Setor do vestuário faz seminário na Assembléia

Legalizar as atividades informais é o lema do encontro (com fotos)
09/10/2001 19:02

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Iniciativa foi obra do Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco e da Câmara de Comércio Brasil-Coréia<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/Costura91001.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

DA REDAÇÃO

O primeiro seminário reunindo empregados e empregadores do setor vestuário ocorreu nesta terça-feira, dia 9/10, na Assembléia Legislativa. A iniciativa foi obra do Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco e da Câmara de Comércio Brasil-Coréia. O lema do encontro, do qual participaram autoridades do Legislativo e do Executivo, representantes de sindicatos, da comunidade coreana e boliviana, de lojistas do Brás e do Bom Retiro, não poderia ser outro: "legalizar as atividades informais do setor".

O vestuário, responsável pelo segundo maior contingente de mão-de-obra do país, perdendo apenas para a construção civil, apresenta um índice de trabalho informal alarmante. De acordo com Eunice Cabral, presidenta do Sindicato das Costureiras e vice da Força Sindical, "cerca de 100 mil trabalhadores atuam no regime informal", metade dos quais, calcula, no Estado de São Paulo.

Além da informalidade, o trabalho, executado em oficinas clandestinas dispersas pelas periferias da cidade, evoca a situação dos trabalhadores nos primórdios da Revolução Industrial na Inglaterra do século XVIII. Em meio às condições mais insalubres e perigosas, aspirando pó têxtil e debaixo de máquinas barulhentas, sob fiação pirata, os chamados "gatos", em risco permanente de incêndio, os empregados do vestuário trabalham uma média de 16 horas por dia.

A representante do Ministério Público do Trabalho, Almara Mendes, confirmou a procedência da maior parte das denúncias. E, para piorar a situação, assegurou que, ao lado de adultos, também são submetidas crianças a essa modalidade de trabalho escravo. A saída, segundo ela, é legalizar as atividades informais, restituindo aos trabalhadores condições dignas de trabalho e de vida.

/N+/Ressuscitando as câmaras setoriais/N-/

Como o trabalho informal não beneficia a ninguém, na visão de todos os participantes, o primeiro encontro pretende somar esforços conjuntos, de empregadores, empregados e autoridades, no sentido de regularizar a situação vivida por grande parte do setor do vestuário. O seminário, segundo Alexandre Loloian, representante da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho, ressuscita a "frutífera idéia das câmaras setoriais", em que prevalece a negociação e a busca mútua de resultados.

Na opinião de Thomaz Choi, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Coréia, "o encontro é louvável sob todos os aspectos". Com a aproximação patrão/empregado, e o empenho por conciliação, em vez de confronto, "todos só têm a ganhar". A comunidade coreana é responsável por 40% do vestuário feminino, criando cerca de 200 mil empregos diretos e indiretos. São mais de 2 mil empresas no Estado de São Paulo, com um faturamento total por mês da ordem de mais de R$ 300 milhões.

O seminário apresentou duas mesas. A primeira discutiu os "Aspectos negativos da informalidade", e a segunda, "Cooperativa de produção", acenou com o cooperativismo como solução possível. Categoria dispersa, em que a maioria esmagadora é constituída de mulheres, pois cada domicílio é uma unidade fabril em potencial, os empregados do vestuário podem encontrar na cooperativa, de acordo com Maria Dulcelina Vas da Costa, presidente do Sindicato Nacional das Cooperativas, uma "alternativa viável de trabalho coletivo". Conforme Maria Dulcelina, a cooperativa, como "associação de homens e não de capital", representa de fato a "terceira via", propiciando, além da capacitação profissional, "trabalho, renda, satisfação e cidadania".

O presidente da Assembléia Legislativa, Walter Feldman, reiterou, na abertura do seminário, depois de relembrar os recentes encontros havidos na Assembléia, como o de ciência e tecnologia e o do cinema paulista, o papel decisivo que tem cumprido o Legislativo estadual, de abrigar "as mais diversas manifestações dos mais variados segmentos sociais".

alesp