Roberto Jefferson, o bode expiatório da hipocrisia

Opinião
28/09/2005 20:04

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Campos Machado<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/campos machado.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Embora seja muito utilizada, nem todos conhecem a origem da expressão bode expiatório. Ela vem de um antigo costume das tribos judaicas de, uma vez por ano, escolher um bode do meio dos rebanhos. Cada um dos membros da tribo colocava então a mão sobre o bode, "depositando" ali os pecados e, feito isto, o animal era mandado para morrer no deserto, levando com ele os pecados de todos que assim seriam expiados pelo sacrifício do animal.

A cassação do deputado Roberto Jefferson, presidente licenciado do PTB, foi uma tentativa de recriar o antigo ritual. Cada um dos deputados que votaram a favor da cassação, colocou seu voto como se através dele fosse possível expiar os tantos erros, desvios e atos ilícitos denunciados pelo próprio Jefferson, ao invés da punição dos culpados, das mudanças legais que visem corrigir aquilo que o deputado chamou muito propriamente de "domínio da hipocrisia". Se a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude, tal como diz o velho adágio, então a cassação de Roberto Jefferson não é uma humilhação, mas uma covarde homenagem.

Não é preciso ser observador arguto para perceber que após a cassação o volume geral da crise no Congresso Nacional amainou. Até aqueles que pretendiam limitar todas as conseqüências das denúncias de Roberto Jefferson

à cassação de menos de duas dezenas de parlamentares e limitar as investigações a uma mera agência de um pequeno banco, já sonham mais alto e jogam mais lenha no fogão porque a pizza pode ser ainda maior que a prevista.

A própria argumentação que levou à cassação é absurda, estapafúrdia, até indecente. Dizem que Jefferson mentiu ao afirmar a existência do mensalão. Ora, então seria necessário cassar também os direitos políticos de 99% dos cidadãos brasileiros que também estão certos da existência desta vexaminosa remuneração do governo federal aos parlamentares. Talvez seja isto mesmo que desejem os deputados envolvidos no escândalo, afinal, de outra forma suas chances de reeleição tendem a zero, porque a população não perdoará nem a vileza, nem a hipocrisia, nem a covardia. O próprio autor das denúncias contra Roberto Jefferson renunciou para fugir à cassação. Esta sim, plenamente justificada e comprovada pelas transações bancárias, através das quais milhões de reais foram transferidos da conta deste implausível filantropo " ou philantropo " que é Marcos Valério.

Numa absoluta inversão de valores, que revela não só o culto da impunidade, mas também a degradação moral dos seus acusadores, Jefferson corajosamente admitiu seu erro e apontou as mazelas que enriquecem os corruptos entranhados no poder, e de forma injusta e desumana, é punido com rigor. Já mentir descaradamente inventando histórias inacreditáveis e explicações mirabolantes, e esforçar-se por manter intactos os esquemas denunciados pelo ex-deputado, isto, sim, é premiado com o perdão. A cassação de Roberto Jefferson, em especial, se não for seguida de uma ampla limpeza no Congresso, é a vitória da Mentira covarde, mas orgulhosa e arrogante, sobre a Verdade corajosa, mas humilhada e ignorada.

Toda a esperança agora reside onde ela sempre esteve de fato, na reação do povo, dos cidadãos aviltados junto com Roberto Jefferson, dos eleitores desrespeitados em suas intenções. Os covardes e os corruptos apenas acham que estão e ficarão impunes, muito cedo se rejubilam com a vitória da Mentira, porque a sociedade sem dúvida saberá ser mais justa com Jefferson, e não esquecerá os corruptos que ele denunciou.

As próximas eleições serão o ajuste de contas da população com a tropa do Mensalão. Foi justamente por temerem isto " não por nenhum outro motivo " que cassaram Roberto Jefferson. Pusilânimes, tremiam ante a possibilidade de se verem confrontados pelos discursos dele na campanha eleitoral, desnudando o esquema de corrupção do qual participaram. Mas os subterfúgios desta malta não serão suficientes para livrá-los das penas devidas nas garras de um povo cuja vontade de justiça não foi nem aplacada, e nem desviada pela cassação de Jefferson.

É por estes motivos que defendo a permanência de Roberto Jefferson como presidente do PTB. Será uma clara demonstração de que o partido não abandona aqueles que se empenham na sua construção, como não compartilha e nem compactua com as armações ilimitadas dos "mensalinhos", tampouco senta com eles á mesa para saborear a pizza regada com o suor do povo e temperada com a infâmia.

Campos Machado* é deputado, advogado, líder estadual e vice-presidente nacional do PTB.

www.camposmachado.com.br

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