Lançamento de livro marca início das comemorações do centenário da imigração japonesa


15/01/2008 21:56

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Coral <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/MAC 13.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Presidente Vaz de Lima discursa no lançamento do livro O Nikkei no Brasil<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/MAC 28.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Presidente da Assembléia, Vaz de Lima, recebe o livro das mãos de Harada <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/MAC 36.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Kiyoshi Harada, responsável pela Associação para Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/MAC 38.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Foi lançado na Assembléia Legislativa nesta terça-feira, 15/1, o livro O Nikkei no Brasil, obra coordenada por Kiyoshi Harada, também responsável pela Associação para Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil. O lançamento marca o início das comemorações do centenário no Legislativo paulista, que deverão ter como ponto máximo a inauguração, em junho, de obra da artista Tomie Ohtake.

O evento foi aberto com a apresentação de coral composto por nikkeis e teve o apoio da Assembléia, do Instituto Paulo Kobayashi (deputado que presidiu o Parlamento paulista de março de 1997 a março de 1999 e morreu em 26/4/05), do Banco Real e da Yakult, e contou com a presença de Harada e seus colaboradores André Hayashi, Décio Nakagawa, Isidoro Yamanaka, Kazuo Watanabe, Kyoko Nakagawa, Masato Ninomiya, Massami Uyeda, Reimei Yoshioka, Renato Yamada, Roque Nishida e Tuyoci Ohara, além do Ministro da Aeronáutica, Juniti Saito.

O Legislativo paulista formou uma comitiva de deputados para estruturar atividades relativas às comemorações do centenário da imigração japonesa. Três desses parlamentares participaram da solenidade desta terça-feira: Said Mourad (PSC), João Caramez (PSDB) e Samuel Moreira (PSDB). Integram ainda a comissão Célia Leão (PSDB), Carlinhos Almeida (PT), Estevam Galvão (DEM) e Luís Carlos Gondim (PPS).

O presidente da Assembléia, Vaz de Lima, recebeu o livro das mãos de Harada e discursou lembrando a trajetória dos imigrantes japoneses no Estado de São Paulo. "Em junho completam-se 100 anos da chegada das primeiras famílias de japoneses que embarcaram no Kasato Maru rumo ao trabalho nos cafezais do Oeste paulista, ajudando a construir o desenvolvimento de São Paulo." O presidente afirmou que os descendentes de japoneses hoje se destacam em várias áreas e citou o ex-presidente da Assembléia, Paulo Kobayashi, que, segundo Vaz de Lima, é exemplo de compromisso com a causa pública. "Muito justa a homenagem feita a ele com a criação do Instituto Paulo Kobayashi."



12 autores analisam em livro a participação dos descendentes de japoneses no Brasil



Sob a coordenação de Kyoshi Harada, 12 especialistas em diferentes ramos do conhecimento humano fazem uma análise e dão seu relato sobre aspectos da imigração japonesa no Brasil, começando pela história da emigração no Japão e de como ela se originou a partir das mudanças políticas, especialmente devido ao fim do shogunato, e o ingresso do Japão na modernidade.

Essa modernidade " conforme a introdução do professor doutor em Geografia Humana pela USP, Reimei Yoshioka " levou grande parte da população rural, (80% de um total de 34,8 milhões de habitantes viviam na zona rural) a migrar para as cidades, que não estavam preparadas para abrigar tanta gente, "instalando-se grande caos com a falta de moradia e emprego", como conta o professor Yoshioka.

Reimei Yoshioka dá números a essa emigração: de um total de 244 mil pessoas que emigraram, 188 mil vieram para o Brasil e 56 mil se dividiram entre México, Panamá, Cuba, Bolívia, Venezuela, Uruguai, Paraguai e outros. O professor Yoshioka faz uma breve análise da imigração japonesa para esses países, mas se debruça com maior atenção, como era de se esperar, na imigração japonesa no Brasil, que tem como marco histórico do seu início a data de 18 de junho de 1908. Nesse dia, 781 pessoas que embarcaram no porto de Kobe, a 28 de abril, chegaram em Santos, e "deram início à epopéia cujo centenário estamos comemorando".

Se pelo lado japonês sobrava mão-de-obra, no Brasil a escravidão chegava ao fim em 13 de maio de 1888. Antes dessa data, entretanto, o país já estimulava a imigração para ocupar o seu vasto território. Apesar da preferência pelos europeus " italianos, alemães, portugueses e espanhóis eram os mais requisitados " a partir de 1907, tanto a União como o Estado de São Paulo estabeleceram as bases regulamentares para o povoamento do solo brasileiro com o Decreto 6.455 de 19/4/1907, e aceitavam todos os estrangeiros menores de 60 anos, sem qualquer restrição quanto à nacionalidade, mas com impedimento aos portadores de doenças contagiosas, inválidos, mendigos, desordeiros etc. No decreto paulista, o de número 1.458 de 27/12/1906, as restrições eram as mesmas do decreto da União e mais: "Os imigrantes deveriam vir constituídos em famílias compostas exclusivamente de, tendo cada uma, no mínimo, três indivíduos aptos para o trabalho, sendo assim considerados os de idade entre doze e quarenta e cinco anos". Entre marchas e contramarchas, o Kasato Maru saiu de Kobe e, depois de quase dois meses, chegou a Santos com 781 imigrantes que foram encaminhados para as fazendas Dumont, Guatapará, São Martinho, Sobrado Floresta e Chanan, localizadas nos municípios de Ribeirão Preto, Sertãozinho, São Manuel, Indaiatuba e São Simão.

A segunda leva de imigrantes só chegaria a Santos em 4/5/1910, no Ryojun Maru, com 906 passageiros a bordo. A notícia da chegada de uma nova leva foi saudada efusivamente pelos imigrantes do Kasato Maru.

De 1908 a 1914, mais 10 levas de imigrantes chegaram a Santos, num total de 14.892 imigrantes japoneses.



O processo de evolução e de integração dos nikkeis



"Antes mesmo da vinda dos primeiros imigrantes, os japoneses já mereciam forte repulsa da elite brasileira. Intelectuais, políticos, jornalistas e eugenistas brasileiros atribuíam a eles o estigma de raça inassimilável, quer em função de sua biotipologia, quer em razão da diferença cultural, quer em razão de se comunicar em uma linguagem de difícil compreensão para os ocidentais. Esse estigma, somado ao fato de o Japão ter se transformado em potência expansionista no século XIX, fez com que, ao lado do chamado ´perigo eugênico´, surgisse o chamado ´perigo militar´." Com essa introdução, o articulista Kiyoshi Harada, que também é o coordenador do livro, fala de como os "japoneses conseguiram, em menos de um século, superar as desconfianças das elites brasileiras e as desgraças oriundas da Segunda Grande Guerra, para se constituir não mais numa colônia, mas de se integrar à sociedade local e se transformar em um segmento da sociedade brasileira".

Harada explica ainda o termo Nikkei, termo com que são denominadas as pessoas de origem japonesa e seus descendentes que emigraram para outros países e neles criaram comunidades e estios de vida, mesmo aqueles que voltaram para o Japão e assumiram identidades distintas da população japonesa. A comunidade nikkei é composta de japoneses autóctones (isseis), seus filhos (niseis), seus netos (sanseis), seus bisnetos (yonseis) e seus tataranetos (goseis).

Kiyoshi Harada divide por etapas a evolução da integração dos nikkeis na cultura brasileira, na sua adaptação ao novo habitat e na busca de riquezas rápidas (de 1908 a 1941), da etapa da integração ou da busca de uma nova pátria (de 1942 a 1962), da etapa da identificação e da busca do conforto do lar paterno (1963 a 1980), e de 1981 aos dias atuais, que Harada chamou de "etapa de plena e cabal integração como segmento da sociedade brasileira e de transmissão da cultura japonesa".



A participação do nikkei na agricultura



O engenheiro agrônomo Isidoro Yamanaka foi o responsável pela análise da influência do imigrante japonês na agricultura brasileira. Isidoro fala das principais culturas que os japoneses desenvolveram, das conjugações dos interesses do Japão e do Brasil, do apoio do governo japonês etc.

Outros articulistas emprestaram sua experiência para comentar, às vezes até como protagonistas da situação que comentam, as influências japonesas nos diferentes cenários brasileiros.



Influências no comércio, indústria, serviços e na área de saúde



O leitor de "O nikkei no Brasil" vai encontrar tabelas e números fidedignos nas análises do engenheiro mecânico e mestre em comunicação, Roque Tsuguo Nishida, sobre a área do comércio, indústria e serviços. Vai encontrar ainda um relato do Doutor em Urologia pela USP, Renato Yamada, sobre a evolução das condições de higiene encontradas pelo professor Seizo Toda, da Faculdade de Medicina da Universidade Keiyo, em 1927, que vaticinava "os nisseis que crescerem nesse ambiente acabarão se degenerando".

Renato Yamada conta das doenças que os japoneses contraíam por falta de higiene, como o bicho-de-pé, malária, tracoma, disenteria amebiana, ancilostomose duodenal, tuberculose pulmonar e doenças mentais. "Os primeiros médicos da colônia foram facultativos japoneses que vieram ao país, graças a um acordo, socorrer os imigrantes carentes de atendimento médico. Eram o que se denominou Haken-i, isto é, facultativos que tinham permissão para atender imigrantes japoneses", conta Yamada que compara esses tempos com o atual, em que só na Escola Paulista de Medicina há três professores titulares de origem japonesa: Emília Inoue Sato, Lydia Masako Ferreira e Akira Ishida.

Outros segmentos do conhecimento humano também são comentados na obra que faz parte das comemorações do centenário da imigração japonesa no Brasil, como "Assistência Social na comunidade nikkei", de Reimei Yoshioka; "O fenômeno dekassegui", de Masato Ninomiya, bacharel em Direito pela USP; "O nikkei brasileiro no Japão", do médico psiquiatra Décio Issamu Nakagawa; "O papel desempenhado pelas associações de províncias japonesas", do advogado André Ryo Hayashi; "Intercâmbio entre o Brasil e o Japão na área jurídica", do mestre em Direito Kazuo Watanabe entre outros.

A obra tem mais de 600 páginas de informação que constroem um amálgama de conhecimento muito útil para estudiosos de História e, principalmente, de nikkeis, que podem conferir a veracidade dos fatos relatados e, inclusive, reconhecerem a si mesmos ou a seus antepassados nos muitos relatos dos autores.

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