Opinião - O Noroeste Paulista prostra-se à cana-de-açúcar


29/03/2011 17:20

Compartilhar:


Nas últimas quatro décadas, o Brasil tornou-se o terceiro maior exportador mundial de produtos do agronegócio e referência notável de competitividade na área tropical do planeta, com uma pauta cada vez mais diversificada, gerada por sistemas eficientes de produção de alimentos, bebidas, fibras, rações e agroenergia. Um setor que exporta hoje 76 bilhões de dólares e gera 16 milhões de empregos apenas no campo, interioriza o desenvolvimento e incorpora alta tecnologia. Mas nem tudo são flores.

O Noroeste Paulista, principalmente ao redor de São José do Rio Preto, está praticamente tomado pelo cultivo da cana-de-açúcar. Não é necessário muito esforço para perceber isso. No ano passado, o ministro da Agricultura da Índia, Sharad Pawar, esteve na região e anunciou um investimento milionário. As usinas de Brejo Alegre e Promissão serão beneficiadas com R$ 226 milhões. Com isso, a área de cana plantada e a capacidade de moagem das empresas poderão subir em até 20%. Número considerável, interessante destacar.

Apesar de um aparente crescimento econômico, algo que ao primeiro contato enche os olhos, existe uma preocupação patente. Além de acabar com inúmeros empregos, o avanço da cana também pode comprometer a agricultura brasileira em geral. Grandes áreas antes destinadas ao plantio de grãos e hortifrútis estão sendo tomadas por esta cultura e pelo lucrativo mercado do etanol, produto este que hoje está com preço abusivo em todo o Estado.

Apenas para constar, o etanol já ultrapassa a casa dos R$ 2 por litro em grande parte dos postos paulistas. E não são poucos os estabelecimentos que praticam um preço acima do valor da gasolina, algo que não tem sentido tendo em vista a quantidade de usinas instaladas na região noroeste do Estado.

O principal argumento para a alta dos preços é que a venda do açúcar no mercado internacional está mais atraente neste período de entressafra, em que há pouca oferta do produto, porém com grande procura. O aumento do número dos carros flex em circulação no país também contribui para que o consumo inflacione.

Com isso tudo acontecendo, a agricultura familiar é, sem dúvida alguma, a maior atingida. De acordo com uma pesquisa publicada na revista Dinheiro Rural, milhares de pequenos produtores rurais estão desempregados e outros tantos entraram na mira dessa estatística. Gente essa que nasceu e cresceu lidando com a terra, mas que agora foi substituída por modernas máquinas agrícolas, bem mais eficientes e velozes, e em alguns casos mais em conta.

Além do mais, as terras que outrora serviram para o plantio de cana também terão de ser readequadas para receber outras culturas. Mais equipamentos, implementos e insumos agrícolas deverão ser adquiridos com mais intensidade para esta finalidade, impactando severamente no custo/benefício.

Das duas, uma: ou é criada uma política pública urgente com mecanismos de limitação ao plantio da cana ou veremos a agricultura familiar do Noroeste Paulista sucumbir diante do iminente êxodo de agricultores.

A ausência de incentivos e de condições mínimas para que permaneçam no campo, que sustentem suas famílias e produzam mais será a grande vilã. No final desta história, quem vai perder seremos todos nós.

A agricultura e aquicultura familiar têm meu apoio irrestrito. Como deputado estadual, farei frente a estas questões tão fundamentais à sobrevivência humana e à saúde econômica da nossa região. Todos juntos podemos ainda mais.



*Sebastião Santos é deputado estadual pelo PRB

alesp