Movimento Mães de Maio cobra explicação sobre assassinatos de jovens em Santos

Comissão de Direitos Humanos se deslocou para a Baixada Santista para ouvir relatos
21/11/2011 19:55

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 <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/11-2011/audpublicaMaedeMaio18nov11Mauri1.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/11-2011/audpublicaMaedeMaio18nov11Mauri1Nomeada.JPG' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Marilu Penas, Domingos Salvio, Cassandra Nunes, Adriano Diogo e  Debora Silva<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/11-2011/audpublicaMaedeMaio18nov11MauriMa.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Deputado Adriano Diogo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/11-2011/audpublicaMaedeMaio18nov11Mauriadrianodiogo.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Cassandra Nunes e Débora Silva<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/11-2011/audpublicaMaedeMaio18nov.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, representada por seu presidente Adriano Diogo (PT), se deslocou na última sexta-feira, 18/11, até a Câmara Municipal de Santos para ouvir relatos de integrantes do Movimento Mães de Maio, que cobram explicações oficiais sobre os assassinatos que vitimaram seus filhos, na maioria, jovens entre 17 e 25 anos. A maioria dos crimes ocorreu em maio de 2006, mas há relatos de mortes em 2010 e uma na semana passada.

O nome do movimento similar ao do grupo de mães que se concentravam na Plaza de Mayo, em Buenos Aires, para protestar e cobrar informações sobre seus filhos desaparecidos durante o regime militar na Argentina, não é mera coincidência. A exemplo das portenhas, as mães da Baixada Santista buscam respostas para a morte de seus filhos, executados em diferentes situações, mas quase sempre por pessoas encapuzadas e em locais públicos, uma suposta milícia.

Fica impraticável listar os nomes de todas as vítimas das execuções que acontecem desde 2006 de uma forma sistemática. Os jovens mortos serão representados aqui por Bianca, o bebê que nem chegou a nascer, uma vez que morreu junto com sua mãe Ana Paula, grávida de nove meses, assassinada ao lado do marido.



Denúncias x repressão



Para Adriano Diogo, um país democrático não pode conviver com milícias de extermínio. "Quantas comissões da verdade serão necessárias para elucidar crimes desse tipo?"

Domingos Sávio é procurador da República e ouvidor nacional de Direitos Humanos. Ele disse que o importante nesta iniciativa é levar a voz das mães adiante com o compromisso de federalizar os crimes praticados na Baixada. "Trata-se de uma prática perversa que mata quem deveria ser protegido pelo Estado". Todos os casos foram arquivados como mortes com autoria desconhecida, sem uma investigação mais apurada.

Marilu Penas, representante da OAB, protestou contra o arquivamento dos processos sem maiores esclarecimentos, sob o registro de resistência seguida de morte. Para ela, essa classificação, na prática, é uma desculpa para o extermínio.

A ex-deputada Maria Lúcia Prandi lamentou que as execuções sumárias se repitam com frequência em Santos. "Respeito a luta e a coragem das mães que buscam justiça, sublimando a imensa dor." Prandi destacou o trabalho do jornalista Renato Santana, que denunciou os crimes no jornal A Tribuna, mesmo sofrendo ameaças pela sua iniciativa. Segundo a ex-parlamentar, o repórter acabou saindo do Estado para não ser indiciado pela Justiça santista por indução à violência.

A vereadora de Santos, Cassandra Nunes, coordenou o debate e informou que nesta semana mais um jovem de 20 anos foi vítima de execução. Ela apoia a luta contra o que chamou terrorismo de Estado.



Eliminando a pobreza



Débora Silva, mãe de Rogério, disse que o Estado entende por criminoso todo cidadão que é pobre. "O que tem havido na Baixada Santista é uma faxina da pobreza, com incursões pela periferia e a eliminação de meninos pobres." Seu filho era gari e foi assassinado enquanto trabalhava. Para ela, quando os juízes impedem a qualquer custo o prosseguimento dos inquéritos, eles se tornam coniventes com a prática de execuções. Ela lembra ainda que muitos jovens foram enterrados em covas coletivas.

Débora acredita que a visita a Santos da ministra da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes, inibiria a sequência de execuções. Aliás, de acordo com Débora, muitos policiais também têm morrido na Baixada Santista sem maiores esclarecimentos. Numa reunião recente com o secretário estadual de Segurança Pública, da qual Débora participou, foi perguntado pelo movimento ao secretário por que tantos policiais aparecem mortos sem maiores explicações, e ele teria respondido extraoficialmente que se tratavam de policiais ligados ao narcotráfico.

O pai de Mateus, João Freitas, contou que seu filho e o amigo Ricardo decidiram ir a escola " durante toque de recolher imposto pelo PCC, em maio de 2006 ", para não perder prova que seria aplicada. A escola não abriu e os meninos foram assassinados no caminho de volta para casa. Autoridades teriam dito que eles foram mortos por dívida de drogas, entretanto, exame de corpo delito mostrou que os jovens não tinham sinais de drogas no corpo.



Homenagem



A deputada Telma de Souza (PT) participava de outro evento na Câmara, mas passou pela reunião para dizer que apoia a luta das Mães de Maio.

Em seguida, foi apresentado vídeo da jornalista Ali Rocha sobre as Mães de Maio e toda a trajetória do movimento desde maio de 2007, quando elas realizaram ato em Santos em protesto a um ano de impunidade das mortes, até as últimas reuniões com autoridades e a homenagem recebida da Secretaria Especial de Direitos Humanos.

Após sugerir uma série de ações, como o levantamento dos processos no Tribunal de Justiça em São Paulo, o deputado Adriano Diogo informou que as Mães de Maio serão homenageadas, no dia 5/12, com o prêmio Santo Dias, na Assembleia Legislativa.

alesp