É preciso construir uma agenda mínima de projetos para a mulher, diz deputada

Entrevista: Deputada Maria Lúcia Prandi
04/03/2004 19:43

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DA REDAÇÃO

Educadora, iniciou sua militância no Sindicato dos Professores, a APEOESP, lutando em defesa do ensino público de qualidade. Disposta a uma ação mais ampla, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores em 1983 e foi presidente do Diretório Municipal de Santos e coordenadora da Macrorregião da Baixada Santista. Em 1989, assumiu o cargo de secretária de Educação de Santos, a convite da ex-prefeita Telma de Souza, oportunidade em que foi desenvolvido um programa que tornou a rede municipal de Santos uma referência nacional de qualidade.

Vereadora, em 1992, presidiu a Câmara Municipal de Santos, tornando-se a primeira mulher (e única até o momento) a ocupar o cargo. Atualmente, exerce seu terceiro mandato como deputada estadual.

Maria Lúcia Prandi tem como uma de suas prioridades a luta pela ampliação das políticas públicas para a mulher. Entre outras ações, criou e coordenou a Frente Regional de Enfrentamento da Violência contra a Mulher, com âmbito de atuação na Baixada Santista.

Outra tarefa importante é a de organizar as mulheres, abrindo espaços de atuação e de conscientização. A atuação da mulher na vida pública tem trazido significativa contribuição para a sociedade, influenciando a formulação e a implementação de políticas mais justas, no mundo do trabalho, na luta pelo acesso à saúde, educação e no combate à discriminação e à violência.

É um futuro promissor, mas Prandi faz questão de destacar que não se faz política apenas em cargos públicos. Fazemos política em casa, na escola, no trabalho e, acima de tudo, como mães e educadoras, não reproduzindo o machismo e preparando nossas crianças e jovens para combater os preconceitos e a discriminação. A seguir, a entrevista concedida com exclusividade pela parlamentar:

Diário da Assembléia: Qual sua perspectiva em relação à formação de um grupo de mulheres deputadas? E quanto à Semana da Mulher na Assembléia Legislativa?

Deputada Maria Lúcia Prandi: Tenho a satisfação de dizer que já estamos nos organizando nesse sentido. No último dia 1º, pela primeira vez a Bancada Feminina da Assembléia foi recebida pelo governador, durante duas horas. A audiência foi marcada como parte das atividades alusivas ao 8 de Março, Dia Internacional da Mulher. Foi bastante positivo, pois pudemos apresentar diversas reivindicações, tendo havido, por parte do governador, o compromisso de encaminhar as demandas. No âmbito do parlamento, também estamos tendo ações conjuntas. A nossa pedido, foi agendada uma sessão solene em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. Também estamos reivindicando, em conjunto, que a presidência da Casa, na Semana da Mulher, dê prioridade às proposituras com enfoque em questões femininas.

Essa união, certamente, é bastante positiva, pois nos permitirá, nos próximos anos, organizar uma Semana da Mulher mais ampla e com maior participação popular. A formação de um grupo de mulheres deputadas fortalecerá nossas ações e contribuirá para a construção de uma agenda mínima de projetos que caminhem ao encontro das demandas desse importante segmento.

A Semana da Mulher na Assembléia deve se constituir num momento especial para dar visibilidade às ações desenvolvidas durante o ano.

D.A.: Em sua opinião, o que pode ser feito para aumentar a representação feminina nas casas legislativas?

M.L.P.: A IV Conferência Mundial sobre a Mulher (Beijing/China) destacou a desigualdade no poder e nas tomadas de decisões como forte obstáculo à conquista de igualdade entre os sexos. Acho bastante oportuno que se conheça e divulgue propostas contidas na plataforma de ação que foi definida, entre as quais destaco a necessidade de se oferecer educação e capacitação que promovam a participação da mulher na tomada de decisões.

A lei das cotas, que fixa número mínimo de candidatas por legenda, faz parte das ações afirmativas. A lei, por si só, não garante, mas é um caminho a percorrer, até que não se precise mais da reserva de cotas.O que garante é a luta das mulheres, exigindo o seu espaço.

D.A.: Qual o grau de avanço que o país vem obtendo nos direitos femininos em relação a outros países? Falta muito a ser feito?

M.L.P.: Existe uma enorme diferença entre os avanços nos direitos femininos ocorridos nas diversas partes do mundo. Em países mais avançados, foram conquistados direitos que provocaram mudanças significativas na vida das mulheres. Já em outras regiões, como na Índia, em vários países africanos e no Oriente Médio, a mulher é considerada, ainda hoje, um ser inferior.

No Brasil, as mulheres provocaram, no último século, com sua luta corajosa, importantes mudanças na sociedade, principalmente no mercado de trabalho, no acesso à educação, no espaço doméstico. No entanto, estas mudanças beneficiam um percentual muito aquém da nossa representatividade. Esse percentual é ainda menor em relação à mulher negra. Por isso, além de avançarmos em nossas conquistas, é primordial adotarmos medidas compensatórias, que garantam a todas as mulheres o acesso aos direitos conquistados.

D.A.: A condição feminina está ligada à condição sócio-econômica? Em que medida?

M.L.P.: As políticas neoliberais postas em prática nos últimos governos provocaram o empobrecimento da população, prejudicando de maneira mais cruel os segmentos historicamente discriminados e por isso mais vulneráveis, como é o caso das mulheres e dos negros. Portanto, à medida que consigamos melhorar as condições sócio-econômicas desses segmentos, daremos a eles melhores condições de lutar contra o racismo e o sexismo.

alesp