"O planejamento urbano não é um favor à população, mas um direito dos cidadãos e uma obrigação dos municípios". A frase proferida pelo promotor de justiça, habitação e urbanismo, José Carlos Freitas, sintetizou o espírito que norteou os participantes do seminário "Plano Diretor " Rumo à 2ª Conferência Estadual das Cidades".O seminário foi realizado nesta quarta-feira, no foro da Comissão de Assuntos Metropolitanos, presidida pela deputada Ana Martins (PCdoB), e teve a participação do presidente da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa), Marcos Campagnone, da representante do movimento Articulação Estadual pelo Direito às Cidades, Arlete Moyses Rodrigues, da arquiteta e urbanista Rosana Helena Miranda e do representante do Instituto Polis, Paulo Romeiro, além da presença dos deputados Paulo Sérgio (PV) e Mário Reali (PT).Conferência Estadual A 2ª Conferência Estadual das Cidades foi convocada pelo governador Geraldo Alckmin, com base nos prazos definidos pelo Ministério das Cidades, e será realizada no período de 1º de agosto a 2 de outubro de 2005.O seu objetivo principal, além de definir a própria pauta e validar as conferências municipais, sistematizando seus relatórios, é a eleição dos delegados estaduais à 2ª Conferência Nacional das Cidades, a realizar-se em Brasília, de 30 de novembro a 3 de dezembro, a qual, por sua vez, irá definir os novos integrantes do Conselho Nacional de Cidades (ConCidades), incumbido de propor as diretrizes da política nacional de desenvolvimento urbano.Temas de discussãoO seminário serviu para adiantar alguns dos assuntos que dominarão a pauta da Conferência Estadual, dentre eles os aspectos jurídicos, administrativos, técnicos e políticos introduzidos pela edição do Estatuto da Cidade, que ordena o direito a cidades sustentáveis, a gestão democrática através da participação popular no acompanhamento de planos e programas, a cooperação entre as instâncias governamentais, a adequada distribuição espacial da população urbana e dos investimentos produtivos, a proteção do meio ambiente, a oferta de equipamentos urbanos, além de outras diretrizes fixadas na lei.Os temas jurídicos foram apresentados pelo promotor José Carlos Freitas, que salientou a necessidade de todos os municípios elaborarem seus planos diretores, como elemento constitutivo da própria cidadania, a despeito de a legislação obrigar apenas os municípios com mais de 20 mil habitantes, os que integram regiões metropolitanas, os de interesse turístico e outros sob influência de programas federais específicos. Assinalou também que o Estatuto da Cidade prevê que os prefeitos que não elaborarem o Plano Diretor no prazo previsto, que vai até outubro de 2006, incorrem em crime de responsabilidade, podendo ser igualmente responsabilizados os vereadores que se negarem a aprovar a iniciativa.Escalado para falar sobre gestão democrática, Paulo Romeiro, integrante do Instituto Polis, insistiu que a participação popular não pode se dar somente em audiências públicas e listou uma série de pressupostos para garantir a efetiva gestão democrática prevista na legislação. Apontou a necessidade de coordenação compartilhada; ampla divulgação dos temas, em linguagem acessível; ciência prévia do organograma participativo; divisão dos vários segmentos sociais para a discussão de temas conexos à realidade de cada grupo, entre outros. Na mesma linha, Rosana Miranda lembrou que com o Estatuto da Cidade abriu-se uma nova perspectiva para os movimentos populares, e que ter acesso aos benefícios do Plano Diretor passou a ser um requisito da cidadania.Sob o aspecto técnico, Arlete Moyses assinalou que o Brasil, apesar das aparências, é um país eminentemente urbano e que, sendo assim, um dos requisitos básicos para a elaboração de um Plano Diretor consistente é o conhecimento detalhado do território de cada município, sem o que não é possível fazer valer os instrumentos de gestão previstos no Estatuto da Cidade.Por fim, Marcos Campagnone, da Emplasa, salientou a necessidade de compatibilizar as várias legislações municipais com a legislação estadual, principalmente na área da preservação ambiental, de forma a evitar conflitos de competência e viabilizar a aplicação do Estatuto da Cidade.Sem burocraciaAo final do encontro, a deputada Ana Martins lembrou o lançamento da campanha Plano Diretor Participativo, coordenada pelo Ministério da Cidades, enfatizando a necessidade de participação da sociedade na gestão dos assuntos da cidade. "Não façam Plano Diretor burocraticamente. Estamos inaugurando uma nova cultura", declarou