Opinião: Bullying: provocações sem limites


18/11/2010 18:00

Compartilhar:


Lançado neste ano, o filme que dá nome a este artigo trata de uma questão bem atual e também uma das mais cruéis que existe: o bullying. Situada em 2008, em Barcelona, a trama gira em torno de Jordi, um adolescente que perdeu recentemente o pai e que, ao lado de sua mãe, muda de cidade. Em princípio tudo parece que vai muito bem, o garoto se destaca nos estudos e também no basquete, mas sua genialidade chama a atenção de um colega de escola (Nacho) que aliado a um grupo de adolescentes passa a agredir, humilhar e perseguir Jordi.

Para não preocupar a sua mãe, a vitima esconde de todos o que ocorre na escola e passa a viver constantemente infeliz. Muitos colegas percebem o drama de Jordi e calam-se, só que a situação piora cada dia. As agressões começam a ficar cada vez mais cruéis e deixam de ocorrer apenas na escola. O drama que Jordi vive leva a um desfecho ainda mais terrível: seu suicídio. O filme emociona ao passo que trata não apenas de um assunto muito comum, mas também de um final cada vez mais conhecido: a morte das vítimas. O bullying é uma coisa séria e que pode levar à morte. Aqui no Brasil, neste ano, um garoto de 15 anos foi morto com um tiro no peito, perto de um ponto de ônibus em Porto Alegre (RS). Segundo informações da Polícia Civil, a vítima sofria bullying. Em 2007, o estudante Cho Seung-Hiu, 23, matou 32 pessoas na Universidade de Tecnologia da Virgínia, nos Estados Unidos, o garoto era vítima de bullying escolar. Segundo seus colegas, em entrevista à rede NBC, ele era ridicularizado durante o ensino médio, por causa do excesso de timidez e do "jeito esquisito" de falar. Em 2009, um estudante de 19 anos morreu após ser agredido por colegas mais velhos da Escola de Medicina de Prasad, na Índia e, de acordo com a autópsia, a causa da morte foi ferimento na cabeça provocado por agressões. Esses são apenas alguns dos casos que levaram a um final sem volta, mas tantos outros ainda deixam sequelas físicas e psicológicas.

Criei em 2009, o Projeto de Lei 1.239, que institui o "Programa de Combate ao "Bullying"" nas escolas públicas e privadas do Estado. A ideia é estimular combate a qualquer tipo de humilhação dentro das escolas, desta forma, caberia à unidade escolar, a criação de uma equipe multidisciplinar, com a participação de docentes, alunos, pais e voluntários, para a promoção de atividades informativas, de orientação, prevenção e sanção interna. Segundo o projeto, aquele que for vítima da discriminação, seu representante legal, ou quem tenha presenciado os atos a que se refere o artigo 2º desta lei, poderá relatá-los à Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania.

O longa "Bullying: provocações sem limites" provoca inúmeras reações e sentimentos. É um misto de indignação, tristeza e, por fim, revolta contra a violência que tem se instaurado nas escolas. A crueldade dos agressores de Jordi é tamanha que entristece lembrar que, assim como esse personagem, jovens reais vêm sofrendo por todo o mundo. Até quando a sociedade vai fazer vista grossa sobre o assunto?

Estudos feitos entre 2000 e 2003, com dois mil estudantes de 5ª a 8ª séries do Brasil, mostram que 49% dos alunos estavam envolvidos com o bullying: 22% eram vítimas, 15% eram agressores e 12% eram vítimas agressoras. De acordo com estudos na União Europeia, 39% dos estudantes sofrem com o bullying, sendo que na Espanha um em cada quatro alunos é assediado.

O Centro Multiprofissional de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar (Cemeobes) organizou dicas para que os pais identifiquem os sinais de que os filhos são vítimas ou praticam o bullying no colégio, como, por exemplo, se apresenta com frequência desculpas para faltar às aulas ou indisposições como dores de cabeça, de estômago, diarreias, vômitos; pede para mudar de sala ou de escola sem apresentar motivos convincentes; apresenta desmotivação com os estudos, queda do rendimento escolar e dificuldades de concentração e aprendizagem; volta da escola irritado ou triste, machucado, com as roupas ou materiais sujos ou danificados.

O mais preocupante é que casos de bullying continuam a crescer e nós não temos conseguido detê-los. Precisamos extirpar esse mal de nossa sociedade, o bullying precisa ser discutido entre pais, professores, alunos e até mesmo na administração da escola. As suspeitas devem sim ser comunicadas porque podem evitar um desfecho triste como o de Jordi. Por fim, remeto a uma das frases mais marcantes do filme: um dia após a morte de Jordi, o professor diz aos alunos presentes: "sua morte deve ter utilidade para nós, seria absurdo e terrível pensar que não. Eu me nego a crer que juntos nós não possamos mudar certas coisas".



*Gilmaci Santos é deputado pelo PRB e presidente estadual do partido. Participa das comissões de Defesa dos Direitos do Consumidor e de Economia e Planejamento da Assembleia.

alesp