Representando o presidente da Assembléia Legislativa, Rodrigo Garcia, o procurador-chefe da Alesp e presidente do Conselho Gestor do Instituto do Legislativo Paulista (ILP), Maurílio Maldonado, abriu nesta quarta-feira, 26/4, a mesa de debates sobre A Questão Indígena, que faz parte da 4ª Semana Orlando Villas Bôas, iniciada no último dia 24. Para falar sobre o tema Conflito de Terras, o ILP convidou a professora Niminon Suzel Pinheiro, antropóloga e historiadora do Centro Universitário de Rio Preto (Unirp), o cacique guarani Marcos Tupã, que representa a terceira geração de caciques da sua tribo, e como mediador Noel Villas Bôas, advogado e bacharel em filosofia pela PUC/SP e filho do sertanista e indigenista Orlando Villas Bôas.A professora Niminon Pinheiro, descendente de índios guaranis e estudiosa da tribo kaigang, falou sobre os conflitos de terras indígenas iniciados no século XIX com o objetivo de beneficiar pessoas influentes da época. Conforme a antropóloga, que ressaltou o artigo 231 da Constituição Federal, as terras doadas aos índios kaigang, tenaque e terena, no interior do Estado, são improdutivas. "Em todo o interior moram 710 índios e a Fundação Nacional do Índio, Funai, não consegue cumprir o Estatuto do Índio."Tradição e modernidade De acordo com o cacique Marcos Tupã, os índios guaranis são contrários à violência. "Entendemos que a terra é um espaço onde todos os povos podem viver em harmonia. A natureza tem significado muito importante para nós." O cacique ainda explicou que os índios guaranis são nômades e as novas gerações sentiram necessidade de fixar moradia, o que gerou conflito entre os índios mais velhos (tradicionais) e a nova geração."A caminhada sagrada só é feita após rituais de dança e reza e sempre seguimos para o leste, o caminho do sol." O sol, completa o cacique, é considerado o deus dos guaranis, "que guia nossos passos e é o responsável por nossos alimentos".A LeiO artigo 231 da Constituição Federal diz que "são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças, tradições e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens". Mas, como enfatizou a professora, os índios nunca receberam pelas terras que lhes foram tomadas.Terra indígena por Orlando Villas Bôas"Por muito tempo se quis impedir ou protelar a demarcação das terras indígenas, com a desculpa de que se estaria pondo em risco a segurança nacional, tese que acabou sendo desmentida com o tempo, pois, ao contrário, o avanço nas medidas de regularização destas terras serviu para assegurar o direito dos índios, para pôr fim a conflitos pela posse da terra, os quais muitas vezes se estendiam por décadas, e para garantir a integridade territorial brasileira. É preciso lembrar que as terras indígenas são patrimônio da União, diversamente da grande quantidade de terras de particulares que está sendo transferida para estrangeiros.A civilização tem seus alicerces fundados na contribuição de todos os povos. Através da história temos contribuído de alguma forma. Hoje, nestes difíceis dias por que passa o mundo, ofereçamos um exemplo, um bem superior a todos os demais " construindo um Brasil novo, sem a preocupação de transformá-lo numa "grande potência", mas sim num país de ambiência humana."A Semana OVB terá continuidade nestas quinta e sexta-feira, no auditório Teotônio Vilela, às 16h, quando ainda serão debatidos A Questão da Identidade Brasileira e, novamente, Conflitos de Terras.