População precisa ser alertada para o tráfico de órgãos, avisa missionária


01/08/2005 16:32

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Irmã Maria Elilda dos Santos<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/seminaIrma Maria Elilda dos Santos-mau.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O tráfico de órgãos é comandado por uma máfia internacional, uma central única com várias facções. Uma delas estaria instalada no Brasil, que é tanto um fornecedor como um corredor de entrada e saída para o comércio ilegal de órgãos. A denúncia feita pela missionária Maria Elilda dos Santos baseia-se no grande número de casos que ela reuniu e na semelhança entre eles, desde que passou a acompanhar crimes ligados à venda de órgãos em Moçambique, em 2003.

A missionária participou de encontro, promovido pelo deputado Carlos Neder (PT), com entidades ligadas aos direitos humanos.

"Em 2003, um rim estava cotado a US$ 25 mil e um coração em US$ 40 mil. Hoje, esses valores subiram para US$ 45 mil e US$ 75 mil dólares", afirmou Elilda.

Segundo ela, o comércio ilegal de órgãos atende interesses tanto de quem necessita de doações como de universidades e laboratórios de pesquisa. Em sua prática no Brasil, envolveria médicos e hospitais da infra-estrutura de atendimento à saúde.

"Devidamente identificados e apresentados às autoridades, esses crimes vêm sendo tratados com indiferença", alertou Elilda. Por isso, uma das decisões do encontro foi divulgar ocorrências desse tipo, pressionar por sua apuração e alertar a população. "Precisamos fazer um mapeamento da situação no Estado de São Paulo e nos articular com outras instâncias", propôs José Roberto Bellintani, do Instituto São Paulo contra a Violência.

Um dos primeiros passos nesse caminho será dado com a realização de um workshop na próxima quarta-feira, 3/8, organizado por escritórios ligados a secretarias estaduais da Justiça e pelo Comitê Nacional do Tráfico de Seres Humanos. "O comitê foi formado há cerca de um ano e precisa ter sua atuação fortalecida", lembrou Lucila Pizani Gonçalves, assessora do deputado Carlos Neder.

Em Moçambique

A missionária brasileira Maria Elilda dos Santos esteve em Moçambique de 1995 a 2005. Na província de Nampula, no norte do país, tomou contato, em 2003, com o primeiro caso de tentativa de venda de uma criança de oito anos para um casal sul-africano, supostos receptadores de órgãos para comércio.

A partir daí, ela começou a acompanhar as ocorrências na região. "Verificamos que, de junho a novembro de 2003, 52 crianças e adolescentes desapareceram em Nampula", ela relata.

Ela mantém um dossiê com denúncias de casos em vários países. No Brasil, Elilda foi ouvida pela Comissão Parlamentar de Inquérito criada pela Câmara dos Deputados, em 2004, para averiguar o tráfico de órgãos. "A CPI sofreu pressões para retirar de seu relatório final a parte do indiciamento, mas eu afirmo que existem pelo menos 15 médicos apontados nas investigações que continuam atuando e representam um perigo para a população brasileira", disse a missionária.

Elilda relatou casos de pessoas que, atendidas em pronto-socorros, tiveram morte inexplicável, seguida de retirada de órgãos, e de corpos encontrados sem vísceras, sem órgãos e sem pele.

"O tráfico de órgãos é uma espécie de escravidão moderna, a mais bárbara de todos os tempos, porque antes os escravos chegavam ao país de origem com vida, e agora sua entrega é feita em pedaços, embalada em caixas de isopor", apontou Elilda.

alesp