O assassinato de um símbolo

Opinião
10/01/2006 16:51

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Deputado Romeu Tuma <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/RomeuTumaJr.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Estamos entrando em um ano de Copa do Mundo com o Brasil como forte candidato ao hexacampeonato mundial de futebol (desde que não insista no salto alto, é claro). O São Paulo acaba de sagrar-se tricampeão mundial interclubes. E o nosso Corinthians tem tudo para se afirmar no cenário internacional, graças à grande equipe que conquistou o tetracampeonato brasileiro.

Como se vê, teríamos tudo para celebrar 2006 como um grande ano para o futebol brasileiro. Estou certo de que colheremos muitas vitórias em campo, mas, infelizmente, o esporte mais popular do mundo vem testemunhando o verdadeiro assassinato de um grande símbolo brasileiro. Refiro-me ao Corinthians, segundo clube mais popular do país, maior torcida em São Paulo, que está às vésperas da dilaceração por conta de brigas intestinas entre uma diretoria que não abre mão do controle do clube há mais de uma década, e os aventureiros da MSI. Leia-se o braço esportivo das máfias russas, comandado pelo soturno e misterioso personagem Kia Joorabchian.

Alguns poderão argumentar que a parceria Corinthians/MSI foi responsável por montar um time campeão. Em parte, é verdade: o dinheiro da gangue russa garantiu a vinda de craques que não estariam ao alcance dos bolsos mosqueteiros. O problema é o custo disso. Dia após dia, a verdade vem à tona: o futuro dos novos valores " sempre o maior trunfo do Corinthians " está hipotecado aos desejos do império russo do futebol. O compromisso dessa turma para com o bom desempenho do Timão também é discutível. Tudo indica que jogadores serão arremessados de lá para cá a qualquer momento; de um time a outro na esfera de influência das máfias, seguindo os desígnios do fluxo do capital de origem suspeita. Quem garante que uma boa equipe formada ao início de um campeonato sobreviverá ao desmanche até o apito final?

Deixando um pouco os jogadores de lado, e que tal debater a marca Corinthians, de valor inestimável e que, sem dúvida, jamais foi aproveitada de forma eficiente? Clubes como o Barcelona ou o Milan mantêm sites na internet em diversos idiomas, para comercializar produtos com suas marcas em todo o mundo. O Corinthians ainda engatinha na área do marketing esportivo, mas, desde já, o filet mignon dessas novas rendas tem destino certo: os bolsos dos novos czares do futebol.

Mas, afinal, o que Kia Joorabchian e sua turma querem? Por que gastar tanto dinheiro com o futebol? Eles têm dois objetivos: o primeiro, é dar um pouco de respeito popular a biografias cinzentas, ao mesmo tempo em que se garante origem a dinheiro suspeito. A segunda finalidade é, claro, gerar (e lavar) dinheiro. Muito mais do que se investe.

Em todos os casos, o grande perdedor é o Corinthians. Nas ruas, os torcedores já percebem que o clube perdeu sua autonomia; que há hoje dois Corinthians " um, o tradicional e o outro, de propriedade da famiglia Joorabchian. Um decide uma coisa, o outro anuncia o oposto. Não se iludam os que sonham com novos títulos para o time: a persistir essa situação esquizofrênica, nosso clube, um dos grandes símbolos de São Paulo e do Brasil, será rasgado em pedaços.

A mensagem é clara. É preciso evitar essa fragmentação a qualquer preço. É preciso garantir que o Corinthians volte às mãos da nação que o construiu em 95 anos de história. Caso contrário, seremos cúmplices de um verdadeiro assassinato.



*Romeu Tuma é delegado de Classe Especial da Polícia Civil, deputado estadual (PMDB), ex-presidente e atual integrante da Comissão de Segurança Pública, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos do Consumidor e Corregedor da Assembléia Legislativa de São Paulo

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