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O diretor do sindicato da Indústria de Calçados de Franca, Ivânio Batista, tratou em tom de denúncia as exportações de couro wet-blue, um dos primeiros estágios do beneficiamento. "Esse é um crime de lesa-pátria. O couro wet-blue emprega apenas 10% da mão-de-obra total do processo de curtimento e 100% dos problemas ambientais. Enquanto nós ficamos com a poluição, os chineses ficam com os empregos", resumiu o empresário.Ontem, 25/8, foi a vez de o setor de couro e calçados expor suas dificuldades frente à concorrência da China e de outros países asiáticos aos coordenadores Frente Parlamentar em Defesa do Setor Produtivo Paulista, deputados Antônio Mentor (PT) e Vanderlei Macris (PSDB). A reunião seguiu os moldes daquela ocorrida em 7/7, quando empresários e sindicalistas da indústria têxtil levaram suas reivindicações aos parlamentares.ICMS e Imposto de ExportaçãoBatista iniciou sua exposição elogiando o governo Geraldo Alckmin, afirmando que o setor nunca teve tanto trânsito no Executivo estadual e que restam apenas algumas arestas a serem aparadas na questão tributária, como a extensão da alíquota 12% também para o ICMS recolhido no varejo. Outros detalhes que poderiam ser melhorados no âmbito estadual seriam referentes a maior rapidez na restituição do ICMS quando o produto final é destinado à exportação. "Em São Paulo, estamos navegando em mar tranqüilo, mas quando viramos a proa para Brasília, é tempestade na certa", afirmou.Entre as negociações que o setor de couros e calçados está travando no âmbito federal está a alíquota do Imposto de Exportação sobre o couro wet blue, atualmente fixado em 9%, mas com a previsão de cair a zero em um período de dois anos. "Foi preciso muita negociação para que nós mantivéssemos esse índice que, apesar de ser insuficiente, corre o risco de ser reduzido para 7% no final deste ano", explicou Wayner Machado da Silva, presidente do Sindicato da Indústria do Curtimento de Couro e Peles no Estado de São Paulo (Sindicouro) e coordenador do Comitê da Cadeia Produtiva do Couro e Calçados da Fiesp, criado na gestão de Paulo Skaf.Wayner, explicou que, para evitar a redução da alíquota de exportação, será necessário mobilizar, além da Câmara de Comércio Exterior (Camex), quatro ministérios: de Desenvolvimento, de Indústria e Comércio, de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Fazenda e, ainda, a Casa Civil. "Se não agirmos rapidamente, poderemos ter o extermínio da indústria calçadista brasileira", advertiu Wayner, lembrando que o setor gera 800 mil empregos diretos, 10% deles no Estado de São Paulo. Para dar ênfase à sua advertência, o empresário informou que a indústria chinesa inunda o mercado de calçados brasileiro com 1,6 milhão de pares, que chegam a um custo inferior a US$ 0,80, sem contar o que entra no país de forma irregular.INSSSamir Nakad, presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados e Vestuários de Birigüi, alertou que o setor faz uso intensivo de mão-de-obra, fazendo com que, proporcionalmente, haja pouco valor agregado. "A alta incidência de encargos trabalhistas faz com que a folha de pagamentos represente um terço do faturamento e 5% do produto final. Isso gera não só a informalidade, mas também o fracionamento das indústrias maiores em pequenas empresas, para que possam ter os benefícios do Simples".Sidney Beraldo (PSDB) afirmou estar participando da reunião na dupla condição de parlamentar e pequeno empresário. "O setor têxtil norte-americano foi totalmente desmantelado pela concorrência chinesa, e, se não tomarmos providências, o Brasil seguirá o mesmo caminho". Já a preocupação de Antonio Mentor (PT), de que São Paulo estaria perdendo indústrias e empregos para outros estados, foi abrandada por Wayner Machado, pelo menos no setor calçadista: "Em Franca não há mais empresas saindo do estado em busca de promessas de incentivos que muitas vezes não são cumpridos", informou, analisando que São Paulo ainda é o melhor estado brasileiro para se produzir.