Passarelli: um rico temperamento e a preocupação de dar à sua obra um conteúdo conceitual.

Emanuel von Lauenstein Massarani
18/11/2003 14:00

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Obra Totem I<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/trilha.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Artista Marcos Eduardo Passarelli<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/marcoseduardopassarelli.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O mundo vive hoje em desesperada angústia e a arte, ao exprimir esse sentido de desolação, reflete posições negativas. No caso do artista Marcos Eduardo Passarelli, a situação é bem outra, com sua concepção metafísica que podemos chamar também de meta histórica, encontramos-nos frente a caminhos positivos onde a arte é resultado de uma atitude social e ecológica surpreendente.

Além disso, esse artista tem o grande mérito de estar renovando o panorama do desenho e da colagem na arte contemporânea brasileira. O seu trabalho não é figurativo nem abstrato, mas é um e outro, tanto pelo uso parcimonioso da cor quanto dos motivos que se constituem em verdadeiras variações líricas.

Seu trabalho de pesquisa utilizando plantas, frutas e algas redunda na criação de papéis vegetais de finíssima estrutura. A imagem obtida juntando esses papéis de cores diversas com materiais heterogêneos constitui o registro de um ato artístico também real e poético, tanto quanto uma pincelada ou um movimento de espátula.

Esse material fabricado manualmente assume um papel preponderante não somente por ser um casual retorno à matéria, mas pelo explícito empenho de Passarelli em viver as contradições de nosso mundo e de aceitar ao mesmo tempo as agitações e o repensar. Trata-se de um artista autêntico que resiste ao uso de modismos, de estilos e que não perde de vista o ser humano.

O artista procura uma relação amistosa com os materiais, usando-os pelo que são, sem procurar alterá-los ou modificá-los. Usa a colagem ou a assemblagem para recuperar a beleza da realidade e transformar o quadro ou a escultura, não somente em objetos de parede, mas uma espécie de documentário "in process" onde a banalidade do quotidiano adquire uma dignidade que séculos de pintura lhe haviam sistematicamente negado.

Trabalhando num "espaço diferenciado", exprime uma sensibilidade que o induz a considerações e visões metafísicas. Cor e matéria representam os arquétipos sobre os quais se fundamenta sua obra artística. Ambientada sobre tons frios, a instalação cromática na matéria insinua uma substância dentro das formas e a submete ao seu domínio.

O verticalismo de suas obras é um chamamento a novas estruturas, uma espacialidade capaz de se concentrar na criação de novas invenções, uma vibrátil sensibilidade linear. Sua pesquisa estilística reflete uma humana inquietação, conseqüência de uma luta interior entre o seu rico temperamento e a preocupação de dar à sua obra um conteúdo conceitual. Passarelli é um artista atento em encontrar sobretudo um equilíbrio moral e estético juntamente com uma reflexão histórica e uma conquista pessoal.

A exemplo de suas últimas obras, a escultura "Totem I", doada ao Acervo Artístico da Assembléia Legislativa, e realizada em papel artesanal (fibra de abacaxi, aguapé, milho e helodia) madeira e aglomerado de cana, corresponde a um gesto instintivo, uma forte aproximação à natureza e à meditação através da solidão numa ilha tropical como Ilha Solteira.



O Artista

Marcos Eduardo Passarelli nasceu em 1965, na cidade de Andradina, SP. Desde 1983 reside e trabalha em Ilha Solteira onde coordena o projeto de sua autoria sob papéis reciclados e artesanais. Formou-se bacharel em pintura pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Atualmente é coordenador técnico e artístico do projeto ilha de papel.

Em 1983, iniciou suas atividades como aprendiz de papeleiro no atelier de Lourdes Cedran e Valter Pontes. A partir de 1986 inicia uma série de pesquisas procurando a adequação dos papéis às técnicas artísticas: gravura em madeira, em metal, litogravura, aquarela e pintura a base de água e solventes. Pesquisa também espécies vegetais produtoras de celulose confeccionando os mais variados tipos de papéis.

Em 1987, foi monitor do curso "Papel artesanal" realizado na sede da Funarte em São Paulo e daquele ano a 1995 ministrou vários cursos sobre técnicas de confecção de papéis artesanais e produtos reciclados no atelier de Lourdes Cedran.

Em 1990, representando o referido atelier, participa da exposição de tecnologias ambientais em comemoração à Semana do Meio Ambiente. De 1993 a 1994 exerce as funções de professor do curso de desenho artístico no Centro Municipal de Aprendizagem em Ilha Solteira, onde apresenta o projeto para a criação da Oficina de Papéis artesanais, direcionado à adolescentes que se encontram em situação de risco.

Em 1997, sob sua idealização e orientação técnico-artística é inaugurado o Projeto de Papéis Reciclados e Artesanais de Ilha Solteira. No ano seguinte o referido projeto, sempre sob sua coordenação, é premiado com o terceiro lugar entre os projetos sociais desenvolvidos na região de Araçatuba. Nesse mesmo ano recebe o certificado do programa de gestão pública e cidadania da Fundação Getúlio Vargas e Fundação Forte.

Tem participado de numerosas exposições coletivas, destacando-se entre elas: 1ª Bienal Latino-Americana de Arte com papel feito a mão, Centro Cultural Ricoleta, Buenos Aires (1998); "Papel e natureza" , Funarte, SP (1999); Expoan, com a apresentação de adolescentes do projeto, Andradina, SP (2000); "Revelando São Paulo", Parque da Água Branca, SP (2001).

No ano 2003, por ocasião do "Gemellaggio" de Ilha Solteira - Brasil e Monte Isola, Itália, expõe no Centro Cultural e Turístico daquela cidade italiana.

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