O episódio da rebelião ocorrida em 29 presídios do Estado trouxe ao conhecimento da opinião pública o alto nível de organização de milhares de detentos. Exemplo de uma sociedade penitenciária organizada, o Primeiro Comando da Capital (PCC) deflagrou uma reação coordenada de fazer inveja a muitas entidades de classe. Estatuto próprio, armas, telefones celulares, entre outros detalhes, compõem a sofisticada estrutura operacional dessa verdadeira "ONG".A perplexidade da sociedade paulista diante de realidade tão absurda e assustadora, entretanto, não deve impedir a ação, assim como a reflexão sobre os fatos - fartamente noticiados - e sobre as entrelinhas que, pouco a pouco, começam a ser apuradas pelo governo do Estado, pelas polícias e pela imprensa.A ordem deve ser mantida e, quanto a isso, o governo do Estado tem demonstrado firmeza absoluta. O governador em exercício, Geraldo Alckmin, já declarou que, inclusive, os nove presos transferidos do Carandiru - supostamente líderes do PCC - não retornarão ao complexo, como exigiram os cabeças das rebeliões. Em contrapartida, essa decisão sugere que novas tentativas de rebelião poderão ocorrer.A aproximação do PCC do Comando Vermelho do Rio de Janeiro é outro forte indício da solidez dessa macroorganização carcerária. Como uma empresa que troca de Estado seduzida pelos incentivos comuns à guerra fiscal, o PCC paulista seria uma extensão do CV carioca, supostamente fugitivo da extorsão de policiais do Estado vizinho. E basta conhecer um pouco do histórico do CV para entendermos que temos motivos suficientes para uma mobilização contrária de competência igual à demonstrada pelos detentos.A teoria do PCC assusta tanto quanto suas ações. Em estatuto próprio, harmonizam paradoxos sem nenhum encargo de consciência. Ex.: "liberdade, justiça e paz" e "a opinião de todos será ouvida e respeitada, mas a decisão final será dos fundadores do Partido". Ou, "lealdade, respeito e solidariedade acima de tudo no Partido", juntamente com "aquele que estiver em liberdade 'bem estruturado' mas esquecer de contribuir com os irmãos que estão na cadeia, serão condenados à morte sem perdão".Mas não são rebeldes sem causa. Eles a têm e nela crêem. Elencam seus reclamos e se consideram injustiçados. Todavia, é por demais complicado avaliar a problemática carcerária no Estado pela óptica dos direitos humanos quando aqueles que se dizem vítimas do sistema impõem condições de participação no próprio grupo à semelhança das típicas organizações mafiosas.Não há dúvida: a sociedade civil, o governo e as autoridades militares e políticas de nosso Estado estão diante de uma ONG do mal.*Claury Alves da Silva (PTB) é deputado estadual e vice-líder do Governo na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.