ÁGUA COM CHEIRO, COR E SABOR - OPINIÃO

Nivaldo Santana*
04/04/2002 15:05

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O Dia Mundial da Água, comemorado em 22 de março, nos faz refletir sobre o tema, a sua importância para a vida no planeta e a necessidade de investimentos para garantir que todas as pessoas tenham acesso à água tratada, de boa qualidade.

Desde criança aprendemos que a água é um líquido precioso, indispensável para a vida. Sua fórmula (H2O) e suas características (inodora, incolor e insípida) fazem parte de qualquer manual de iniciação de química.

Um outro ponto importante é o fato de o Brasil possuir 12% das reservas mundiais de água doce, o tipo de água mais adequado tanto para o consumo humano como para múltiplas atividades econômicas.

O grande problema, todavia, é que boa parte dessa água doce está concentrada na região norte do país, ao passo que regiões como a grande São Paulo vivem um período de preocupante escassez. Mas isso, por si só, não justifica as agruras que a população tem de passar, constantemente às voltas com a falta d''água e, agora, com a duvidosa qualidade. Se a escassez de chuvas é previsível, maior volume de investimentos é necessário, a fim de evitar que São Pedro venha a ser considerado culpado.

O sistema Guarapiranga-Billings, por exemplo, responsável pelo abastecimento de 3,9 milhões de pessoas, vive grave crise de escassez e de qualidade de água, agravado nos últimos meses com a proliferação desenfreada de microorganismos chamados cianobactérias, responsáveis pela presença de cheiro desagradável e odor insuportável na água tratada pela Sabesp.

Em recente audiência pública realizada na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, o vice-presidente de produção de água da Sabesp, Sr. Antônio Marsiglia, reconheceu a existência do problema, mas assegurou que o cheio e o sabor não prejudicam a saúde, embora causem desconforto.

Segundo o dirigente da Sabesp, a empresa segue rigorosamente os parâmetros estabelecidos pela Portaria nº 1469, de 29 de dezembro de 2000, da Funasa ? Fundação Nacional de Saúde, órgão da estrutura do Ministério da Saúde. A portaria define as normas de controle e qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.

A degradação dos mananciais e a inércia do poder público tornam distante a solução do problema. No caso do sistema Guarapiranga, a multiplicação das algas e a manutenção da água com gosto e cheiro ruins irritam a população e intrigam especialistas da área. É reduzir a dimensão do problema repetir apenas que a água não prejudica a saúde.

Em recente seminário realizado no Rio de Janeiro, técnicos e especialistas do setor de saneamento básico debateram um documento denominado ?Cianobactérias tóxicas: impactos na saúde pública e processos de remoção em água para consumo humano?, elaborado pelo Ministério da Saúde, o assunto é tratado com a seriedade e preocupação devidas.

Sem ser sensacionalista, mas procurando alertar os responsáveis pelo setor, o referido estudo analisa casos de aumento das florações de cianobactérias, que podem provocar a produção e a liberação de toxinas, conhecidas como cianotoxinas, cujos efeitos podem levar à contaminação e à morte.

Países como Austrália, Inglaterra, China e África do Sul já enfrentaram problemas semelhantes. No caso do Brasil, o documento relata dois casos dramáticos. Em 1988, 88 pessoas faleceram por ingerir água contaminada e em 1996, em Caruaru, Pernambuco, 130 doentes rena

is crônicos passaram mal ao realizarem hemodiálise, 60 dos quais vieram a falecer, também por problemas advindos da água.

Embora a Sabesp detenha os melhores quadros profissionais e tecnologia de ponta, há evidências de que o tratamento de água tem limites e seria temerário subestimar o perigo da presença de substâncias tóxicas nos mananciais degradados.

Investimentos pesados na recuperação e preservação dos mananciais, desenvolvimento de novas técnicas de tratamento de água e ampliação dos investimentos públicos em saneamento básico são medidas vitais para garantir água em quantidade e qualidade adequadas para a população e passos inicias para enfrentar esse grave problema.

Nivaldo Santana, deputado estadual pelo PCdoB/SP, funcionário da Sabesp há 22 anos

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