"Os programas de combate à exploração sexual infanto-juvenil precisam ser articulados e mais descentralizados, para dar conta de um aspecto que tem caracterizado esse tipo de crime: sua interiorização. E quanto menor a cidade, mais difícil se torna denunciar ocorrências", afirmou a deputada Beth Sahão (PT), coordenadora da Frente Parlamentar contra a Exploração Sexual Infanto-Juvenil no Estado de São Paulo, organismo que promoveu nesta segunda-feira, 10/10, na Assembléia Legislativa, o Encontro Estadual de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual.Beth fez um balanço das atividades da frente " criada em fevereiro e composta por 22 deputados ", que já realizou 15 audiências públicas em municípios de vários portes. "E nem sempre o resultado é algum avanço, porque algumas cidades resistem ao debate e ao enfrentamento do problema", revelou.A deputada apontou como um dos problemas a ausência de dados sobre exploração e abusos no interior. Mas um estudo feito pelo Grupo de Pesquisa sobre Violência e Exploração Sexual, da Universidade de Brasília (Violes/UnB), a pedido da Secretaria Especial de Direitos Humanos do governo federal e em parceria com a Unesco, confirma a tese da interiorização: das 930 cidades brasileiras com denúncias de casos de exploração infanto-juvenil, 454 têm entre 20 mil e 100 mil habitantes.Segundo Renata Libório, professora da Universidade Estadual Paulista e integrante do Violes, também preocupa o fato de a exploração estar cada vez mais vinculada ao crime organizado: o estudo apontou a existência de 110 rotas nacionais de tráfico de seres humanos."E sem políticas sociais e de renda eficazes fica difícil superar a atração que os mercados clandestinos exercem sobre jovens em situação de risco", completou Renata.Alguns avanços aparentemente menores foram valorizados por Neide Vianna Castanha, secretária executiva do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. "Vencer o paradigma da moral e passar a ver a exploração sexual de crianças e adolescentes como uma violação dos direitos humanos, e não dos costumes, não é pouca coisa", ela avaliou. Neide também considera importante a conscientização de que "o que caracteriza esse fenômeno é a violência, e não a falta de vergonha na cara".Participaram também do evento o deputado Sebastião Almeida (PT), membro da frente parlamentar paulista; a psicóloga Dalka Ferrari, coordenadora do Centro de Referência às Vítimas da Violência/Instituto Sedes Sapientiae; e a deputada federal Telma de Souza (PT/SP), que integra a frente parlamentar federal em defesa da criança e do adolescente.Telma propôs que em 2005 se consolide um pacto nacional entre as três instâncias parlamentares " federal, estadual e municipal " para atuar no combate à exploração de jovens e adolescentes.Articulação entre poderesConforme Nazira Brudnewski, presidente da Comissão Estadual de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto Juvenil em São Paulo (Ceevij/SP), a implantação de algumas ações são essenciais para dirimir a exploração infantojuvenil, como a divulgação dos abusos cometidos contra as crianças e os adolescentes, o fortalecimento do núcleo familiar e as parecerias entres as universidades públicas, o poder público e ONGs.Nazira lembrou que a partir do objetivo de reduzir a violência doméstica, manter os jovens ocupados e reduzir o índice de gravidez entre jovens foi criada a Casa do Adolescente, resultado de uma parceria entre a Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social (Seads) e a Secretaria Estadual da Saúde.A secretaria tem uma central de atendimento para receber denúncias, críticas e sugestões, que podem ser feitas pelo telefone (0xx11) 32183322 ou pelo endereço eletrônico faleconosco@desenvolvimentosocial.sp.gov.br. Secretaria especial dos direitos humanosDe acordo com informações de Pedro Pontual, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Sedh, a aprovação e criação de programas de combate à exploração infantojuvenil, apesar de recentes, são rigorosas. Em 2000, o governo federal aprovou a criação do Plano Nacional de Enfrentamento do Abuso e Exploração Sexual Infantojuvenil, mas foi em 2003 que o Executivo federal priorizou e intensificou o trabalho iniciado anos antes, criando em 2004, o Plano Presidente Amigo da Criança e do Adolescente.O que é Sedh A Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Sedh, tem como principal competência a coordenação da política nacional de direitos humanos, em conformidade com as diretrizes do Programa Nacional de Direitos Humanos, PNDH. Nesse sentido, a Sedh atua tanto por meio da articulação com órgãos governamentais em nível federal, estadual e municipal, incluindo os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, como por meio de parcerias com organizações da sociedade.O apoio a projetos governamentais e de organizações da sociedade tem como premissa sua adequação ao Plano Plurianual, PPA 20042007, especificamente na execução dos seguintes programas: Erradicação do trabalho infantil; Combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e de adolescentes; Atendimento sócioeducativo do adolescente em conflito com a lei; Promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente; Direitos humanos, direitos de todos; Gestão da política de direitos humanos; Assistência às vítimas e às testemunhas aAmeaçadas: Erradicação do trabalho escravo; Nacional de acessibilidade; Promoção e defesa dos direitos de pessoas com deficiência; Proteção social da pessoa idosa; e Proteção da adoção e combate ao seqüestro internacional.Denúncias de abuso e exploração cometidos contra crianças, adolescentes e adultos podem ser feitas através do Disk Denúncia Nacional: 0800 99 0500, todos os dias da semana das 8h às 22h.