No limite do grotesco, próximo da raiz fantástico-surrealista, Mário Gruber revela suas figuras

Museu de Arte do Parlamento de São Paulo
15/08/2008 18:12

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Epígono da série II<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/08-2008/15 marioobramg.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Mário Gruber <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/08-2008/15 Mario gruber.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Servindo-se de todas as sugestões de uma experiência concreta, imune a virtuosíssimos e complacências, Mário Gruber se qualificou desde sempre como um colorista de classe, mas que não deixa à exclusiva validade da cor a missão de traduzir uma emoção visual.

Ao consagrado pintor interessa conduzir o meio interpretativo até a rendição plena, quase dramática. Nenhuma evocação é influenciada pelo cálculo, a alma é rica e vibrante. Não se explica de outra maneira a pureza sutilmente elegíaca de certas obras imersas numa extraordinária atmosfera, onde a figura está relevada no limite do grotesco, ou melhor, da caricatura humana.

Assim, mesmo quando a entoação burlesca parece aflorar através da originalidade de uma linguagem ritual, em cuja definição a sátira cede o lugar a uma tocante e patética compreensão, o que mais importa em termos pictóricos é a decantação estilística do tema. A solidão do homem, os seus tormentos existenciais não são vistos como narrações amadurecidas no isolamento, mas inseridas em narrações que se originam de uma espécie de tensão.

Se devêssemos dar uma definição completa da obra de Mário Gruber, necessitaríamos partir de sua profunda atitude anti-metafísica: o homem é no contingente e a história outra não seria para o autor senão um repetir frenético de movimentos e paixões, imersos em dramática contemporaneidade.

Por esse motivo, em certas obras desse artista como nos dois Epígonos 026/72 e 027/72 da série II, doados pelo Banco Santander Banespa ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo " a fisionomia dos retratos supera o dado objetivamente dramático para alcançar uma solução irônica, até mesmo grotesca, próxima de uma raiz fantástico-surrealista.



O Artista



Mário Gruber, pseudônimo artístico de Mário Gruber Corrêa, nasceu em Santos, em 1927, e começou a pintar em 1943, como autodidata. Tornou-se profissional aos 20 anos de idade, quando participou da Exposição Grupo dos 19 e o júri, formado por Lasar Segall, Anita Malfatti e Di Cavalcanti, conferiu-lhe o primeiro prêmio em pintura.

Em 1949, com bolsa de estudos oferecida pelo governo francês, viajou a Paris, onde aperfeiçoou seus estudos de gravura em metal. Retornou ao Brasil em 1951, quando fundou, em Santos, o Clube de Gravura, mais tarde Clube de Arte, marcando o início de sua participação na vida artística e cultural brasileira.

Em 1953, convocado por Gabriela Mistral,, Diego Rivera e Pablo Neruda, participou como delegado no I Congresso Continental de Cultura, no Chile.

A partir dessa data, os prêmios e as exposições nacionais e internacionais se acumularam e sua obra motivou a realização de dois curtas-metragens, um deles exibido no Festival de Cinema de Veneza, em 1967, com direção de Rubens Biáfora, ganhador do Prêmio Governador do Estado; o outro é A Arte fantástica de Mário Gruber, dirigido por Nelson Pereira dos Santos.

Sua participação em obras de arquitetura, a convite de seus autores, vem de longa data, destacando-se nas obras do arquiteto Vilanova Artigas, os painéis da Casa dos Triângulos na Galeria Califórnia, no Ginásio Estadual de Guarulhos, e mais recentemente marcando sua posição de vanguarda no realismo fantástico brasileiro " os grandes painéis no Aeroporto Internacional de Cumbica e na estação Sé do metrô de São Paulo.

Em 1970, montou ateliê de pintura e gravura em São Paulo, considerado um dos maiores e mais completos da América Latina; em 1974, transferiu-se para Paris, onde residiu até 1978, voltando ao Brasil e montando ateliê em Olinda, onde então o seu habitual rigor técnico e domínio pictórico se defrontam com a intensidade luminosa do Nordeste e os quase cinco séculos de tradição cultural nordestina.

Desde 1979, de volta a São Paulo, rigoroso em seu ofício, revelando como sempre suas preocupações com as questões sociais brasileiras e latino-americanas, mantém intenso ritmo de trabalho, expondo em galerias, séries de gravuras e pinturas, culminando, em 1989, com o grande painel em grés, na Biblioteca do Memorial da América Latina.

Gruber tem telas em vários museus brasileiros e internacionais, como Wisconsin State Museum College Union, USA; Museu Poushkin, Moscou, URSS; Museu de Arte Contemporânea, São Paulo, SP; Museu de Arte Brasileira, São Paulo, SP; Museu de Bahia, Salvador, BA e no Museu de Arte do Parlamento de São Paulo.

alesp