Nos quarenta anos da chamada Revolução de 1964, na realidade um golpe de Estado, vale recordar um episódio pouco divulgado ocorrido naqueles dias de inquietação e apreensão. Os fatos são verdadeiros e, hoje, fazem parte da obscura história do Brasil.AntecedentesDesde a crise que resultou no suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954, os militares iniciaram um envolvimento maior na política brasileira. Nos dez anos que separam a morte de Getúlio do golpe que tirou do poder João Goulart, diversos atos de rebeldia fizeram-se notar na vida política do Brasil. A eleição de Jânio Quadros, em 1960, parecia acalmar os ânimos dos recalcitrantes, que viam no homem da vassoura um novo Messias, mas o tempo provou o contrário. Nas palavras do ex-ministro e parlamentar Affonso Arinos de Mello Franco, "Jânio foi a UDN de porre" (UDN - União Democrática Nacional, partido de oposição aos governos constituídos e um ninho de golpistas).A renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, desencadeou uma grave crise político-militar. Como o vice-presidente João Goulart estava ausente do Brasil, em viagem oficial ao Extremo Oriente, assumiu a presidência da República, em caráter interino, o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli (PSD-SP). Esse deputado manteve os ministros militares que, inconformados com a renúncia do presidente Jânio Quadros, não demoraram a se pronunciar contra a posse do vice, tentando impedir que tomasse o poder, apesar de ser o sucessor constitucional. Depois de várias démarches, a medida paliativa encontrada foi a instauração do regime parlamentarista no Brasil, com o deputado Tancredo Neves (PSD-MG) como premier tupiniquim. No novo regime instaurado, quem mandava era o 1° ministro, não o presidente da República. Este, no dizer de muitos, era uma rainha da Inglaterra: governava, mas não mandava...Na curta vigência do regime parlamentarista, o Brasil teve dois primeiros-ministros além de Tancredo: Francisco de Paula Brochado da Rocha (PSD-RS) e Hermes Lima (PSB). Mas a instabilidade política forçou a antecipação do plebiscito para o dia 6 de janeiro de 1963, o que decidiria pelo retorno ao regime presidencialista. PopulismoEm São Paulo, com a divisão entre a corrente janista e a do então governador Carvalho Pinto, saiu vencedor no pleito ao Governo do Estado Adhemar de Barros famoso líder populista, de quem, popularmente se dizia: "Rouba, mas faz...". O governador paulista, desde sua posse em 31 de janeiro de 1963, trabalhou para desestabilizar o governo federal e não escondia isso de ninguém. Na sessão da Câmara dos Deputados de 29 de maio de 1963, o líder do governo em exercício, deputado Bocayuva Cunha (PTB-GB), denunciou o complô que estava sendo armado em São Paulo por Adhemar de Barros, inclusive afirmando: "A realização de uma reunião na residência de um senhor de nome Humberto Reis Costa, na praça da Roosevelt, com mais de 60 industriais paulistas, na qual Adhemar convocava-os a fornecerem recursos para uma caixinha que tinha como intuito adquirir três mil caminhões para dar ampla mobilidade a tropas do Estado de São Paulo, inclusive armando-os, a fim de defender a legalidade, a ordem ameaçada em nosso país..."Em apartes, os defensores do governador de São Paulo contestaram as insinuações, mas o próprio Governo Federal nada fez para abortar o golpe em marcha.Por dentro do golpeA partir do Comício da Central, realizado naquela sexta-feira, 13 de março de 1964, quando o presidente João Goulart, discursando para milhares de pessoas, pregava as Reformas de Base, os contrários ao regime resolveram agir. Naquela noite, o general de Divisão Olympio Mourão Filho, comandante da 4º Região Militar, com sede na cidade mineira de Juiz de Fora, inconformado com que viu e ouviu (para ele o comício havia sido um escândalo), entendeu que tudo fazia parte de um ato de subversão por parte do governo federal e, segundo suas palavras, "temos que partir contra eles enquanto é tempo..."Na segunda-feira, dia 16 de março, o general Mourão Filho esteve em Belo Horizonte com o governador Magalhães Pinto, para conferenciar e tomar uma atitude imediata, porém o governador nada respondeu, protelando sua decisão. Em sua companhia estava o general Carlos Luis Guedes, comandante da Infantaria Divisionária da 4a R.M., com sede na capital mineira, e que comungava com a opinião do governador de Minas Gerais. Para Magalhães Pinto, Mourão era um agente provocador do governo ou louco...Irrequieto e intempestivo, Olympio Mourão Filho tinha um temperamento explosivo, sem papas na língua. De retorno a Juiz de Fora, resolveu agir. Na noite seguinte, reuniu o seu Estado Maior e pediu a colaboração de todos para um levante com seus comandados. Marchariam sobre o Rio de Janeiro, onde as tropas do I Exército, comandadas pelo general Armando de Morais Ancora, eram legalistas.No entender do general Mourão Filho, o presidente João Goulart daria um golpe em 20 de abril, com o fechamento do Congresso Nacional. A idéia de uma ação contra Jango vinha desde 1961. ArticulaçãoMourão fazia parte desse grupo de militares que conspiravam contra Jango ( João Goulart), para ele um fraco e incapaz. Em dezembro de 1963 começou a articular, para formar o seu comando e agir contra o governo constituído. Entre os nomes estava o do general Antonio Carlos Muricy, que seria chefe do Estado Maior do Exército, anos depois. Muricy e o então coronel Walter Pires (ministro do Exército no governo Figueiredo) começaram a elaboração de todo um plano para derrubar o presidente João Goulart.No dia 19 de março de 1964 foi realizada, na capital de São Paulo, a denominada Marcha da Família com Deus pela Liberdade, capitaneada por Leonor Mendes de Barros, esposa do governador Adhemar, e com a participação de 500 mil pessoas, na sua grande maioria membros da classe média alta paulistana, que protestavam contra o governo João Goulart. Era o sinal que os militares estavam aguardando: o apoio popular para desencadear o golpe.Na Sexta-feira Santa, 27 de março de 1964, a situação no Rio de Janeiro se complica com a revolta dos marinheiros. Os fuzileiros navais, designados para prendê-los, aderem à turba, sem poder de mando; o ministro da Marinha se demite. Coube ao Exército a missão de prender os revoltosos.Toda a agitação era comandada pelo marinheiro de 1ª classe Cabo Anselmo, que se tratava de um agente infiltrado, como ficou provado depois, pago para criar tumulto e desestabilizar o Governo Federal.Nessa mesma noite, Magalhães Pinto resolve agir e chamou Mourão Filho, que passava a Semana Santa em Ouro Preto, para uma reunião em Belo Horizonte. Seria divulgado um manifesto à Nação, o mote para que fosse desencadeado o movimento armado. Todas as tropas estacionadas em Minas Gerais ficariam de prontidão, aguardando a ordem para a movimentação.Prisão dos comunistasA primeira ordem era desencadear a Operação Gaiola, que seria a prisão de todos os comunistas. O plano do general Mourão era chegar ao Rio, tomar o QG e passar o Comando Geral para o general Cordeiro de Farias, que assumiria o comando das forças em operação. Se vencesse - o que deveria acontecer - em suas palavras, daria "ordem para que Mazzilli assumisse a Presidência da República e formariam uma junta à parte, para tratar dos seguintes pontos:a) escolher o candidato, que será civil, para completar o qüinqüênio;b) traçar as direções gerais para modificar a Constituição, a fim de evitar, no futuro, o acesso de políticos e subversivos.Imporei os seguintes pontos na Reforma:1° - retirar todos os poderes do presidente da República (a partir de 1965); eleição indireta, por coincidência.2° - declarar a inelegibilidade dos atuais políticos, de seus ascendentes, descendentes e colaterais até 2° grau, para qualquer cargo de representação ou do Executivo;3° - formar a Câmara de Planificação à base de concurso rigoroso de provas e títulos; Câmara vitalícia e à base dos mais altos salários da República;4° - criação do Conselho Supremo, do qual façam parte os ex-presidentes (do regime novo) com a missão de fiscalizar o funcionamento do regime;5° - a representação será distrital. Distritos Eleitorais de 200 a 300 mil habitantes. Os candidatos, examinados previamente por uma Comissão Distrital de Alto Nível, podem disputar eleições como candidatos livres sem partido;6° - compulsória política - inelegibilidade depois de 3 (três) legislaturas para os representantes da Nação e inelegibilidade absoluta para os que exerceram cargos eletivos do executivo;7° - o mesmo mecanismo no plano estadual;8° - no plano municipal, apenas, eleição direta do prefeito e do conselho, com a diferença: o conselho ou câmara municipal não é remunerado e o prefeito tem a denominação de agente executivo porque somente poderá fazer, executar, o que a Câmara determinar ou aprovar".Letra mortaMas o tempo provou que tudo isso ficou como letra morta. Cordeiro de Farias não assumiria, pois havia sido mandado em missão para São Paulo, justamente quando foi deflagrada a Revolução... Seria mera coincidência? O próprio, em depoimento anos depois, disse que não... Ele era o general quatro estrelas mais antigo em atividade no Exército brasileiro. Ausente, quem tomou as rédeas foi o general Costa e Silva, que se tornou o comandante do Exército e do Comando Supremo Revolucionário. Na realidade, ele viu o cavalo arreado passando e montou.Mourão ficou aguardando o tal manifesto, que demorava a sr enviado pelo governador Magalhães Pinto. Sua paciência estava se esgotando. A chamada "Operação Popeye" estava em compasso de espera (o nome de Popeye deve-se ao hábito de Mourão fumar um cachimbo).Na tarde do dia 31 de março, foi divulgado um manifesto assinado pelo general Mourão Filho, pela Rádio Globo, e, logo após, foi determinado que o Destacamento Tiradentes, sediado em Juiz de Fora, seguisse rumo ao Rio de Janeiro.O presidente João Goulart estava no Rio de Janeiro, onde o governador Carlos Lacerda era descaradamente golpista. Na manhã do dia 1º de abril, sabedor da situação reinante, seguiu para Brasília, para melhor defender o seu governo.Entre as 15 e as 16 horas de 1° de abril, o comandante do I Exército solicitava a suspensão das operações, a fim de evitar o derramamento de sangue em virtude da incapacidade de resistência das tropas sediadas no Rio de Janeiro. ExílioA "Revolução" tinha saído vitoriosa. Na noite desse dia, Jango foi para o Rio Grande do Sul defender a legalidade, com o apoio do comandante do III Exército general Ladário Telles. Na madrugada de 2 de abril, o presidente da Congresso Nacional, senador Auro Soares de Moura Andrade, declarou vaga a presidência da República, apesar do presidente estar em território nacional. No dia 4 de abril, João Goulart desembarca no Uruguai, em busca de asilo político. Ele acreditava que uma guerra civil seria iminente caso resolvesse reagir ao golpe.Quando Mourão Filho adentrou ao QG no I Exército no Rio de Janeiro, foi diretamente falar com Costa e Silva, que dormia. Rispidamente, ordenou que fossem acordá-lo. De pijama e sonolento, Costa e Silva o recebeu. Apesar da vontade de Mourão de fazer retornar suas tropas para Minas Gerais, Costa e Silva entendeu que as tropas devessem ainda permanecer no Rio para garantir a Revolução, e assim foi feito.Arvorando-se de membro do Comando Supremo da Revolução, o general Arthur da Costa e Silva, pelo Exército, juntamente com brigadeiro Francisco de Assis Correia de Mello, o Mello Maluco, pela Aeronáutica, e o almirante Augusto Hamman Rademaker Grunewald, pela Marinha, iniciaram uma verdadeira caça às bruxas contra todos aqueles que entendiam ser perniciosos ao novo regime. E o Brasil entrou verdadeiramente nas trevas. Essa perseguição duraria quase 15 anos, quando foi revogado o Ato Institucional n° 5. Foram punidos mais de 4.800 brasileiros.Operação Brother SamNa noite de 30 de março de 1964, o presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, recebia na Casa Branca informe do Brasil, que mencionava um iminente golpe de Estado. Essa informação, originária da CIA, a Agência de Inteligência do governo americano, segundo o então embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon, teria tido origem no Consulado dos EUA em Belo Horizonte.No dia seguinte, às 13h50, um documento prioritário do vice-diretor de Operações .da Marinha dos Estados Unidos, contra-almirante John Chew, aos chefes do Estado Maior Conjunto, trazia um plano de emergência que determinava o deslocamento de uma força tarefa, incluindo um porta-aviões, para o Atlântico sul. Na realidade, o destino específico era Santos, onde deveria permanecer nas proximidades.A finalidade, segundo o documento, era manter a presença norte-americana naquela área para cumprir missões que viessem a ser ordenadas. Além da força tarefa, ficara determinado o envio de forças de reabastecimento que fossem necessárias. Até segunda ordem, dever-se-ia manter em sigilo o destino deste deslocamento. Essa comunicação limitava-se a alguns órgãos militares, e com cópias para Casa Branca, Departamento de Estado e CIA.Ainda no dia 31 de março, o vice-diretor de Operações da Força Aérea Americana, general de Brigada Paul Tibbets Jr. (este entraria para a história quando, em 6 de agosto de 1945, como comandante do bombardeiro B-29, denominado Enola Gay - nome de sua mãe -, assumiria a missão de jogar a primeira bomba atômica sobre a cidade japonesa de Hiroshima) determinava, em documento ultra-secreto, aos chefes do Estado Maior Conjunto, que o planejamento e ações militares relacionados com a situação no Brasil fossem tratados dentro do maior sigilo.Força tarefaO comandante chefe da esquadra do Atlântico informava aos chefes do Estado Maior Conjunto o deslocamento de uma força tarefa para a costa brasileira. Essa frota era composta pelo porta-aviões Forrestal (CVA-59), o primeiro da era nuclear e dos maiores na ocasião; os destróieres Leahy (DLG-16) e Barney (DDG-6), que estavam na base da Marinha americana em Norfolk, Estado da Virginia, e deveriam chegar em Santos no dia 11 de abril.Foi designado também um grupo de apoio de helicópteros, que seriam transportados pelo grupo de navios composto pelos Turckee (AO 147); Ware (D 865), Summer (DD 692), Harwood (D 861) e W. C. Lawe (DD 763). Estes chegariam no litoral paulista no dia 14 de abril. Deveriam estar preparados para manter a presença norte-americana na área, quando ordenado, e cumprir missões adicionais que viessem a ser determinadas. Ainda no dia 31, é designado comandante do Projeto Brother Sam o general de Divisão George Brown.O vice-diretor de Logística do Estado Maior Conjunto, contra-almirante L. A. Bryan,havia determinado o embarque prioritário de munição para armas leves que seriam transportadas em seis aviões C-135, além de mais um C-135 como apoio, oito caças de escolta, oito aviões de abastecimento, um de apoio e de socorro aéreo, um avião de comunicações e um posto de comando aerotransportado. Fora determinado também o embarque imediato de 250 carabinas de calibre 12. Todo esse armamento deveria ser enviado ao Brasil, conforme o Plano de Emergência. Quatro navios foram designados para o transporte de combustível para o Brasil. O USNS Santa Inez transportaria 40 mil barris de gasolina comum, 15 mil barris (depois 16 mil) de gasolina de aviação, 33 mil barris de óleo diesel e 20 mil barris de querosene. Esse navio seria carregado em Aruba e tinha como destino Montevidéu, Uruguai, onde aguardaria instruções. Estaria nas proximidades do Rio de Janeiro entre 10 e 11 de abril.O petroleiro USNS Chepachet seria carregado com 35 mil barris JP-4, 40 mil barris de gasolina comum, 33 mil barris de gasolina de avião 115/145 e chegaria na costa do Rio de Janeiro em 15 de abril. O petroleiro SS Hampton Road carregaria o máximo possível de JP-4, aproximadamente 150 mil barris, e deveria estar no Rio entre 14 e l5 de abril. Já o petroleiro SS Nash Bulk foi carregado com 92 mil barris JP-4 (depois diminuída a carga para 70 mil barris), 56 mil barris de gasolina comum e 39 mil barris de gasolina de avião 115/145. Os gastos relativos ao combustível seria debitado na conta do serviço regular. E a previsão de chegada ao Rio seria entre 15 e 16 abril.MemorandoEm 1° de Abril de 1964, a força tarefa conjunta deveria se reunir no Panamá, sob o comando do general de Divisão Breitweiser, de onde deveria seguir no maior sigilo para o Brasil.No dia 2 de abril, um memorando determinava que a munição e o armamento ficassem guardados no Fort Dix ou na Base Mc-Guire, conforme fosse mais apropriado.No dia 3 de abril, a operação Brother Sam tornou-se apenas um apoio logístico para o Brasil. Cento e dez toneladas de armas e munições permaneceriam retidas na base McGuire, enquanto o embaixador Gordon determinava se as forças militares brasileiras ou as forças policiais do Estado de São Paulo necessitariam ou não de apoio americano antecipado.A força tarefa com porta-aviões prosseguiria em direção ao Atlântico Sul até que o embaixador declarasse serem definitivamente desnecessáriasCancelada a operação Brother Sam, era essencial tomar todas as precauções para encobrir e dar recuo rápido a todas as operações.A situação brasileira na ocasião não exigiu a presença da força tarefa com porta-aviões em águas oceânicas ao sul do país. Por conseguinte, as instruções contidas na referência A ficaram canceladas. As forças envolvidas seriam reenviadas às áreas caso fosse conveniente.Mas as ordens eram continuar observando a referência B, no que diz respeito ao sigilo envolvendo a operação, conforme ordens de F. T. Unger, general de Divisão USA - diretor de Operações da Força Aérea americana.EncomendaSegundo Gordon, a pedido de alguns empresários de São Paulo, a CIA encomendou ao governo americano três navios-tanques cheios de petróleo. Os empresários temiam que, em caso de conflito, os oleodutos paulistas pudessem ser dinamitados. Os petroleiros chegaram a ser enviados, mas como o golpe sucedeu pacificamente, foi enviado um telegrama suspendendo a operação. Os navios de guerra voltaram antes mesmo de chegarem ao Panamá.Lincoln Gordon, anos depois, afirmou que não ajudou a derrubar o presidente. João Goulart, só torceu para isso. Para ele Jango era fraco e despreparado. O governo dele era insustentável e a história mostra que logo o poder seria surrupiado pelos seus aliados comunistas.Mas, segundo Gordon, "foi um choque" que o período de exceção pudesse durar mais do que alguns meses. O Ato Institucional de 9 de abril foi uma violência.Goulart se dizia pronto para fechar o Congresso e tomar poderes discricionários nas mãos.ReconhecimentoEm fitas gravadas na Casa Branca, o presidente Johnson disse esperar receber o reconhecimento pela derrubada de Jango, não ser criticado.Gordon, em entrevista à imprensa brasileira, afirmaria que "a operação Brother Sam, atribuída à CIA, foi na verdade uma operação da Marinha de Guerra orquestrada por mim. A idéia era ter nas redondezas navios de guerra que pudessem, primeiramente, ajudar os cidadãos americanos a fugir do Brasil em caso de guerra civil. Mesmo assim, no dia do golpe os navios estavam a pelo menos dez dias de viagem das costas brasileiras. Não poderiam ter feito nada em favor do golpe. Não traziam unidades de ataque capazes de desembarcar ou estabelecer cabeças-de-ponte no território brasileiro. Era só pessoal de apoio tático".Perguntado se os americanos mandariam tropas, caso o golpe tivesse falhado e o Brasil se visse mergulhado numa guerra civil, Gordon afirmou: "Não sei. É muito difícil saber. O Brasil é um país enorme, as dificuldades operacionais seriam incomensuráveis. O que posso assegurar é que, primeiro, analisaríamos a hipótese, e, segundo, não tínhamos na época nenhum plano preparado para isso".E finalizando o embaixador Lincoln Gordon disse: "Teria sido melhor para o Brasil e para os Estados Unidos se Goulart se arrastasse até o fim do mandato. Eu favorecia pessoalmente essa solução. Mas a situação se deteriorou rapidamente. Goulart era um fraco. Para quem achava que uma guerra civil era iminente, posso considerar como pacífico o golpe que o derrubou".* Antônio Sérgio Ribeiro, pesquisador e advogado, é funcionário da Secretaria Geral Parlamentar da ALESP.O autor agradece a colaboração de Sandra Sciulli Vital, da Divisão de Biblioteca e Documentação da ALESP.