Alma Severina

Opinião
08/12/2005 17:46

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Milton Flávio<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/MiltonFlavio7.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

É difícil saber quem tem ascendência sobre quem: se o PT influencia Severino Cavalcanti, ou se Severino Cavalcanti faz a cabeça dos petistas. O fato é que eles se assemelham. Como irmãos siameses. Ambos compartilham da tese equivocada, segundo a qual não há porque, em estando no poder, fazer distinção entre os interesses do país e os do partido. Para eles, é tudo uma coisa só. Ignoram os mais comezinhos princípios republicanos.

Antes de virem à tona, por obra de Roberto Jefferson, as inúmeras denúncias de corrupção que assolam o governo e o partido de seu chefe-supremo, a cúpula do PT tinha por hábito se reunir no Palácio do Planalto para fazer seus negócios, sob os olhares complacentes do quase guerrilheiro José Dirceu e de Lula da Silva. Ali, se reuniam, tramavam, decidiam as nomeações para cargos de confiança, faziam negócios, projetavam um futuro radiante para o Partido dos Trabalhadores e, quiçá, para eles mesmos.

Seguramente, não foram poucos os charutos cubanos que arderam alegremente nas salas freqüentemente ocupadas por aquela gente de baixo extrato. Hoje, andam meio sumidos. Mas não há notícia de que eles tenham aprimorado o caráter.

Há cerca de três meses, Severino Cavalcanti teve que renunciar o mandato e, por extensão, a Presidência da Câmara dos Deputados, para escapar de uma cassação mais que certa, já que, entre uma sessão e outra, ele se dedicava a achacar o dono de um restaurante. Coisa miúda, perto do que foi operado pela dupla Delúbio-Valério. Mas igualmente criminosa. E, portanto, igualmente passível de punição.

O fato é que Severino Cavalcanti continua tão poderoso quanto antes da cassação, ou mais. Um de seus filhos segue muito bem empregado pelo governo federal, em Pernambuco, seu estado de origem. Até onde se sabe, igual destino tiveram os que por ele foram indicados para ocupar cargos de confiança na administração "inaugural" de Lula da Silva. Sabe quem indicou o atual ministro das Cidades? Ele mesmo: Severino Cavalcanti.

Agora ficamos sabendo, por meio de reportagem publicada na revista Veja, que Severino é muito mais poderoso do que se poderia imaginar. O homem dá expediente diariamente no Ministério das Cidades, recebe prefeitos e deputados, atende suas reivindicações, consegue liberar recursos para as emendas orçamentárias de sua autoria e chega a despachar da própria sala do ministro oficial, seu apadrinhado. Ficamos sabendo mais: que o governo chegou a lhe pedir o favor de agir em prol da absolvição em plenário de José Dirceu.

Diante disso, não há como negar que o espírito petista impregnou a alma de Severino. Ou terá sido o contrário?

*Milton Flávio é professor de Urologia da Unesp, deputado estadual pelo PSDB e vice-líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo

miltonflavio@al.sp.gov.br

www.miltonflavio.org

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