Representantes da Zara negam ter conhecimento sobre exploração de trabalho escravo

Presidente da empresa prestou depoimento à Comissão de Direitos Humanos, que ainda ouviu fiscal do MT
21/09/2011 21:00

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Rita Passos e Leci Brandão <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/09-2011/ComDireitosPessoaHumanaRobDepsRitaLeci.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Mario Geremia e Luiz Alexandre de Faria<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/09-2011/ComDireitosPessoaHumanaRobPadreMarioGeremiaeLuizAlexandredeFaria.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adriano Diogo, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/09-2011/ComDireitosPessoaHumanaRobdepDiogo.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Carlos Bezerra e André Soares<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/09-2011/ComDireitosPessoaHumanaRobdepsCarlosBezerraAndreSoares.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Enrique González<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/09-2011/ComDireitosPessoaHumanaRobEnriqueGonzalez.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Luiz Antonio Machado<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/09-2011/ComDireitosPessoaHumanaRobLuizAntonioMachado.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Olimpio Gomes e Heroilma <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/09-2011/ComDireitosPessoaHumanaRobDepsOlimpioeHeroilma.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Enrique González, Patricia Fischer, Jesus Echevania e deputado Adriano Diogo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/09-2011/ComDireitosPessoaHumanaRobMESA.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Representantes da rede Zara negaram ter conhecimento da exploração de trabalho em condições análogas a da escravidão em oficinas de costura que produzem peças comercializadas em suas lojas. Enrique Huerta González, presidente da Zara Brasil Ltda., e Jesus Echeverria, diretor corporativo, estiveram nesta quarta-feira, 21/9, na Assembleia Legislativa para falar na Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), sobre as investigações feitas pelo Ministério do Trabalho e Emprego que resultaram na autuação da empresa.

A comissão ouviu também o auditor fiscal Luiz Alexandre de Faria, que integra a equipe do Ministério do Trabalho e Emprego responsável pelas autuações nas oficinas de costura paulistas. Segundo Faria, em maio, operações de auditoria feitas em Americana, cidade do polo têxtil e de confecção paulista, flagraram oficinas que exploram mão de obra de imigrantes, sobretudo bolivianos, em condições de trabalho degradantes. O auditor mostrou aos membros da comissão imagens que revelam ambientes de trabalho degradados, sem ventilação, mal iluminados, sem cuidados sanitários, onde trabalhadores produzem em jornadas de 14 a 16 horas diárias e vivem com suas famílias, inclusive crianças. Em geral, são imigrantes indocumentados que se sujeitam a essas condições em razão de sua extrema vulnerabilidade socioeconômica e legal, sendo inclusive submetidos ao cerceamento da liberdade.

O auditor fiscal disse que as oficinas visitadas produziam peças para diversas grifes de renome. Duas delas destinavam mais de 50% da produção para a Zara. Notas técnicas demonstram, segundo o auditor, que a empresa ditava todas as condições em que as peças deveriam ser produzidas: a padronagem, os tecidos, as cores, o estilo, as tendências e os tipos de costura. Foram identificadas 33 oficinas que produziam para a empresa espanhola. Todas elas empregam trabalhadores bolivianos, grande parte sem vínculo formal de trabalho. Uma particularidade ressaltada por Faria nessas oficinas é que quanto mais vendiam para a Zara, mais reduzido se tornava o número de empregados formalizados ao longo do tempo.



Ninguém sabia



Enrique Huerta González alegou que nenhuma pessoa da empresa tinha conhecimento do que acontecia nas oficinas irregulares. Segundo ele, estas foram subcontratadas por um de seus fornecedores, a empresa AHa, que provê 5% do total adquirido pelo grupo Inditex no Brasil. As oficinas irregulares fabricavam, segundo González, um número reduzido de roupas, tendo em vista que a empresa espanhola contrata no país cerca de 50 fornecedores têxteis, que produzem mais de 5 milhões de peças e contratam mais de 7 mil trabalhadores.



As explicações do executivo espanhol não convenceram os parlamentares. Carlos Bezerra (PSDB), que é autor de um pedido de CPI para investigar o trabalho escravo em São Paulo, disse que os executivos espanhóis deveriam saber, pelo menos, qual foi o lucro gerado pelas 5 milhões de peças. "Não lhes causou espanto ter constatado que o significativo aumento dos lucros se deu com base na diminuição do número de trabalhadores formais? Não é possível que alguém da Zara não estivesse atento a isso."



Já o deputado Marco Aurélio (PT) perguntou se as auditorias feitas pela empresas não acusaram nenhuma dessas irregularidades tornadas públicas pelo Ministério do Trabalho. O diretor corporativo Jesus Echeverria disse que deposita grande confiança no sistema de auditoria da empresa e emendou: "trabalhamos para que fatos como esses não aconteçam e lamentamos não tê-los percebido a tempo".



O deputado Adriano Diogo quis saber se a Zara já havia recebido alguma denúncia ou reclamação de algum sindicato, igreja ou organização social. Enrique Huerta González disse categoricamente que não: "Realmente não tinha conhecimento". Sindicalistas que representam os comerciários e trabalhadores do setor de confecção rebateram o presidente da empresa espanhola dizendo que tanto as práticas de exploração do trabalho nas oficinas de costura como no setor de varejo são bem conhecidas.



Medidas



O auditor Luis Alexandre Faria informou que o atendimento às vítimas da exploração do trabalho é até o momento inexistente. Segundo ele, estes receberam apenas R$ 9 mil, a título de indenização de natureza trabalhista, mas não lhes foi prestada nenhuma assistência pela empresa espanhola. Além disso, a suspensão dos contratos com as oficinas investigadas resultou na eliminação de postos de trabalhos, essenciais para a sobrevivência dos trabalhadores afetados.



Como explicou o diretor corporativo Jesus Echeverria, a Zara ofereceu empregos na área logística e comercial, mas somente três trabalhadores aceitaram mudar de atividade. Além dessa, outras medidas tomadas pela empresa foram mencionadas, como, por exemplo, o fortalecimento do sistema de monitoramento no processo de produção dos fornecedores, a implementação de programa de capacitação para fornecedores e manual de boas práticas para a indústria, a criação de sistema de pré-avaliação dos fornecedores, acordo com a Associação Nacional de Migrantes Estrangeiros para ajudar na tarefa de regularizar a situação de trabalhadores bolivianos e de outras nacionalidades e a criação de um disque-denúncia para abusos cometidos na cadeia produtiva da Zara.



"O que foi feito é muito pouco. Todas as explicações feitas aqui são na direção do futuro, de pactos a serem formados. Mas, e estes trabalhadores. O que será deles? Como serão indenizados?", questionou Carlos Bezerra. O deputado sugeriu que o lucro auferido com a superexploração do trabalho seja revertido para os trabalhadores prejudicados.



A sessão foi encerrada com um desafio para a Zara. O auditor Luiz Alexandre Faria propôs ao grupo espanhol que utilize sua força econômica para dar início a um plano piloto para capacitar as 33 oficinas de costura que contrata em São Paulo, tornado-as fornecedoras diretas da rede, sem intermediação de outras empresas. Segundo Faria, essa seria uma forma de garantir emprego, renda e direitos trabalhistas e de fazer a reparação das más práticas de exploração do trabalho observadas na sua cadeia produtiva.

alesp