Deputado responde às acusações de envolvimento no caso de Celso Daniel


20/05/2004 20:01

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Deputado Donisete Braga, à esquerda, concede entrevista coletiva <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/coletivaDonizete.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

DA REDAÇÃO

O deputado Donisete Braga (PT) recebeu a imprensa nesta quinta-feira, 20/5, para responder às suspeitas de seu envolvimento no assassinato do prefeito Celso Daniel levantadas por promotores do Grupo de Atuação Especial Regional de Prevenção e Repercussão ao Crime Organizado (Gaeco), de Santo André. O procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho, encaminhou documentação produzida pelos promotores ao Tribunal de Justiça, com pedido de instauração de inquérito.

Donisete negou que tenha feito ligações de seu celular a partir da região do Embu na noite de 19 de janeiro de 2000. Os promotores dizem ter feito o rastreamento das ligações feitas pelo deputado na noite daquele dia e verificado que cerca de 20 ligações foram feitas do celular de Donisete a partir daquela cidade, vizinha a São Paulo e próxima a Juquitiba, onde o corpo do prefeito Celso Daniel foi encontrado na manhã do dia 20, e a Taboão da Serra, local do cativeiro em que o prefeito teria sido mantido refém antes de ser morto.

Braga diz que, entre as 21h30 e 23h45 do dia 19, esteve junto com outras lideranças políticas do Partido dos Trabalhadores em reunião no Palácio dos Bandeirantes com o governador do Estado, Geraldo Alckmin, para pedir procedimentos com relação ao seqüestro do prefeito de Santo André.

Após a reunião com o governador, o deputado teria ido ao Paço Municipal de Santo André e em seguida participado de um jantar no restaurante Baby Beef com companheiros do partido, entre eles, o vice-prefeito de Mauá, o deputado estadual Vanderlei Siraque e o deputado professor Luizinho. Após o jantar, o vice-prefeito teria deixado Braga em sua residência por volta das 4 horas. A notícia da morte do prefeito lhe chegaria mais tarde através do noticiário.

Em seu primeiro depoimento à promotoria, feito espontaneamente em maio do ano passado, Braga diz que não relatou sua ida ao Palácio dos Bandeirantes. Só viria a fazê-lo dias depois, também de forma espontânea, quando complementou seu relato anterior com a lembrança de sua estada no palácio, por considerar ser isso um fato relevante. "Em nenhum momento em que estive com os promotores me foi informado que teriam obtido a quebra do meu sigilo telefônico", disse Braga.

Quanto às ligações feitas do celular, Braga diz que foram muitas feitas e recebidas por ele naquele dia. Inclusive, a ligação realizada para o telefone de Sérgio Gomes (acusado de ser o mandante do assassinato de Daniel), feita com o objetivo de obter alguma informação nova sobre o seqüestro do prefeito.

Braga argumenta que o resultado do rastreamento das ligações de celular e o laudo da empresa Vivo partem de questionamentos contraditórios. A operadora descartou a hipótese de que as antenas de telefonia em Embu possam ter captado ligações feitas do Palácio dos Bandeirantes, distante a 10 Km. Entretanto, Braga trabalha com a possibilidade de ter ocorrido transposição de antenas que têm sinais fortes para outra de sinal fraco. O parlamentar argumenta ainda que há três anos atrás, a operadora era outra e a tecnologia também. "Não sei qual era a tecnologia da época. Os conceitos de engenharia de telefonia são muito complexos", afirmou.

Empréstimo

Questionado sobre três cheques no valor de R$ 4 mil recebidos de Sérgio Gomes, o deputado afirma terem sido objeto de um empréstimo feito por razões pessoais. Braga diz que a dívida contraída em 1999 já teria sido paga, mas não informou de que forma esta foi quitada, se em dinheiro, cheque ou depósito. O deputado disse que conhecia Gomes e o prefeito Celso Daniel desde 1988 e que suas ligações sempre foram de amizade fruto do meio político em que viviam.

Sobre ligação feita pelo empresário Ronan Maria Pinto, sócio de Sérgio Gomes, Braga diz que como muitos outros comerciantes e políticos da região ele teria ligado para o deputado para saber do ocorrido seqüestro. Braga diz que suas relações com Ronan não são exatamente de amizade, mas se resumem em um conhecimento comum que se dá entre políticos e empresários da região do ABC.

Indignação

Indignado e tranqüilo. Assim definiu-se Donisete Braga com os acontecimentos que o envolvem diretamente nas investigações sobre o assassinato de Celso Daniel. Ele se diz indignado com a postura da promotoria de não proceder pelo princípio do contraditório. Os promotores, segundo Braga, não têm se disposto a ouvir os políticos que o acompanharam na noite do dia 19 e não têm dado importância a provas concretas como as fotografias que registram sua presença no Palácio dos Bandeirantes, junto com colegas de partido, como João Paulo Cunha, José Dirceu, João Avamileno e outros. "Seria muito estranho pensar que um conjunto tão amplo de deputados do PT esteja se articulando para montar um álibi para o deputado Donisete Braga", desabafou.

Braga concluiu que não tem razões para duvidar da tese oficial da polícia, que chegou a conclusão de que o assassinato do prefeito de Santo André foi um seqüestro seguido de morte. "Agora o procurador geral deve tomar um procedimento e espero que ele estabeleça a ação o mais rapidamente possível. Não vejo a hora de manifestar-me e de ter meus direitos garantidos. Sou o principal interessado no desfecho dessa situação criada pela montagem de uma história que não corresponde à verdade. Minha indignação vem em razão do não atendimento ao princípio do contraditório. Ou há uma versão única?"

Nota da Bancada

A bancada do PT na Assembléia Legislativa publicou nota manifestando solidariedade ao deputado Donisete Braga. Reunidos na tarde desta quinta-feira, os parlamentares petistas decidiram expressar publicamente apoio ao parlamentar que está sendo alvo de suspeitas.

Íntegra da Nota

Nota da bancada do PT em solidariedade a Donisete Braga





A bancada do PT na Assembléia Legislativa de São Paulo manifesta total apoio e solidariedade ao deputado Donisete Braga. Nós, que conhecemos a militância partidária e o cotidiano da vida parlamentar, queremos dar um testemunho público da total incongruência das denúncias contra ele assacadas no contexto das investigações do assassinato do companheiro Celso Daniel.



O companheiro Donisete Braga tem toda a confiança de nossa bancada e seus esclarecimentos são mais que suficientes para afastar quaisquer ilações que o vincule aos fatos investigados pelo Ministério Público Estadual.



Neste sentido, a bancada do PT procurará as demais bancadas da Assembléia Legislativa que, com certeza, compartilham conosco desta opinião para, na próxima terça-feira, 25/05, realizar manifestação de solidariedade em plenário ao companheiro Donisete.



Estaremos também com o Senhor Procurador Geral de Justiça, Dr. Rodrigo César Pinho, para manifestar-lhe pessoalmente essa confiança e nosso inconformismo com a forma que os promotores, encarregados dessas apurações, vêm impedindo o pleno esclarecimento dos fatos.



Bancada do PT na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo

alesp