Maria Inês Lukacs capta a essência da paisagem e retira da realidade a sua alma

Emanuel von Lauenstein Massarani
07/11/2002 18:14

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"Nem mesmo a arte pela arte é um exercício... pois é o efeito do amor." Esse pensamento do grande filósofo italiano Benedetto Groce nos parece se adaptar perfeitamente como introdução a uma leitura da obra de Maria Inês Lukacs.

Movida por um grande amor pela natureza que ela decanta por meio de tons os mais variados e cada vez mais apaixonantes, sua obra se destaca em um contínuo, vibrante e comovido elogio ao seu tema de preferência.

Fascinada, a pintora se submete a essa atração de forma sutil, seja quando retrata floresta ou jardins, planaltos ou colinas. Nos detalhes, prefere ângulos os mais recônditos, as passagens mais singulares, as paisagens mais simples, as árvores mais floridas, por serem mais ricas de sugestão e de encanto. Para esse fim, ela adota uma técnica figurativa particular, imediata, fulgurante, valendo-se de uma pincelada leve, aguada, rápida e ao mesmo tempo segura, usando a dificílima arte da aquarela. O efeito final é de uma força expressiva verdadeiramente notável.

Irradiando luz e liricamente românticas, suas paisagens não cedem a nenhum maneirismo, pois se constituem de uma viva realidade. A artista não é a mera fotógrafa do real, mas a ilustradora que exalta e idealiza a "beleza eterna". Retrata o verde que a circunda, para transfigurá-lo pictoricamente, restituindo-lhe uma dimensão universal enquanto participante do sentido pânico da natureza.

Sua obra transmite uma feliz capacidade de síntese entre forma e conteúdo, que constitui a base de sua arte. Face a esse dom, ela consegue captar a essência de cada paisagem. Maria Inês consegue fixar sobre o papel os traços mais significativos de cada paisagem, retirando da realidade a "alma das coisas". É um processo que exige da artista uma profunda, longa e rica experiência pictórica e, sobretudo, gosto e sensibilidade estética.

Podemos estabelecer um paralelo entre sua arte e aquela do alquimista que, através de filtros e poções, consegue ao final destilar as essências. As aquarelas de Maria Inês Lukacs são preciosas e refinadas, como se fossem executadas em matéria de grande valor. Assim é Paisagem Brasileira, aquarela doada ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho, onde a artista se serve de um material já preexistente, o da natureza, e de modo especial da paisagem, criando assim uma verdadeira jóia, na qual a cor e a forma se harmonizam perfeitamente.



A Artista

Maria Inês Lukacs nasceu em Bauru, em 1947. Estudou Belas Artes na Casa São Vicente de Paula (1969) e formou-se na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Oswaldo Cruz (1987). Desde 1991, é membro do Núcleo de Aquarelistas da Faculdade de Artes Santa Marcelina, São Paulo, e a partir de 1994, ocupa o cargo de secretária internacional do referido grupo. Obteve pós-graduação em Artes Plásticas - pintura em aquarela - na Faculdade Santa Marcelina. Participou do Workshop em Aquarela com Dom Kingman, em Nova Iorque (1998). É associada da Sociedade Americana de Aquarelista - AWS (1998). Suas obras encontram-se em coleções oficiais e particulares, notadamente no acervo da Pinacoteca Municipal de São Paulo e do Centro Cultural de São Paulo, bem como da UNIFIEO.

Desde 1967, participou de numerosas exposições coletivas, em São Paulo, destacando-se no exterior: Art Gallery - Hartford, Connecticut, Estados Unidos (1990); Museo Nacional de La Acuarela Coyoacán - Cidade do México (1996); Galeria Pannonia, Sopron, Hungria (1997); Scuola Internazionale di Grafica di Veneza, Itália; e Galeria Cândido Portinari, Embaixada do Brasil, Roma, Itália (2000); Galeria do Union´s Club de Frankfurt e na Sparkässe de Giessen, Alemanha (2000); IBRIT, Milão, Itália (2001).

Das exposições individuais, iniciadas em 1982 na Galeria de Arte da UCBEU, São Paulo, podemos ressaltar, também, sua participação no Centro Cultural São Paulo (1987); Asian Watercolours´97, Cingapura - Convidada especial representando o Brasil (1997); "Árvores e Paisagens Brasileiras" - Haus Rosenbrunn, Frankfurt, Alemanha (2000); "Matas e Paisagens Brasileiras" - UCBEU, São Paulo (2000); "The Amazon - a link between Brazil and Guyana" - Georgtown, Guiana (2002); e Anfavea - Salão do Automóvel - São Paulo (2002).

Participou ainda de vários salões de arte, em São Paulo, no interior, na Cidade do México, tendo recebido vários prêmios e medalhas de ouro. Foi curadora da Exposição "Aquarela 2000 - Às Portas do Milênio" - Museu de Arte Contemporânea de Americana (2000); da Exposição "Images of Malaysia" - Espaço Cultural Eugenie Villien - São Paulo (2001) e "Aquarela e Gravuras" do Núcleo de Aquarelistas da FASM, Associação Comercial de São Paulo (2002).

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