Opinião - Fome: a cada minuto, cinco crianças morrem


17/02/2012 09:56

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Quantas vezes a gente se senta à mesa e faz cara feia para algum alimento que não nos agrada? Ou pior, quantas vezes reclamamos estar incomodados por comer a mesma comida de novo?

Acho que a partir de hoje você vai pensar duas vezes antes de fazer isso.

A cada minuto, cinco crianças morrem de fome no mundo. Por dia, esse número chega a 7.200 crianças mortas por inanição, que é a prostração por falta de alimento.

Esse dado é da ONG Salvem as Crianças, que divulgou no dia 16 de fevereiro um levantamento que aponta que, aproximadamente, 2 milhões de crianças falecem em todo o mundo por não terem o que comer.

Os países com os piores resultados são Congo, Burundi, Comores, Suazilândia e Costa do Marfim. Mas não pense que essa realidade está longe de nós.

Aqui também existem pessoas passando fome. Estudos mostram que cerca de 30 milhões de brasileiros não têm o que comer. Outro dado alarmante é que 65 milhões de pessoas, só no nosso país, não ingerem os nutrientes e calorias diárias necessários para uma pessoa adulta.

O problema poderia ser resolvido com planejamento e boa vontade. O Brasil está entre os dez países que mais desperdiçam comida no mundo. Quase 35% da produção agrícola vai para o lixo. Dos 65% restantes que são encaminhados para os supermercados, mais de 40% dos alimentos serão desperdiçados por causa das condições inadequadas do transporte.

Vamos trazer essa conta para a vida real. A cada cem laranjas produzidas, 35 são descartadas ainda na colheita. Das 65 destinadas para a venda, 29 se perdem pelo mau acondicionamento do produto e transporte. Ou seja, de cada cem laranjas produzidas, apenas 39 vão para as prateleiras dos mercados, feiras e centros de distribuição de alimentos.

Tramita na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo o Projeto de Lei 111/2008, de minha autoria, que proíbe, nas rodovias do Estado de São Paulo, o tráfego de veículos de carga que transportem alimentos in natura, da produção ao consumo humano, sem a garantia de integridade e qualidade dos produtos, na forma que especifica, e dá outras providências.

Na prática, o projeto quer que o transporte de alimentos agrícolas seja feito em caixas adequadas e que os caminhões sigam regras para que não haja contaminação do produto.

Para garantir a eficácia da propositura, estipulamos algumas regras que preveem que a cabine do condutor do caminhão ou carro seja isolada da parte que contém os alimentos; que o veículo tenha Certificado de Vistoria e que seja exclusivo para o transporte de alimentos; que o uso de materiais para proteção e fixação de carga não constituam fonte de contaminação ou dano para o alimento.

Para o acondicionamento dos alimentos o projeto de lei define o uso de estrados e caixas plásticas. Além disso, prevê a manutenção dos alimentos em excelentes condições de limpeza e em embalagens descartáveis ou retornáveis; e, também, a permanência dos alimentos sob temperatura de segurança durante todo o transporte.

A proposta recebeu parecer favorável na Comissão de Constituição, Justiça e Redação, na Comissão de Transportes e Comunicações e na Comissão de Finanças e Orçamento. Agora, está pronta para a Ordem do Dia e aguarda para ser apreciada em Plenário.

Essa medida preveniria o desperdício, pois quanto mais alimentos em bom estado de conservação sobrarem, maior a oportunidade de alimentar quem realmente precisa.



*André Soares é deputado pelo DEM.

alesp