A mística do Monumento de 1932 reside na simbologia representada pelo nº 9, de 9 de Julho

Emanuel von Lauenstein Massarani
07/07/2003 20:00

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Monumento Obelisco, idealizado por Galileo Emendabili<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/Obelisco detalhe.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> A altura do Obelisco, da base até o topo, é de 72 metros<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/Obelisco.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Neste ano em que se comemoram os 71 anos da Revolução Constitucionalista de 1932, nada mais justo do que dar a conhecer um pouco da história do Monumento Obelisco, idealizado por Galileo Emendabili, para perpetuar no granito a grande epopéia paulista.

Com efeito, alguns anos antes de falecer, o grande escultor, num de seus longos ¨bate-papos¨ com seu neto Paulo Emendabili Carvalhosa, transmitiu-lhe pormenores curiosos sobre o monumento cuja mística reside na simbologia, toda ela representada pelo numero 9, de 9 de Julho, data máxima da Revolução.

Inicialmente dentista, hoje ativo advogado e perpetuador da memória do saudoso artista, Paulo Emendabili Carvalhosa nos descreve em seu relato que ¨nove são os degraus que conduzem à cripta do Monumento; a altura do Obelisco, da base até o topo, é de 72 metros (7+2=9); e da cripta ao topo a distancia é de 81 metros ( 8+1=9, além do que 81 é o quadrado de 9). Se fizermos a soma aritmética desses valores (72 e 81) teremos 7+2+8+1=18 ( 1+8 = 9 ).

Cada face do Monumento esta orientada para os quatro pontos cardeais e cada uma delas, com suas respectivas esculturas e alto-relevos representa 100 anos da história de São Paulo. A praça onde emerge o Monumento no Ibirapuera simboliza um coração: coração na terra, que no seu interior abriga a cripta em forma de cruz grega sustentada por arcos que lembram as tradicionais arcadas da Faculdade de Direto do Largo São Francisco, berço do movimento de 32.

Foi por esta razão que o escultor concebeu a iluminação da cripta do Monumento, vinda do chão, como a lembrar a luz mortos que vem da terra. São três as portas de bronze que conduzem do exterior do Monumento ao interior da cripta e vale ressaltar que todas elas abrem- se para o exterior, para o mundo tal como os portais dos cemitérios da Velha Europa, terra natal de seu Avô .

Bem no centro da cruz localiza-se a estátua em mármore do Soldado Desconhecido, que repousa sobre um bloco de mármore maciço, com os nomes inscritos dos quatro primeiros caídos pela Revolução. Esse bloco de mármore, por sua vez, está sobre uma Bandeira Paulista em preto e vermelho, que, obviamente, não se vê. E sob ela estão depositados os restos mortais de Miragaia, Martins, Drausio e Camargo, além de Paulo Virgínio.

Vale salientar, ainda, que a base do Obelisco cai a prumo sobre o centro da cruz e, portanto, o soldado em mármore encontra-se no centro tanto da cruz quanto da circunferência traçada imaginariamente pela própria base do Obelisco.

Paulo Emendabili Carvalhosa esclarece, ainda, que, segundo o pensamento de Galileo Emendabili, o soldado em mármore vela por seus heróis, por sua Bandeira e pela Constituição - motivo principal da epopéia de 1932. Seu olhar fixa a base do Obelisco, que internamente tem a forma de um obus de canhão situado em nível superior. Suas paredes são incrustadas de mosaicos representativos da História de São Paulo e com duas portas de bronze que se abrem de fora para dentro, com esculturas que descrevem o movimento revolucionário. Essas portas são voltadas uma para a Avenida 23 de Maio e outra para o Parque do Ibirapuera.

O celebre escultor quis também que o Obelisco representasse internamente um canhão a ser acionado pelo Herói no caso de violação à Lei Constitucional, enquanto que, externamente representa a lâmina de uma espada que atravessa o coração de São Paulo, acolhendo os filhos mortos em terra paulista por tão nobre causa.

Um pouco da história do Monumento de Galileo Emendabile

Galileo Emendabilli nasceu em Ancona, (Itália) em 1898. Aos 25 anos, em 1923 escolheu o Brasil como sua segunda pátria onde se integrou nos vários movimentos artísticos, confraternizando com os intelectuais e os artistas da época. Após executar inúmeros Monumentos e Estátuas que o fizeram conhecido e descutido, concorreu em 1934 com duas maquetes ao concurso público para a criação do Monumento - Mausoléu aos Heróis da Revolução Constitucionalista de 1932. Ambas foram premiadas: a intitulada " 1932 " ganhou o primeiro lugar e a outra o segundo lugar. Faziam parte, da Comissão Julgadora entre outros, Mário de Andrade e Victor Brecheret, dois valores exponenciais da Cultura Paulista.

Por toda uma celeuma política e depois financeira, esse Monumento somente pôde ser iniciado em 1950. Ainda inacabado, foi inaugurado em 1954, por ocasião do IV Centenário de São Paulo. Só anos mais tarde pôde ser concluído e hoje é Patrimônio Histórico do Estado de São Paulo, que aguarda hoje uma urgente restauração.

Fiammetta Emendabilli, com quem tivemos a oportunidade de conversar por diversas vezes sobre a obra de seu ilustre progenitor, dizia-nos com emoção: "Testemunhei, como filha, o labor incansável, a paixão com que Galileo Emendabilli se entregou de corpo e alma à tarefa de construir o importante monumento paulista".

"Verdade se diga: Emendabilli não idealizou o Monumento-Mausoléu friamente, como um artista que recebe uma encomenda e cuida de executá-la. Nada disso. Quando se impôs o dever de edificar o magnífico Monumento do Ibirapuera, um dos mais belos do mundo no gênero, ele se sentia um paulista, um brasileiro comovido com a epopéia. Um brasileiro que soube alcançar a finalidade mais alta do movimento que objetivou libertar o país da ditadura e outorgar-nos, afinal, uma constituição disciplinadora de nosso ordenamento jurídico e democrático.

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