A juventude excluída

OPINIÃO - Arnaldo Jardim*
08/11/2002 18:09

Compartilhar:


Algo muito errado está ocorrendo no Brasil. A juventude, que deveria ser uma fase de sonho, tornou-se a fase do pesadelo. Ser jovem transformou-se num fardo muito pesado para os que não têm perspectiva de um futuro melhor nem apoio, seja da família ou de instituições, para encontrar o seu caminho.

Chegamos ao absurdo de encurralar nossa juventude no desespero - e os fatos são alarmantes. Segundo pesquisa do Centro Latino-Americano de Violência e Saúde (Claves), de 1979 a 1998, o suicídio entre os jovens de 15 a 24 anos cresceu 42,8%, de 3,5 por 100 mil habitantes, para 5 por 100 mil habitantes. No mesmo período, o aumento de suicídios para o total da população foi de 27,3%, de acordo com matéria publicada recentemente pela Folha de São Paulo.

Os pesquisadores afirmam que as principais causas do suicídio entre os jovens são depressão, doenças psiquiátricas, disposição hereditária, conflitos familiares, dificuldades de relacionamento, uso de drogas ou álcool, além dos sintomas de exclusão social.

O perfil do jovem que atenta contra a vida passa pelo sexo - são 2,7 homens para uma mulher - e pelo estado civil - 80% dos suicidas são solteiros. No entanto, o que mais chama a atenção é o nível de escolaridade: 49% das vítimas tinham estudado até o 4º ano do primeiro grau. Entre os 18 e 24 anos, só 3,5% cursavam uma universidade.

Entre os jovens brasileiros, o suicídio tornou-se apenas outra mazela, não recebendo, portanto, maior atenção da saúde pública. Afinal, é uma faixa etária marcada por um problema ainda mais contundente - o assassinato.

Se o Brasil não se destaca pelo suicídio de jovens - encontra-se em 51º lugar, muito atrás da Federação Russa, a primeira colocada pelas contas da Unesco -, ocupa a liderança no triste ranking mundial de mortes violentas. As 116.778 vítimas de morte não natural no País, em 1999, superam os patamares de países em pé de guerra ou com conflitos civis, como Colômbia, Israel e Irlanda do Norte. Desse total, 51,4% foram assassinados.

Em 20 anos, entre 1980 e 2000, o aumento dos homicídios deveu-se ao crescimento do assassinato de jovens, segundo o livro "Mapa da Violência III: Os Jovens do Brasil", do sociólogo Jacobo Waiselfisz, lançado este ano pelo Ministério da Justiça, Unesco e Instituto Ayrton Senna. Nada menos que 39,2% das mortes violentas entre jovens são causadas por homicídio, seguidas por acidentes de trânsito (14,2%) e suicídio (3%). Em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, os assassinatos representam mais de 50% da morte juvenil, quando para o total da população brasileira o assassinato é a causa mortis de 4,7%.

A violência contra o jovem é mais profunda do que os números mostram. Mais do que armas de fogo e comprimidos, o que vem abalando a juventude brasileira é a falta de perspectiva e a indiferença geral. A sociedade aceitou a violência como parte do dia-a-dia, que se transformou em fato banal, e tem se eximido de seu papel na criação de condições para que os jovens possam se desenvolver fisicamente, fornecendo alimentação, saúde, educação e orientação. Sem perspectiva, não há esperança. E sem esperança não há futuro.

*Arnaldo Jardim é deputado estadual, engenheiro civil, relator do Fórum SP Século XXI e presidente estadual do PPS.

alesp