Emanuel von Lauenstein MassaraniA primeira idéia que se pode formular, observando a obra de Arturo Carmassi, é a de liberdade. Tudo se desenvolve e se move num espaço ilimitado, sem barreiras ou condicionamento a movimentos ou influências externas.A única condição é o da inteligência que se encontra no centro daquele espaço e, portanto, por de trás da imagem. Essa liberdade não é somente da forma, mas também da fantasia e do que é desconhecido, pois por meio de forma e fantasia chega-se à obra. Com efeito, na obra coincidem forma e mistério.Carmassi, um dos grandes artistas italianos da atualidade, tem uma das mais intensas atividades pictóricas intermediada de uma não menos contínua criação no campo da escultura e da gráfica. Em realidade, o artista transferiu para outras técnicas os seus mitos, suas obsessões e o seu "teatro".Assim, gravuras sobre metal, litogravuras e serigrafias ganharam evidência plástica em vez de cromática, volumes em lugar de valores, interligação de linhas e superfícies em vez de luzes cromáticas e de profundidades prospécticas."A obra de Carmassi alcançou uma tensão de forma de grande êxito poético" - afirma o crítico Roberto Tassi. Seu percurso dentro da profundidade prossegue além da forma, e através da forma, se prolonga até o extremo ato surrealista, de um surrealismo beirando a heresia, que se concentra no "Journal Perpétuel ou a possibilidade dos signos", onde se desenvolve uma troca ininterrupta, em todas as direções, entre técnica, imaginação, símbolo e fantasma.Fragmento de obra de arte, cada página do "journal", na simplicidade ou na complexidade da sua execução, forma uma sinfonia sóbria mas eloqüente. Essas orquestrações encantam o olhar, seduzem pelo seu mistério, e retêm a atenção porque são uma espécie de gritos não articulados, que levam a sensibilidade visual ao máximo da sua emoção e a imaginação plástica à fonte de sua origem.Nas litogravuras Miscelânea Carmassi e Figuras, doadas ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho, o artista descobre, através da ininterrupta seqüência de uma escritura ideográfica a continuidade e, portanto, a igualdade de sinais gráficos desde a pré-história à fórmula gráfica da bomba atômica.O ArtistaPintor, escultor e gravador, Arturo Carmassi nasceu em Lucca, no ano de 1925. Freqüentou a Academia Albertina de Turim e realizou naquela cidade as suas primeiras exposições pessoais. Em 1952, transferiu-se para Milão, onde desenvolveu as funções de chefe de fila da pintura informal. Atualmente reside em Torre de Fucecchio, na Toscana (Itália), onde exerce suas múltiplas funções artísticas.É detentor de numerosos prêmios internacionais e suas obras fazem parte de prestigiosas coleções públicas e particulares. Desde 1955, participou das mais importantes exposições na Itália e no exterior, destacando-se: III Bienal Internacional de São Paulo; II Bienal Internacional de Jovens em Paris, França (1955); IV Bienal "A Escultura na Cidade", Antuérpia (1958); Bienal da Gráfica, Veneza, Itália (1960); XXXI Bienal de Arte de Veneza (1962); IV Bienal Internacional de Escultura, Carrara, Itália; V Bienal de Arte de San Marino (1965); XXVII Bienal de Arte de Milão, Itália (1968); IX Bienal de Arte dos países do Mediterrâneo, Egito (1971); II Trienal da Gravura, Milão; X Quadrienal de Arte Italiana, Roma (1972); Xylon 7, Friburgo, Berlim, Lugano, São Paulo - Winterthur (1975); X Bienal Internacional de Arte de Tóquio (1976); "Journal Perpetuel da Arturo Carmassi", Roma, Lausanne e Museu de Arte de São Paulo (1978).Seu filme "Carmassi Miscellanea", apresentado na Bienal de Veneza (Itália) e no Museu de Arte de São Paulo, foi realizado por Patrick Goetelen, cenário de Dominique Baechler e projeto de Emanuel von Lauenstein Massarani.