que, afinal, os bandidos do PCC continuam com tantas regalias?

O governo federal faz jogo duplo. Alguns meses atrás, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, passou a defender a idéia de libertar milhares de condenados, sob a desculpa de que as prisões do país estão lotadas. O Poder Judiciário, por sua vez, infelizmente, também entra com sua parcela negativa, ao ir contra punições rigorosas para quem comete crimes hediondos.

Em São Paulo, com gente tão despreparada para cuidar da segurança e das cadeias, como os secretários Abreu e Furukawa, nunca haverá solução. Se usassem nos presídios os equipamentos iguais aos de bancos, que servem para detectar objetos, evitariam a entrada e a manutenção de celulares pelos detentos.

O Marcola, um dos criminosos líderes das rebeliões e ataques do PCC, mantinha um advogado, praticamente ao seu lado, 24 horas por dia, na cadeia de Avaré. Por que os bandidos conquistaram tantos direitos e poderes?

As autoridades, além de tudo, se mostraram impotentes e confusas. Por que haviam concedido 60 televisores para os detentos acompanharem jogos da Copa do Mundo e depois recuaram? Por que trouxeram os líderes do PCC de cadeias do interior para o DEIC, em São Paulo? O que queriam de Marcola?

Sabe-se que o PCC havia imposto inúmeras exigências, entre as quais a de que se permitisse visitas íntimas até no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), mudança da cor do macacões e interrupção da transferência dos líderes do PCC. Nagashi negociava com eles, mas não cumpria: o barril de pólvora explodiu!

O experiente juiz aposentado Walter Fanganello Maierovitch definiu: "Se São Paulo hoje vive dias de Bagdá é porque o Estado não teve capacidade para se prevenir diante da violência dos criminosos." Já o presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, André Di Rissio, voltou a lamentar que as polícias civil e militar paulistas estejam entre as de piores salários entre os Estados brasileiros e criticou autoridades: "Saulo Abreu e Nagashi Furukawa estão entre os maiores causadores de todo esse caos. E a Justiça também tem algo a ver, pois coloca os bandidos na rua."

Na infeliz entrevista coletiva do dia 13, diante do bem-intencionado governador Cláudio Lembo, que nada pôde fazer ao herdar dos antecessores tão grave problema, os secretários Saulo Abreu e Nagashi Furukawa chegaram a dizer que o PCC, ao iniciar novas rebeliões nas cadeias e promover ataques nas ruas, estava "criando um fato para movimentar a mídia por política".

Qualquer homem público deveria saber que a mídia vai atrás de fatos. O que houve foi um fato, um enorme fato, que tomou conta da mídia brasileira e chegou à imprensa internacional. Ninguém faz marketing só para chamar a atenção, se não conta com alguns fatores: o PCC contou com a incompetência e a inércia que se arrastam há 10 anos! Como deputado estadual, denunciei ao governo, já em 1996, a existência do PCC. Na época, nada se fez. Como nada foi feito nos últimos anos. Agora, não basta pedir desculpas: é preciso reagir!!!

* Afanazio Jazadji é deputado estadual pelo PFL

alesp