José Mindlin será homenageado pela Assembléia


05/03/2007 10:54

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José Mindlin<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/Midlin.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Guita com Mindlin em sua biblioteca<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/mULHERMIDLIN C.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Na terça-feira, dia 6/3, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, a Assembléia Legislativa prestará homenagem a José Mindlin, no lançamento da coleção de documentários da série RG Paulista. Na ocasião, será apresentado o documentário sobre a vida desse empresário e bibliófilo e sua contribuição para a cultura nacional.

Os programas da coleção RG Paulista vêm sendo exibidos pela ALTV. Eles resgatam a vida e a obra de personalidades paulistas que se destacaram nos campos da ciência e tecnologia, artes, cultura e educação. A coleção, editada em DVD, será entregue a todas as escolas da rede pública de ensino e às bibliotecas do Estado.

A cerimônia de lançamento da coleção e a homenagem a José Mindlin serão transmitidas ao vivo pela ALTV (canal 13 da Net e 66 da TVA), a partir das 19h.

O guardião de livros

Filho de imigrantes russos, José Mindlin nasceu em 1914. Adquiriu o hábito de leitura ainda na infância, que então foi se tornando "imperioso" e acabou virando "compulsão", ele conta.

Mindlin compara seu amor pelos livros a um vírus, que ele contraiu não sabe como e que procura inocular em todas as pessoas que encontra, principalmente jovens e crianças.

Levado pelo pai, trabalhou ainda muito jovem no jornal O Estado de S. Paulo. Ingressou depois na Faculdade de Direito, onde conheceu Guita, que viria a ser sua mulher por 68 anos e com quem teria quatro filhos: Sérgio, Diana, Sônia e Betty.

"Na minha vida aconteceram muitas coisas puramente por acaso. Esse (conhecer Guita) foi um dos acasos felizes." Ela estava no pátio da faculdade cercada por alguns rapazes e querendo ingressar em um dos partidos que disputavam o centro acadêmico. Mindlin aproximou-se da roda e disse: "Tudo isso é bobagem. Se você quer um bom partido, ele está aqui". "E ela então me pegou pela palavra", resume hoje o bibliófilo.

Foi na juventude que nasceu em Mindlin o garimpeiro de livros. Guita o acompanhou muitas vezes a antiquários e sebos e dividiu com ele o amor pelos livros. Ela o encorajava, mesmo quando Mindlin vacilava diante de uma compra que poderia afetar o orçamento doméstico. "Eu nunca precisei entrar em casa com livros escondidos, como acontece com muitos colecionadores."

No pós-guerra, Mindlin chegou a ter uma livraria, para poder "pescar no viveiro", justificou seu futuro sócio para entusiasmá-lo a entrar no negócio. Passou três meses na Europa formando o estoque da loja. Foi como se um lobo cuidasse do rebanho. Mas era preciso vender, por causa do sócio capitalista que havia bancado o empreendimento. Aos poucos, no entanto, foi recomprando os livros raros vendidos. Concluiu que: ou a pessoa compra livros ou vende livros. Não dá para fazer as duas coisas.

Em 1950, fundou uma fábrica de pistões para automóveis, que se chamou Metal Leve (por causa da matéria-prima, o alumínio). Os mais antigos ainda se lembram do outdoor da empresa que durante muitos anos mostrou o movimento de um pistão automotivo para os que passavam pela região do Parque do Ibirapuera. Nos anos 90, as exportações despencaram. Muitas autopeças passaram a ser importadas. Em 1996, Mindlin vendeu suas ações e desligou-se da empresa.

Em 1974, na ditadura militar, foi convidado para ser secretário da recém-criada pasta da Cultura, Ciência e Tecnologia no governo de Paulo Egydio Martins. Contrário ao regime e descrente da possibilidade de juntar dois mundos que julgava muitos distantes entre si, de um lado a cultura, de outro a ciência e a tecnologia, reuniu os amigos e os consultou sobre a conveniência de aceitar o convite. Foi por eles convencido a assumir o cargo, por causa da perspectiva de abertura política que então se desenhava. Uma das marcas de sua gestão foi a criação da carreira de pesquisador científico. Estava nos Estados Unidos, quando soube da morte do jornalista Vladimir Herzog na prisão. Voltou e pediu demissão.

Até maio de 2006, Mindlin tinha a maior biblioteca particular do país: a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, com cerca de 40 mil livros. Ele a vinha formando desde 1927, quando tinha apenas 13 anos, e a chamava de um "conjunto indivisível" de obras raras sobre o Brasil. Nesse mês, Mindlin e Guita autorizaram a doação de parte do acervo da biblioteca para a Universidade de São Paulo, que deverá ficar instalado no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), em prédio que ainda está sendo construído.

Para Mindlin, a biblioteca atingiu tal dimensão que não se justificava mais que continuasse propriedade particular. Hoje, ele está se preparando para se separar dos livros. Na verdade, Mindlin nunca se considerou proprietário, mas um depositário dos livros que ia comprando. Um guardião de livros. "A procura por livros raros dá um prazer especial", diz ele. "O prazer de ler, o prazer de ter o livro e o prazer de encontrar o livro."

Em 20 de junho de 2006, ainda comemorou com Guita sua eleição para a Academia Brasileira de Letras. Mindlin passou a ocupar a cadeira 29 da academia, que foi do escritor Josué Montello durante 52 anos e cujo patrono é Martins Pena. Cinco dias depois, Guita morreu.

alesp