Apontar os crimes de discriminação racial mais comuns e divulgar a atuação do Ministério Público em favor das minorias excluídas foi o foco do primeiro painel de debates do Seminário Nacional de Ações Afirmativas desta quarta-feira, 7/11, na Assembléia Legislativa. As discussões desenrolaram-se em cima do tema O Ministério Público e as Ações Afirmativas com a participação de Sérgio Gardenghi Suiama, procurador da República no Estado de São Paulo; Rodrigo Cesar Rebello Pinho, procurador-geral de Justiça do Estado; Lidivaldo Reaiche Raimundo Britto, procurador-geral de Justiça da Bahia; e da vereadora de Ribeirão Pires, Elza da Silva Carlos. O deputado Cido Sério (PT) foi incumbido da coordenação dos trabalhos. Rodrigo Cesar discorreu sobre a concepção de igualdade, oriunda da Revolução Francesa e da independência norte-americana. Para ele, o conceito envolve os aspectos formal e material e, por isso, não basta aos brasileiros serem semelhantes perante a lei, mas todos devem ter as mesmas condições de vida, moradia e acesso ao trabalho."Nós precisamos buscar uma igualdade substancial e de fato, que contemple o econômico e o social", propôs. Ele comparou o papel do Ministério Público ao de um ombudsman da sociedade, com a tarefa de lutar para que os direitos previstos na Constituição sejam implementados e cumpridos. Como exemplo, o procurador mencionou a formação do Grupo de Inclusão, ocorrida em São Paulo, no ano passado. Composto por dois promotores de Justiça, o objetivo do grupo é atender a demanda dos negros, homossexuais e moradores de rua, que, embora legítima, não vinha recebendo a devida atenção do Estado. Política de cotasA Bahia também vem desenvolvendo políticas de ações afirmativas. Lidivaldo Britto citou a seleção para estagiários de Direito como uma delas. Ele declarou que 20% das vagas são reservadas aos afrodescendentes, 5% aos deficientes e 5% aos índios. O problema da intolerância às religiões de matrizes africanas também foi lembrado pelo procurador baiano. Segundo ele, a promotoria já processou padres e pastores pela prática transgressora. Elza da Silva diz que, além da questão criminosa, essas religiões sofrem outro preconceito. "Elas são consideradas inferiores às demais", lamentou.O tema tratado por Sérgio Gardenghi Suiama foi a desigualdade social em números. De acordo com algumas informações do censo do IBGE de 2000, trazidas pelo procurador paulista, a população brasileira se divide em 57% de brancos e 43% de pardos e negros. Desse total, 72% de brancos têm ensino superior, enquanto o índice para os pardos e negros é de 24%. Outro dado alarmante diz respeito aos percentuais de distribuição de renda no Brasil. Dos 10% de brasileiros mais pobres, 70% são negros. Dos 10% mais ricos, mais de 80% são brancos. Sérgio relatou ainda a composição racial no quadro de procuradores da República, com 84% de brancos, 14% de pardos e nenhum representante negro. Diante desses resultados, Suiama é enfático na avaliação: "A pobreza tem uma cor, e ela é negra", concluiu.