Os números demonstram que o Aeroporto de Viracopos, na Região Metropolitana de Campinas, é o maior centro de trânsito de cargas aéreas do país, movimentando 10% do total brasileiro, o que representa em valores cerca de US$ 6 bilhões. Para torná-lo o entreposto aéreo do cone sul, será necessário iniciar sua ampliação, o que implica a desapropriação de uma área de 9 km2, onde vivem 4,5 mil famílias, segundo a Infraero (9 mil, segundo as associações de bairro). O projeto foi discutido em audiência pública realizada pela Comissão de Assuntos Metropolitanos da Assembléia Legislativa nesta quarta-feira, 23/11, com a presença da Infraero e de associações e de organizações não-governamentais.Presidida pela deputada Ana Martins (PCdoB), a audiência para discutir o plano de ampliação do Aeroporto de Viracopos foi solicitada pelo deputado Renato Simões (PT). O governo estadual não enviou representante, o que suscitou novo requerimento de convite aos secretários estaduais dos Transportes Metropolitanos e do Meio Ambiente, aprovado durante a sessão.GrandezasPelo Aeroporto de Viracopos, segundo Miguel Choueri, superintendente regional da Infraero para o Sudeste, passa 10% de toda a carga aérea transportada no país, o que o torna o maior entreposto brasileiro de cargas aéreas. Cerca de 270 empresas operam lá. Um quarto delas em logística. Segundo Choueri, o aeroporto gera 4 mil empregos diretos e chega a 10 mil o número de empregos indiretos. O movimento anual de pousos e decolagens é de 7 mil aeronaves, transportando de 750 a 800 mil passageiros.A ampliação de Viracopos é um plano para otimização de seu funcionamento nos próximos 30 anos. Para isso, será necessário aumentar a área hoje ocupada, de 8,5 km2, em mais 9 km2. Áreas residenciais serão atingidas, e aí está metade do problema. A outra metade é o impacto ambiental.Para fazer o levantamento da área residencial atingida, foi contratada pela Infraero uma empresa, mas o estudo ainda não foi concluído. A ampliação fará com que o aeroporto tenha no futuro a capacidade de trânsito de 55 milhões de passageiros e 850 mil toneladas de carga ao ano, conforme exposição do superintendente local da Infraero, José Clovis Moreira. Para ele, após o levantamento concluído, será possível traçar uma estratégia de remoção das famílias para novos bairros e conjuntos habitacionais.Quanto ao licenciamento ambiental para utilizar novas áreas não-residenciais, o representante da Infraero não se manifestou, alegando ser suficiente a exposição para o debate e a fim de não consumir muito tempo.DesapropriaçõesOs representantes de associações de moradores dizem estar "angustiados" com a indefinição (faz anos que se diz que o aeroporto será ampliado, mas nada começa), o que faz com que os investimentos nos bairros fique paralisado. Também não há informações quanto à forma de indenização dos moradores das áreas que serão desapropriadas. Segundo as associações, é difícil realocar habitantes numa região em que há grande déficit habitacional. Dos 17 bairros abrangidos pelo plano de expansão, seis são ocupações irregulares.Os moradores reclamam também que a empresa contratada para vistoriar as habitações " a fim de estabelecer valor do imóvel " forçou a entrada nas casas lançando mão de força policial e as marcou com uma tarja amarela nas fachadas, submetendo os moradores a constrangimentos.As indenizações também são motivo de preocupação, pois há pendências no pagamento da área original desapropriada para construir o aeroporto.Comércio local e meio ambienteAugusto Cesar Gandolfo, presidente da Sociedade Protetora da Diversidade das Espécies, tem preocupação especialmente com a devastação do último bolsão de cerrado nativo próximo ao aeroporto. Gandolfo informou que o governo estadual rejeitou o relatório de impacto ambiental apresentado pela Infraero e concedeu prazo para que a empresa apresentasse um novo (o prazo se esgota em 24/12).Os comerciantes locais também têm preocupação com a grande desocupação de área habitada. Com pouco tempo para levantar suas questões, Aníbio F. da Silva Jr., presidente da Associação dos Comerciantes e dos Comércios em torno do Aeroporto de Viracopos, indagou o porquê de expandir o empreendimento justamente para a região habitada. Para ele, o aeroporto deveria ser ampliado para a região industrial, o que reduziria os problemas sociais.Para essas entidades, as obras de ampliação não vão aumentar empregos diretos e indiretos nem há necessidade de expandir tanto a área de operação. Aníbio Jr. aponta subaproveitamento tanto de pista quanto da própria área. Gandolfo acusa grandes empresas de logística de estarem por trás do empreendimento.Fotos do Marco Antonio564 e 573: