Passados 60 anos do término do maior conflito armado que envolveu o mundo, vamos trazer aos leitores a história dessa verdadeira tragédia que destruiu países e fez o maior número de vítimas na história da humanidade. Adolf Hitler sabia que só poderia tomar o poder na Alemanha por meio de eleições diretas. Derrotado nas urnas, tentou, sem sucesso, um golpe de Estado contra o governo da Baviera, o chamado Putsch de Munique (Hall da Cerveja), em 9 de novembro de 1923 " o que resultou em sua prisão. Quando levado a julgamento, Hitler tirou vantagem da imensa publicidade que o acontecimento lhe deu. No dia 15 de janeiro de 1924, foi sentenciado à prisão por cinco anos, mas ficou na cadeia, na fortaleza de Landsberg, somente nove meses, com suficiente conforto para escrever seu livro Mein Kampf (Minha Luta), que seria lançado em julho de 1925. Suas idéias eram baseadas no nacionalismo, no anticomunismo, no anti-semitismo e na crença da superioridade da raça ariana. Seu objetivo era construir um novo Estado (III Reich) capaz de promover a autonomia econômica da Alemanha, libertando-a do Tratado de Versalhes. Desde o fim da Primeira Grande Mundial, quando a Alemanha foi derrotada e obrigada a assinar uma humilhante rendição incondicional, a população vivia em grande dificuldade, com uma inflação astronômica e um índice de desemprego altíssimo. O país foi obrigado, pelo Tratado de Versalhes, a extinguir seu exército e destruir todo o armamento de grande porte, incluindo os navios de guerra. Outra proibição foi a de ter uma força aérea, pois a anterior havia sido dissolvida, e também de fabricar aviões a motor. O Partido Nacional Socialista Operário Alemão - NSDAP (Nazista) foi fundado em 1920 (reestruturado em 1925), sendo Hitler seu presidente desde 1921. Em 25 de fevereiro de 1932, Adolf Hitler, austríaco de nascimento, tornou-se cidadão alemão quando se naturalizou. Fortalecido pelo seu partido, decidiu lançar-se candidato à presidência e, nas eleições realizadas em 23 de março de 1932, conseguiu 11 milhões e 300 mil de votos, contra 18 milhões e meio alcançados por seu adversário, o então presidente, marechal Paul von Hindenburg, herói de guerra e candidato à reeleição. Como nenhum candidato obteve a maioria, novas eleições foram convocadas. No dia 10 de abril de 1932, o Partido Nazista conseguiu dois milhões e duzentos votos a mais, mas Hindenburg, do Partido Nacionalista, com o apoio dos conservadores, derrotou o líder nazista nas eleições, alcançando nada menos que 53% da votação. No pleito de 6 de novembro de 1932, os nazistas haviam conquistado a maioria de votos, com 196 cadeiras; os social-democratas conquistaram 121 e os comunistas 100. Após uma séria crise política, em 30 de janeiro de 1933, o velho marechal se viu obrigado a nomear Adolf Hitler como primeiro ministro (Chanceler) do Reich. Assumindo o poder, o líder nazista dissolveu o Reichstag, a câmara baixa do parlamento alemão, e convocou novas eleições. Em 27 de fevereiro, ocorreu um incêndio no prédio do Reichstag e Hitler lançou a acusação sobre os comunistas. Soube-se depois que tudo tinha sido armado pelos próprios nazistas. Passados poucos dias, em 5 de março, foram realizadas eleições e o Partido Nacional Socialista (Nazista) obteve 17.277.180 votos, perfazendo 44%; os social- democratas 7.181.629; e os comunistas, em seguida colocados na ilegallidade, obtiveram 4.848.058. Os partidos de centro e Bávaro do povo tiveram 5.500.000 votos e os nacionalistas 3.136.760. A resposta popular foi uma enorme vitória dos nazistas. No dia 21 de março de 1933, na pequena igreja barroca de Garrison, em Potsdam, teve lugar a inauguração simbólica do III Reich, com a presença do presidente Hindenburg. Três dias depois, no prédio do Opera Kroll, edifício provisório do Reichstag, foi aprovado, por 441 a 94 votos, o "Ato de Autorização", o chamado Ermachtigunsgesetz. Por esse decreto-lei, Hitler recebeu plenos poderes, fornecendo a base legal para a sua ditadura. Quatro meses depois, todos os partidos foram suprimidos, o Partido Nazista foi declarado o único legal no país e, em 14 de outubro, a Alemanha se retirou da Liga das Nações. Quando o presidente, o velho marechal Hindenburg, morreu em 2 de agosto de 1934, os parlamentares nazistas consentiram na fusão do cargo de Chanceler com o de presidente da República, mas retendo também o título de Fuhrer (chefe ou líder), formando de fato o "Terceiro Reich dos 1000 anos". Ao assumir como chefe de Estado da Alemanha, ele passou a ter o comando das Wehrmacht - Forças Armadas. Os militares, oficiais e soldados, foram obrigados então a fazer pessoalmente juramento a Hitler. No plebiscito, realizado logo em seguida, Adolf Hitler teve 90% de apoio da população alemã. De acordo com os termos do Tratado de Versalhes, não era permitido à Alemanha ter uma força aérea mas, depois de 17 anos, foi oficialmente anunciada a criação da Luftwaffe, a bem equipada Força Aérea Alemã, para surpresa geral do mundo, em 1º de março de 1935. Quinze dias depois, Hitler publicamente renunciava às restrições do Tratado de Versalhes, o que abriu caminho para o rearmamento germânico. No início da guerra, em 1939, eles tinham perto de 4.300 aviões. A preocupação do mundo pela deflagração de uma nova guerra mundial já vinha desde meados dos anos 30, quando a Alemanha se julgou no direito de reconquistar os territórios perdidos desde os tempos do Imperador Frederico I, o Barbaroxa, e, assim, a partir de 1935, por meio de um plebiscito, anexou o Sarre, até então pertencente à França. No ano seguinte anexou a zona desmilitarizada da Renânia, localizada na fronteira francesa e alemã; a Áustria, país natal de Hitler, foi anexado em 12 de março de 1938; a região dos "Sudetos", após forte pressão, acabou sendo cedida pela Tchecoslováquia. Meses depois, foram anexadas ao território germânico a Boêmia, a Morávia e a Eslováquia. Por fim, o exército alemão ocupou o Memel, região da Lituânia, em março de 1939. As chamadas potências européias, notadamente a França e a Inglaterra, nada fizeram para coibir os tentáculos de líder alemão; simplesmente lavaram as mãos e, assim, o início de uma guerra foi adiado, mas não evitado. Após a sua vitoriosa campanha de conquista expansionista, Hitler viu que poderia continuar com a sua política de criar a "Grande Alemanha", um território maior que o então existente no século XII, no império de Barbaroxa. O governo de Berlim estava há muito em litígio territorial com a Polônia, sendo o pivô da reivindicação a cidade portuária de Dantzig, que havia pertencido à Alemanha até 1919. Perdida pelo Tratado de Versalhes, assinado após o fim da I Grande Guerra por decisão dos vencedores do conflito mundial, Dantzig foi transferida para a Polônia, já que historicamente era uma cidade desse país. Localizada na foz do rio Vistula e transformada em "cidade livre", Dantzig era vital para a economia polonesa. No dia 23 de agosto de 1938, Joachim von Ribbentrop, ministro das Relações Exteriores da Alemanha, esteve em Moscou e assinou, com seu colega Vyacheslav Molotov, um pacto de não-agressão com o aval do todo poderoso ditador soviético Joseph Stalin. Esse acordo deixou aberta à invasão a indefesa Polônia. Vários países da Europa viram com preocupação o pacto Hitler-Stalin e sabiam o que poderia acontecer com essa política alemã, mas todos aguardavam os acontecimentos. Preocupada com a atitude beligerante do governo nazista, apesar de ter com a Alemanha um tratado de não-agressão desde 26 de janeiro de 1934, a Polônia assinou um tratado de proteção com a Inglaterra em 25 de agosto de 1939. No mesmo 25 de agosto de 1939, a pretexto de uma "visita de cortesia", chegou à cidade polonesa de Dantzig (hoje Gdansk), localizada no Mar Báltico, o Schleswig Holstien, velho vaso de guerra alemão construído entre 1905/1908 e veterano da I Grande Guerra. Reformado e convertido em "navio-escola" da Kriegsmarine (Marinha de Guerra), nem por isso era inofensivo. Às 4h45 da madrugada do dia 1º de setembro de 1939, o capitão Gustav Kleikamp, após receber de Berlim ordens diretas vindas de Hitler, aguardadas desde o dia 26 de agosto, determinou que os poderosos canhões de 88, 150 e 280 milímetros do seu navio, que deveriam ter saudado os anfitriões, abrissem fogo contra o depósito de munições do exército polonês, localizado em uma antiga fortaleza, na ilha de Westerplatte, no golfo de Gdansk. Simultaneamente, a Luftwaffe (Força Aérea Alemã), com 1302 aviões de todos os tipos, sendo 648 de ataque - desses, 219 eram bombardeiros de mergulho Junkers Ju-87, os conhecidos "Stukas" -, despejaram milhares de bombas sobre o território da Polônia, atingindo varias cidades, inclusive a capital Varsóvia. Forças terrestres compostas por 60 divisões das Wehrmacht (Forças Armadas Alemãs), o exército mais poderoso do mundo, com apoio dos blindados, compostos de tanques de cinco divisões "Panzer", e mais cinco mecanizadas e quatro motorizadas, invadiram o país por quatro diferentes pontos da fronteira. A Polônia tentou, em vão, defender-se com seu despreparado exército e com uma aviação de guerra obsoleta. A cavalaria polonesa, de espadas em punho, chegou a enfrentar os tanques alemães em uma atitude heróica, mas inglória, e em poucos dias as tropas foram aniquiladas. A União Soviética, aproveitando-se da tragédia polonesa, 15 dias depois, traiçoeiramente, também invadiu o país pelo norte, conquistando parte do território. Em 28 de setembro, um dia após a rendição da Polônia, os ministros das relações exteriores, Molotov e Ribbentrop, assinaram em Moscou um acordo partilhando o território polonês entre a União Soviética e a Alemanha. A chamada blitzkrieg de Hitler - guerra relâmpago - surpreendendo o mundo, entrava em ação e tinha início a II Grande Guerra Mundial.