DA REDAÇÃO Morreu na noite desta quinta-feira, 26/9, no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, aos 66 anos, de câncer no pulmão, o médico João Yunes, diretor e professor-titular da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Além de diretor da faculdade, João Yunes foi secretário estadual de Saúde no governo Montoro, entre 1983 e 1987, e secretário nacional de Políticas de Saúde, no governo Fernando Henrique Cardoso, entre 1998 e 2000.Formado em pediatria, Yunes começou a carreira em epidemiologia e atuou em saúde materna e infantil e, mais tarde, em administração de saúde. Ultimamente João Yunes era representante do Brasil no Conselho Executivo da Organização Mundial de Saúde (OMS).Com 140 artigos publicados em periódicos científicos e livros nacionais e estrangeiros, Yunes era também médico sanitarista e administrador hospitalar, com mestrado na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e doutorado e livre docência pela USP. Paulistano, começou a dar aulas em 1966 e foi responsável pela elaboração de planos de saúde de várias cidades. Em sua carreira, ocupou cargos administrativos importantes, tanto na universidade e no Ministério da Saúde, quanto no Instituto de Assistência Médica do Servidor Público Estadual (Iamspe) e na Organização Panamericana de Saúde (Opas).Em sua homenagem, a 26ª Conferência Sanitária Panamericana, que está sendo realizada em Washington, foi interrompida no dia de sua morte, com um minuto de silêncio. O corpo do professor foi enterrado nesta sexta-feira, 27/9, no cemitério do Morumbi. Ele deixa a mulher, Oneida, e os filhos Marcel e Cristiane. Vigilância epidemiológica da violênciaUltimamente, João Yunes vinha defendendo que a violência fosse tratada como uma epidemia, com combate aos focos, e propôs a adoção de vigilância epidemiológica da violência.Para ele, a existência de uma medição precisa das mortes violentas, num trabalho conjunto de diversos setores do governo facilitaria a identificação das causas da violência e a adoção de programas para a sua redução. Para João Yunes esse controle tornou-se necessário pelo fato de a violência ter atingido níveis considerados epidêmicos.A implantação desse sistema no Estado de São Paulo vem sendo discutida pela Secretaria de Segurança Pública, Instituto Médico Legal (IML) e pelos profissionais do setor de segurança pública e de saúde. "O que se ganhou na expectativa de vida média da população, controlando a mortalidade infantil e as doenças parasitárias, está se perdendo com a violência, sobrecarregando o sistema de saúde", chegou a dizer João Yunes, em entrevista no ano passado. Para ele, do mesmo modo que os atendimentos hospitalares e as mortes provocadas por algumas doenças infecto-contagiosas, os casos de violência deveriam ser obrigatoriamente notificados às autoridades. As comunicações seriam feitas pelos hospitais e centros de saúde, pelo Instituto Médico Legal (IML) e pelas delegacias de polícia. "Adotado o programa, o paciente que chegar no hospital será submetido a exame de sangue para verificar qual o fator de sua internação, quantificando o índice de violência", pretendia Yunes.A adoção da vigilância epidemiológica da violência foi proposta por especialistas das áreas de saúde e segurança pública, no documento "Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências", divulgado em maio de 2001. Segundo Yunes, a implantação do sistema no Estado de São Paulo dependeria de entendimento entre as áreas jurídica e de saúde sobre os critérios de medição a serem adotados. "O problema não é o custo financeiro, mas definir a violência como um problema de saúde pública e uma questão social."A violência, além de aumentar em 20% o gasto com emergências no sistema de saúde, tem impacto econômico e social, defendia João Yunes. "A vigilância servirá para investigar os fatores que facilitam seu crescimento, como o alcoolismo, o tráfico de drogas e o uso de armas de fogo, responsável por 80% dos óbitos com causas violentas." Para o professor, o aumento dos índices de violência criou uma cultura que a banalizou no âmbito da sociedade. "A brutalidade dos crimes passou a ser incorporada como um fenômeno natural." Para Yunes, as soluções estão baseadas no fim da impunidade e no combate à pobreza. "Ao estabelecer uma melhor distribuição de renda, a exclusão social passa a ser menor, o que contribui para a garantia da segurança da população."