O jornalista Vladimir Herzog, assassinado na prisão por agentes de repressão do Regime Militar, em 25 de outubro de 1975, foi homenageado pela Assembléia Legislativa com uma sessão solene e com a escolha de seu nome para a sala de imprensa da Casa, sede do Comitê de Imprensa da Associação dos Cronistas Políticos de São Paulo na Assembléia Legislativa.A homenagem foi uma iniciativa do deputado Arnaldo Jardim (líder do PPS) e teve o apoio da Mesa Diretora do Legislativo.Com presenças representativas de personalidades que se destacaram na luta pela redemocratização do país e pela liberdade de imprensa, a sessão solene foi marcada pela exaltação do símbolo de resistência que o jornalista morto se tornou.Ao abrir os pronunciamentos, o deputado Renato Simões, que falou pela bancada do PT, ressaltou que "o sangue derramado por Vlado, como era conhecido, e por tantos companheiros marcaram a resistência democrática e foram fundamentais para o declínio da ditadura". Simões lembrou que a história da Assembléia Legislativa é marcada por momentos de omissão na defesa dos direitos humanos, tendo constituído sua comissão permanente sobre o tema apenas em 1995.Palmiro Menuchi, ex-deputado e dirigente do Centro do Professorado Paulista (CPP), ressaltou o espírito democrático de Herzog, que era "muito forte, pois brotou de dentro".Representando o governador do Estado, o secretário de Cultura, João Batista de Andrade, destacou que a Assembléia, com as homenagens, reforça a necessidade de se preservar a memória de nossa história política. "É necessário que se saiba por que Vlado foi morto, e que ele acreditava que a democracia podia ser construída sem o uso da força, mas através da mobilização ampla da sociedade. Ele morreu por isso", afirmou Andrade.Ao lembrar o companheiro morto, Audálio Dantas, presidente do Sindicato dos Jornalistas na época da morte de Herzog e atual vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa, fez referência à importância dessas homenagens e criticou a ausência de parlamentares e ocupantes de cargos no governo que viveram aqueles momentos e sabem da importância de Herzog para a garantia da democracia.Pela bancada do PSDB e pela Liderança do Governo falou o deputado Milton Flávio. O parlamentar lembrou os períodos em que fez parte do movimento estudantil e da importância da participação dos estudantes nos dias de hoje nas discussões que ocorrem no Parlamento paulista. Lamentou a falta de memória do povo e afirmou que é necessário que exemplos como o de Vlado não sejam esquecidos.Frente ecumênica contra a repressãoUm dos nomes de maior destaque na luta pela redemocratização do país, o rabino Henry Sobel afirmou que a morte do jornalista catalisou uma pressão da sociedade contra a tortura e serviu para que fosse criada uma frente ecumênica contra a repressão e a tirania. Sobel afirmou que é necessário que essas lembranças reforcem dentro de cada um o compromisso com o inconformismo diante da opressão. "O silêncio é o pior dos pecados, ele nunca beneficia a vítima, sempre o opressor", afirmou.O presidente do Sindicato dos Jornalistas, Frederico Barbosa Ghedini, frisou que a morte de Herzog é um símbolo de resistência, que deve servir de rumo para toda a sociedade e principalmente para os jornalistas que têm a missão de resistir contra qualquer ameaça à liberdade.Os deputados Edson Aparecido (PSDB); Fausto Figueira (PT), 1º secretário da Assembléia; e Jorge Caruso (PMDB), 1º vice-presidente, também estiveram presentes às homenagens.Comitê de imprensaComo parte das homenagens à memória de Herzog, a sala do Comitê de Imprensa da Alesp recebeu o nome do jornalista. O presidente da Associação dos Cronistas Políticos de São Paulo, José Afonso Primo, afirmou que estava orgulhoso, "pois ter o nome de Herzog gravado na sala vai contribuir para que lembremos sempre daqueles momentos que marcaram o início da reação de amplos setores ao regime militar". Primo, após lembrar o sepultamento do companheiro morto, destacou que "daqueles dias em diante, a sociedade civil não mais se calou, apesar das ameaças e da repressão que se seguiram". Primo disse que "cabe a nós a tarefa de não esquecê-lo. E este Comitê de Imprensa contribuíra com sua parte".O presidente da Assembléia, deputado Rodrigo Garcia (PFL), afirmou que dar o nome à sala do comitê de imprensa da Assembléia de Vladimir Herzog é reafirmar a importância da luta pela liberdade e fazer uma homenagem a este jornalista que foi um dos responsáveis por restabelecer a democracia no Brasil. "Apesar de ser um país jovem e de ter muitas injustiças, o Brasil tem uma democracia consolidada."Autor do requerimento para realização das homenagens, o deputado Arnaldo Jardim (PPS) ressaltou que o jornalista deve ser lembrado pelo seu trabalho como militante, como pessoa comprometida com as causas sociais. "E sua memória transcende a dimensão individual, pois ele protagonizou um momento que marcou a tomada de consciência política em nosso país, quando a disposição para agir superou o temor e o medo. Relembrá-lo após trinta anos significa reavivar os compromissos com a liberdade e consolidar uma democracia. Democracia que significa, além da liberdade de expressão, a diminuição das desigualdades e diferenças. Vlado está vivo na memória e nos compromisso que foram reafirmados nestas homenagens", afirmou.VladoNascido na Iugoslávia em 27 de junho de 1937, Vladimir Herzog veio para o Brasil com a família ao final da II Guerra e se fixou no bairro da Mooca. Em 1959, passou no vestibular para o curso de filosofia da USP e assumiu emprego de jornalista no jornal O Estado de S.Paulo. Em 1965, trabalhou na BBC de Londres. Em 1968, voltou ao Brasil e passou a trabalhar em produção publicitária. Só em 1970, voltaria ao jornalismo na revista Visão. Em 1975, assumiu a direção de Jornalismo da TV Cultura. No dia 25 de outubro do mesmo ano atendeu uma convocação do II Exército e compareceu para depor no DOI-CODI. Poucas horas depois, após ser torturado, morreu aos 38 anos de idade. Herzog, ao longo de sua vida, segundo relato de seus colegas, sempre defendeu a democracia e a liberdade de expressão.