Administradores e agências de fomento se reúnem para debater a destinação de recursos ao desenvolvimento local. Aberta terça-feira, no Anhembi, a Feira e Congresso Internacional de Cidades tem 153 municípios participantes. Da RedaçãoSob o tema "Limite e Possibilidade para o Financiamento do Desenvolvimento Local", administradores municipais e representantes de agências de fomento se reuniram no Palácio das Convenções do Anhembi para o debate-conferência que fez parte da programação do segundo dia da Urbis 2003, que acontece até sexta-feira, 25/7. Na mesa de debates, o secretário das Finanças do município de São Paulo, Luis Carlos Fernandes Afonso, o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, a chefe do Setor de Desenvolvimento Urbano para a América Latina e Caribe do Banco Mundial, Maria Emília Freire, e o diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a América Latina, Waldemar Wirsing. As cidades têm capacidade de financiamento para o desenvolvimento local?Segundo Fernandes Afonso, as cidades têm competência para promover investimentos nas áreas sociais. Quanto ao desenvolvimento, as experiências demonstrariam que o planejamento e a visão estratégica vêm mudando a realidade econômica dos municípios. Ele considera que o debate sobre finanças públicas deve abandonar o enfoque ortodoxo, que privilegia o equilíbrio receita-despesa. Para o secretário, o conceito de financiamento dos governos locais deve considerar pontos importantes:1) A capacidade de os municípios trabalharem suas receitas a partir de esforços de arrecadação e de políticas tributárias, envolvendo-se de forma mais ativa nas decisões sobre a reforma tributária, é um dos aspectos principais da atual conjuntura; 2) a interferência dos municípios nos debates sobre reforma fiscal não deve se restringir ao aspecto da arrecadação; tem que avançar na discussão sobre as despesas que cabem aos municípios. Do total da arrecadação tributária do país, os municípios participam de apenas 15%. "As cidades precisam ter maior participação na distribuição da receita tributária, promovendo uma rediscussão do pacto federativo", defende. 3) as poucas linhas de crédito hoje existentes para o financiamento dos municípios brasileiros constituem-se em outro obstáculo. O secretário considera impossível manter regras fixas para o financiamento de todos os municípios - as diferenças regionais e de características econômicas e sociais devem ser levadas em consideração. Vencer a burocracia, estimular a capacitação das cidades para desenvolver projetos e rever os limites de endividamento dos municípios são temas que estão na ordem do dia sobre financiamento do desenvolvimento local, considera Fernandes Afonso.O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, endossou o diagnóstico do secretário municipal. Para Mattoso, desde 1998 os municípios sofrem forte contingenciamento. Algumas condições gerais e problemas comuns aproximam as cidades brasileiras nos últimos vinte anos. A concentração da atividade econômica e da população na região sudeste e a velocidade dos deslocamentos demográficos, acentuando as disparidades interpessoais e inter-regionais, colocam questões para a distribuição territorial da renda. A taxa de urbanização no Brasil é de 81%. Nas regiões metropolitanas estão concentradas 68 milhões de pessoas. "Há, porém, uma distância entre as instituições de planejamento e de políticas fiscais e os problemas vividos pelas regiões metropolitanas".Mattoso ressalta a importância das soluções administrativas consorciadas, que vêm sendo desenvolvidas pelos municípios. Ele nota que a Caixa Econômica Federal é uma instituição atípica, pois é a única que está presente em todo o pais (5061 cidades), desempenhando papéis diversos, como agente governamental estratégico das políticas de habitação, saneamento e desenvolvimento urbano. Funcionando como banco comercial, de desenvolvimento urbano e de transferência de benefícios, a Caixa injeta na economia cerca de R$ 28 bilhões, efetuando cerca de 300 milhões de pagamento por ano.Esse desempenho econômico-financeiro e a elevada rentabilidade da instituição permitiriam uma dedicação maior ao desenvolvimento de atividades junto aos municípios. Mattoso sublinhou as iniciativas do governo federal para promover a inclusão financeira de cerca de 25 milhões de pessoas e as políticas de microfinanças que estão sendo desenvolvidas como fatores de desenvolvimento e de estímulo à competitividade do setor financeiro. Relacionou, ainda, os programas na área de habitação e de saneamento que, segundo sua previsão, vão estimular investimentos privados. De um total de R$ 25 bilhões que o banco dispõe para vários programas, 40% já estão com os tomadores finais. Através de diferentes programas, a Caixa injeta nos municípios aproximadamente R$ 14 bilhões. Em algumas cidades, disse Mattoso, essa soma representa de 80 a quase 100% dos orçamentos públicos.Apoio sob critérioMaria Emília Freire, do Banco Mundial (BIRD), e Waldemar Wirsig, do BID, apresentaram aos participantes da Urbis os projetos que suas instituições desenvolvem junto aos municípios brasileiros e de outras partes do mundo. Ambos ressaltaram os critérios e exigências dos bancos para apoiar, do ponto de vista financeiro e da assistência técnica, projetos municipais de desenvolvimento urbano.Entre essas exigências, figuram o equilíbrio fiscal e um fluxo de caixa saudável como base para obtenção de créditos e possibilidades de concessão de serviços públicos. A capacidade de endividamento dos governos, sua estrutura institucional, a organização do setor financeiro e o enquadramento no contexto macroeconômico do país são condições para que as cidades possam se beneficiar desses instrumentos de ajuda econômica. Atualmente, o Banco Mundial e o BIRD direcionam apoio a projetos de cidades médias e desenvolvem parcerias nas áreas de desenvolvimento urbano. O Mundial, por exemplo, concede anualmente de U$ 1 a U$ 2 bilhões de empréstimos para o setor urbano e de saneamento no Brasil."Se o Brasil, como fazem os países desenvolvidos, destinasse 2% do Produto Interno Bruto para investimentos em infra-estrutura local, desembolsaria cerca de U$ 12 bilhões - mais do que o dobro do investe atualmente", disse Maria Emília Freire.