DA REDAÇÃO Os negros na formação do povo brasileiro foi o tema da mesa de debates que encerrou a programação do 3º Fórum Nacional da Identidade Brasileira, atividade que fez parte da Semana Orlando Villas Boas, realizada pelo Instituto do Legislativo Paulista, Conselho Brasileiro de Cultura e Civilização e pelo Centro de Estudos da Conjuntura Sócio-Político Cultural "Orlando Villas Boas". Ao longo da semana, foram abordados os três componentes matrizes da formação social brasileira: índios, brancos e negros.Participaram da mesa desta sexta-feira, 25/4, os deputados estaduais Nivaldo Santana (PCdoB) e Sebastião Arcanjo (PT), o representante do Grupo de Negros e Políticas Públicas da Assembléia Legislativa, José Reinaldo Araldo, e os professores Carlos Jacchieri e José Pereira de Queiroz Neto.Acerto de contasOs palestrantes sublinharam a necessidade de um acerto de contas com história do país que recupere a contribuição dos negros para a formação da identidade nacional. José Reinaldo referiu-se à biografia de André Rebouças, sua atuação no movimento abolicionista e em defesa da democracia agrária no Brasil. Registrou ainda a ausência desta personalidade da comunidade negra nos currículos escolares, apontando a necessidade de uma revisão da abordagem do ensino sobre a história dos negros no Brasil.Enfoque semelhante foi dado pelo deputado Sebastião Arcanjo, que entende que a questão de uma identidade nacional única é uma formulação problemática. Seria mais apropriado se falar em múltiplas identidades, numa abordagem que perpasse tanto os aspectos étnicos como os de territorialidade. Para Tiãozinho, a desconstrução dos mitos, entre os quais o da democracia racial, é essencial para recolocar as questões referentes ao trabalho e aos aspectos discriminatórios da estrutura social brasileira.Não se trata, segundo Tiãozinho, de optar por copiar modelos externos ou de inventar coisas novas. Para o deputado, esse não é o dilema real para a afirmação da representação e do reconhecimento dos negros. Há referências de políticas afirmativas dos afrodescendentes, bem como do movimento negro em outros países, que não devem ser desprezadas. Políticas de reparaçãoA questão das cotas para negros nas universidades é um dos caminhos incluídos no leque de políticas de reparação voltadas para a comunidade. Tiãozinho afirma que esta é uma questão tática para a ampliação das conquistas de direitos para a população negra no Brasil. Participantes do movimento presentes no auditório Teotônio Vilela insistiram em discutir esse tópico, demonstrando ser essa a principal questão deste momento. Inclusive porque a própria avaliação da contribuição dos negros para a formação do povo brasileiro requer ainda uma abordagem feita pelos próprios negros. A despeito de a construção teórica sobre a formação social brasileira ter problematizado, e por vezes rechaçado, a tese da democracia racial, toda a teorização foi produzida por acadêmicos brancos. Essa rusga afeta inclusive as correntes marxistas. "A USP deve deixar de ser branca, e nós vamos conseguir isso", disse Rafael, militante do movimento negro.No entanto, a proposta das cotas está longe de ter a unanimidade. Para José Pereira de Queiroz Neto, as cotas não garantem a democratização do ensino público superior, nem tampouco a reversão da estrutura social discriminatória da sociedade brasileira. O professor defende a tese de que a assimilação da população negra e dos pobres em geral pelo sistema de ensino, e seus efeitos democratizantes somente se dará por meio da ampliação das universidades públicas e do número de vagas. "Apenas por esse meio teremos um ensino público superior de massa", disse ele.