CPMI do Banestado colhe novos depoimentos na Assembléia Legislativa


17/10/2003 20:47

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Deputado federal José Mentor (PT-SP) e senador José Antero Paes de Barros (PSDB-MT) ouvem depoimento de Sheila Abad <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/banestadoA171003.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Presidente da CPMI, senador José Antero Paes de Barros (PSDB-MT) analisa documentos ao lado de José Mentor (PT-SP) <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/banestadoB171003.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Deputado Federal Dimas Ramalho (PPS-SP) entre o deputado Paulo Kobayashi (PSDB-SP) e João Paulo Gomes da Silva (PL-MG) <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/banestado171003.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

DA REDAÇÃO

O comerciante Renato Lanzuolo Filho, que teria feito remessas de mais de 30 milhões de dólares a uma conta em seu nome nos Estados Unidos, disse à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Banestado ter sido, nesse caso, um "laranja". Ele foi ouvido por deputados e senadores da comissão na manhã desta sexta-feira, 17/10, na Assembléia Legislativa. Membros da CPMI consideraram o depoimento inverossímil e chamaram Lanzuolo de "mentiroso".

Ex-sócio do Leona Pizza Bar - conhecida pizzaria em São Paulo, freqüentada por artistas e jogadores de futebol -, Lanzuolo contou ter conhecido, em Orlando, EUA, o argentino Reinaldo Del Rio, que lhe propôs utilizar uma conta no Banco Ocean para efetuar transações financeiras, mediante o pagamento de comissão de 0,2 ou 0,3% do valor. Lanzuolo disse ter aberto essa conta por causa da possibilidade de realizar importação de carros, já que trabalhava no ramo.

Sempre que Del Rio precisava realizar alguma transação, segundo Lanzuolo, depositava a quantia no banco Ocean e enviava um fax com as contas às quais os valores deveriam ser repassados. Posteriormente, entregava a Lanzuolo, em mãos e em dinheiro, o correspondente à comissão. Lanzuolo admitiu não ter declarado à Receita a quantia recebida, que teria sido de cerca de 60 mil dólares. Ele disse que não guardou os fax recebidos nem o número do telefone do argentino.

Em seguida, os deputados ouviram Márcio Veiga, ex-sócio de Renato no restaurante e seu cunhado. Veiga negou qualquer envolvimento com os fatos e disse desconhecer os motivos que levaram o cunhado a vender sua parte da pizzaria.

A funcionária do Banco Cidade Rachelle Abad, conhecida como Sheila, também prestou depoimento. Ela foi acusada por Nicéia Pitta de ser doleira e ter enviado dinheiro de Celso Pitta ao exterior. Sheila afirmou que, como funcionária do banco, foi à casa do então prefeito de São Paulo para conversar sobre a possibilidade de captar financiamento externo para a cidade. Ela não soube explicar por que a reunião foi realizada na casa de Pitta, e não na prefeitura, nem a ausência de assessores junto com o prefeito.

O presidente da Comissão, senador Antero Paes de Barros (PSDB/MT), entrou em contato com Nicéia Pitta, que voltou a comparecer à CPMI para uma acareação com Sheila. No confronto entre as depoentes, Sheila manteve sua versão pouco verossímil dos fatos, reafirmando que a reunião sobre financiamento ao município acontecera na casa de Celso Pitta a pedido do próprio prefeito, e que isso não havia lhe causado estranheza.

Nicéia Pitta reforçou sua versão com a seguinte argumentação: "de onde eu iria inventar uma senhora Sheila Abad e um Maurício Abad? Eu precisaria ter muita criatividade. Meu ex-marido me dizia que ela era doleira, e era ela mesma quem fazia as aplicações no exterior". Nicéia ponderou também que a história de empréstimo para a prefeitura não fazia o menor sentido. "Não seria uma doleira de banco que iria negociar um empréstimo desse nível, sem passar pelo congresso ou por outras autoridades". A ex-mulher de Celso Pitta afirmou não saber o valor das remessas para o exterior, mas garantiu que se tratava de uma quantia bastante alta.

O depoimento de Ricardo Augusto da Costa, proprietário da empreiteira Costaço, foi dado, a seu pedido, em reunião reservada. Os deputados e senadores também haviam previsto a oitiva de Yaa Fuan Kwi Fua, sócia majoritária da empresa Tai-Chi Turismo, que, embora convocada, deixou de comparecer à comissão por orientação de seu advogado.

Gravações telefônicas

A reunião da CPMI ficou suspensa das 14h15 às 18h15, quando os membros da comissão tiveram finalmente acesso ao conteúdo de interceptações telefônicas fornecidas pela Polícia Federal, nas quais Renato Lanzuolo Filho mantém conversa com o doleiro Toninho Barcelona, proprietário da empresa Barcelona Tour, que se encontra foragido. Segundo o presidente da CPMI, apesar de todas as gravações terem sido feitas com autorização judicial, as novas evidências não foram apresentadas, pois devem ainda passar por perícia.

Lanzuolo foi convidado a rever suas declarações, tendo em vista as novas provas que o ligavam a Toninho Barcelona. O depoente, entretanto, continuou a negar envolvimento com o doleiro, alegando existir apenas algumas ligações telefônicas que tratariam da compra de passagens aéreas ou de uma relação superficial de amizade, já que Barcelona freqüentara sua pizzaria. "É evidente que ele está protegendo alguém que não se trata do tal argentino", afirmou Antero Paes de Barros, ao fim da reunião, indicando que Lanzuolo foi instrumento para a evasão de mais de US$ 30 milhões.

O presidente previu ainda para segunda-feira, 20/10, uma reunião da CPMI em São José do Rio Preto, quando ao menos um dos depoimentos será em caráter reservado. Para a reunião de terça-feira, 21/10, em Brasília, Paes de Barros cogitou a possibilidade de haver a oitiva de Yaa Fuan Kwi Fua, suspeita da evasão de uma quantia superior aos US$ 100 milhões. "Dessa vez, ela será conduzida a depor pela Polícia Federal", ponderou o Paes de Barros.

alesp