Opinião - O Abolicionista Joaquim Nabuco


18/06/2010 19:47

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Conhecido, principalmente, como uma das lideranças da campanha pelo fim do sistema escravista, foi também deputado, diplomata, jornalista e autor de obras de destaque, como "O Abolicionista" e "Um Estadista no Império", mesmo após cem anos de sua morte, Joaquim Nabuco ainda é referência para os brasileiros. Já que sua história se funde à do País, não poderia deixar de relembrar a importância desta complexa figura.

Joaquim Nabuco nasceu em 1849, no Recife, estudou humanidades no Colégio Pedro 2º, do Rio de Janeiro, e mais adiante se tornou bacharel em Letras. Em 1865, seguiu para São Paulo, onde fez os três primeiros anos de direito. Formou-se no Recife em 1870, mas ingressou rapidamente no serviço diplomático, falecendo em Washington em 1910. Sua trajetória como membro da aristocracia escravista que denunciou a escravidão, seu envolvimento com a causa abolicionista e também a qualidade de sua obra literária renderam-lhe admiração e respeito em vida e um grande destaque póstumo. Ele era um grande defensor do pan-americanismo, no sentido de uma efetiva aproximação continental.

A obra de Nabuco, "Minha Formação", é como um escrito de memórias em que se percebe a vida paradoxal de alguém que cresceu no centro de uma família escravocrata, mas que passou boa parte da vida lutando pela causa dos escravos. Em um dado momento, ele disse que sentia "saudade do escravo" pela sua generosidade que contrapõe o egoísmo do senhorio.

"A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil", disse Nabuco. Realmente este nobre homem nem imaginava que sentenciaria algo que ainda se repetiria cem anos após a sua morte. Um estudo publicado pela Organização Internacional do trabalho (OIT), da ONU, em maio de 2005, indicava que existiam cerca de 12,3 milhões de escravos no mundo todo, dos quais entre 40% e 50% eram crianças. A escravidão contemporânea é diferente daquela que existia no século 19, mas a atual é tão perversa quanto, pois rouba do ser humano sua liberdade e dignidade, muitos trabalham por uma miserável quantia ou mesmo por comida e acomodações. Para o artigo 149 do Código Penal brasileiro, o crime de escravidão é definido como "reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto".

A escravidão de hoje mantém-se por meio de ameaças, terror psicológico e pode chegar até mesmo a punições físicas ou assassinatos. A nova escravidão é mais vantajosa para os empresários, o sociólogo norte-americano Kevin Bales, um dos maiores especialistas neste tema, traça em seu livro "Disposable People: New Slavery in the Global Economy" (Gente Descartável: A Nova Escravidão na Economia Mundial), paralelos entre esses dois sistemas. Pare ele, a propriedade legal não é mais permitida, mas era muito mais caro comprar e manter um escravo do que hoje.

No Brasil, foi lançado em 2003, O Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo, que reúne 76 medidas de combate à prática, mas a implantação do plano tem sido lenta e às vezes esbarra na falta de verbas. A escravidão, como Joaquim Nabuco conheceu, foi abolida, mas a questão social no Brasil continua sendo desafiadora. O modo como foi realizada a abolição deixou marcas tão profundas que a sociedade brasileira ainda tem muito trabalho pela frente. Obras como a de Nabuco precisam ser lidas e relidas para entendermos o porquê de ainda tropeçarmos em problemas do século 19.



*Gilmaci Santos é deputado estadual e presidente do PRB no Estado. Também participa das comissões de Defesa dos Direitos do Consumidor e de Economia e Planejamento da Assembleia Legislativa.

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