José Alencar - um político exemplar


29/03/2011 19:30

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José Alencar e Lula <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2011/jose-alencar e lula.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> José de Alencar, ex-vice-presidente da República<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2011/jose-alencar 2.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O ex-vice-presidente da República José de Alencar faleceu nesta terça-feira, 29/3, às 14h41, no Hospital Sírio-Libanês, vitimado por uma parada cardíaca em decorrência de falência múltipla dos órgãos.

José Alencar Gomes da Silva nasceu na cidade de Muriaé, Minas Gerais, no dia 17 de outubro de 1931. Era filho de Antônio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da Silva e começou a trabalhar com sete anos de idade, na loja do pai. Tinha 14 irmãos e irmãs. Aos 15 anos, em 1946, foi trabalhar como balconista na loja de tecidos "A Sedutora". Em maio de 1948, mudou-se para Caratinga, para trabalhar na "Casa Bonfim". Notabilizou-se como grande vendedor. Ainda na infância entrou para o movimento escotista.

Aos 18 anos, iniciou seu próprio negócio com a ajuda do irmão Geraldo Gomes da Silva. Em 31 de março de 1950, abriu sua primeira empresa, "A Queimadeira", em Caratinga. Vendia diversos artigos como chapéus, calçados, tecidos, guarda-chuvas, sombrinhas etc. Em 1953, vendeu a loja e mudou de ramo.

Iniciou seu segundo negócio na área de cereais por atacado, ainda em Caratinga. Em seguida participou de sociedade com José Carlos de Oliveira, Wantuil Teixeira de Paula e seu irmão Antônio Gomes da Silva Filho, na "Fábrica de Macarrão Santa Cruz".

No final de 1959, seu irmão Geraldo faleceu e Alencar assumiu os negócios deixados por ele na União dos Cometas. Em homenagem ao irmão, a razão social foi alterada para Geraldo Gomes da Silva Tecidos S.A. Em 1963, constituiu a Companhia Industrial de Roupas União dos Cometas, mais tarde denominada Wembley Roupas S.A. Em 1967, em parceria com o empresário e deputado Luiz de Paula Ferreira, fundou em Montes Claros (MG) a Companhia de Tecidos Norte de Minas - Coteminas, tornando-se um dos maiores empresários de Minas Gerais. Em 1975, inaugurou a mais moderna fábrica de fiação e tecidos que o país já conheceu. hoje, a Coteminas tem 11 unidades que fabricam e distribuem fios, tecidos, malhas, camisetas, meias, toalhas de banho e de rosto, roupões e lençóis para o mercado interno, para os Estados Unidos, Europa e Mercosul.

Na vida política, foi presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria. Candidatou-se às eleições para o governo de Minas Gerais, em 1994, ficando em terceira colocação atrás de Hélio Costa (PMDB) e Eduardo Azeredo (PSDB), que acabou sendo eleito no segundo turno. Em 1998. pelo PMDB, disputou uma vaga no Senado Federal, elegendo-se com 2.902.158 votos. No Senado, foi presidente da Comissão Permanente de Serviço de Infraestrutura, membro da Comissão Permanente de Assuntos Econômicos e membro da Comissão Permanente de Assuntos Sociais.

Para as eleições de 2002, foi convidado para formar a chapa encabeçada por Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, para a vice-presidência da República, sagrando-se vencedores. Tomaram posse no governo do Brasil em 1º de janeiro de 2003.

Foi, ao início, um vice-presidente polêmico, tendo sido uma voz discordante dentro do governo contra a política econômica defendida pelo então ministro da Fazenda Antonio Palocci, que mantinha os juros altos na tentativa de conter a inflação e manter a economia sob controle.

Em 8 de novembro de 2004, a convite do presidente Lula, passou a acumular a vice-presidência com o cargo de ministro da Defesa, em substituição a José Viegas Filho. Por diversas oportunidades, demonstrou seu desconforto quanto à sua permanência em um cargo tão distinto de seus conhecimentos empresariais, mas a pedido do presidente Lula, exerceu a função até 31 de março de 2006, quando Waldyr Pires assumiu esse ministério. Nesta ocasião, demitiu-se do cargo para cumprir as determinações legais e poder participar das eleições de 2006. A chapa Lula-José de Alencar venceu a reeleição no primeiro turno, assumindo o segundo mandato em 1º de janeiro de 2007.

José de Alencar, foi considerado pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009.



Saúde debilitada



José de Alencar possuia um delicado histórico médico. A partir do ano 2000, enfrentou um câncer na região abdominal, tendo passado por mais de 15 cirurgias - uma delas com duração superior a 20 horas. Em sua longa batalha contra o câncer, submeteu-se a um tratamento experimental nos Estados Unidos, com resultado inconclusivo. Em 2010, após repetidas internações e intervenções médicas, desistiu de se candidatar ao Senado.

No final de seu mandato como vice-presidente da República, em 2010, apresentou complexo estado de saúde, sendo até mesmo necessário o interrompimento do tratamento contra o câncer. No dia 22 de dezembro de 2010, foi submetido a uma cirurgia para tentar conter uma hemorragia no abdômen. No dia seguinte, Lula e a então presidente eleita Dilma Rousseff visitaram-no no hospital Sírio-Libanês em São Paulo. Com a saúde abalada, voltou a ser internado, não podendo participar das solenidades de posse da presidenta Dilma, realizadas em 1º de janeiro último.

Em 25 de janeiro de 2011, recebeu a Medalha "25 de Janeiro" da prefeitura de São Paulo. Ao entregar a medalha ao ex-vice-presidente, a presidente Dilma Rousseff ressaltou: "Eu tenho certeza de que cada brasileira e brasileiro deste imenso país gostaria de estar agora em São Paulo " esta cidade-síntese do espírito empreendedor do país, que completa hoje 457 anos de existência " para entregar conosco a Medalha "25 de Janeiro" ao nosso eterno vice-presidente da República, José Alencar". Já, Alencar disse: "Não posso me queixar. A situação está tão boa que não tem como melhorar, todo mundo está rezando por mim". Apesar de estar em uma cadeira de rodas, ele ainda brincou com o público dizendo: "Aprendi com Lula que os discursos devem ser como um vestido de mulher: nem tão curtos que possam escandalizar, nem tão longos que possam entristecer".

Agravado seu estado de saúde, voltou a ser internado em 28 de março de 2011, no Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista, vindo a falecer.

Em sua homenagem foi decretado luto oficial por sete dias. Seu corpo será velado no Palacio do Planalto, em Brasília, e seguirá depois para Belo Horizonte, onde serão prestadas as últimas homenagens pela população mineira, no Palácio da Liberdade.



*Antônio Sérgio Ribeiro é advogado e pesquisador. Diretor do Departamento de Documentação e Informação da Alesp.

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