Biocombustíveis e a crise alimentar

Opinião
23/04/2008 17:29

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A polêmica está criada.



Agora, a culpa pela falta de alimentos no mundo é dos biocombustíveis.

Recentemente, o presidente do Peru, Alan Garcia, criticou os que defendem a produção deste tipo de combustível que pode ser benéfico para o meio ambiente, mas traz prejuízos incalculáveis para o abastecimento de alimentos no mundo.

O combustível do futuro também sofreu grandes ataques por parte dos participantes do Fórum Internacional de Energia, na Itália.

Mas será que os biocombustíveis disputam espaço com outras culturas da cadeia alimentar?

Os que são contra essa tecnologia argumentam que o uso de terras férteis para cultivos destinados a fabricar biocombustíveis reduz as superfícies destinadas aos alimentos e contribui para o aumento dos preços dos mantimentos. Entendem que a expansão das monoculturas, para produzir bioetanol e biodiesel, provoque o desmatamento de grandes áreas, como a Amazônia, por exemplo.

No Brasil, são 850 milhões de hectares, sendo 400 milhões de terras agriculturáveis. O projeto do Governo é de utilizar 12 milhões de hectares para manter as usinas de biodiesel do país, o que representa apenas 4% do total.

Em defesa dos biocombustíveis e do Brasil, o ex-ministro da Segurança Alimentar e Combate à Fome e atual representante da ONU para a Agricultura e Alimentação (FAO) para América Latina e Caribe, José Graziano, afirmou que os biocombustíveis não estão provocando aumento dos preços dos alimentos no mundo. Para ele, "existe uma somatória de causas distintas que empurram esses preços", afirmou , acrescentando ainda que as possíveis causas da falta de comida no mundo estaria ligada à alta nos preços do barril de petróleo, a queda nas grandes safras por causa das mudanças climáticas, além do aumento da demanda de alimentos nos países superpopulosos como China e Índia.

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribui a alta dos preços ao maior consumo de alimentos pela grande massa pobre do mundo, que antes não tinham acesso à alimentos como agora.

O relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Direito à Alimentação, o suíço Jean Ziegler, disse que a produção em massa de biocombustíveis representa um crime contra a humanidade por seu impacto nos preços mundiais dos alimentos.



Para Lula, "é muito fácil alguém ficar sentado em um banco da Suíça dando palpite no Brasil ou na África. É importante vir aqui e meter o pé no barro para saber como a gente vive e saber a quantidade de terras que nós temos e a quantidade e o potencial de produção que nós temos", afirmou o presidente.

O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, Jacques Diouf, afirmou que as fracas decisões políticas tomadas nas útlima décadas resultaram na atual crise dos alimentos e, agora, os esforços devem ser direcionados. A ONU alertou que milhões de pessoas são ameaçadas pela fome no mundo por causa da recente alta nos preços dos alimentos, mas que existem soluções para reverter o grave problema. Jacques acrescentou ainda que "é bom que as instituições internacionais estejam ajudando os pobres a ter acesso à comida. Além disso, não investimos no gerenciamento dos recursos hídricos em diferentes países do terceiro mundo. Na áfrica, somente 7% da terra é arável", afirma Jacques.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, cerca de 100 mil agricultores familiares estão inseridos atualmente no Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, produzindo matérias-primas como a mamona, dendê, girassol, soja e amendoim. Em termos ambientais, o biodiesel reduz em 75% a emissão de carbono e 100% a de enxofre. Além disso, o custo do biodiesel é inferior ao da gasolina e até mesmo do gás natural veicular, o GNV.

A Petrobras vai estabelecer parceria com a portuguesa Galp Energia para a produção anual de 600 mil toneladas de óleo vegetal, segundo o presidente da Petrogal, subsidiária da companhia no Brasil, Ricardo Peixoto.

A Galp já é parceira da Petrobras na exploração de petróleo. Ela tem 10% do bloco de Tupi, 20% de Júpiter, 20% de Caramba e 14% de Bem-te-vi, todos na Bacia de Santos.



Segundo o executivo, parte da produção será transportada para Portugal, onde servirá de matéria-prima para a produção de biodiesel. O combustível será distribuído na península ibérica.



Inovadorismo



Em 1997 um engenheiro do Ceará começou as primeiras pesquisas e experiências com o biodiesel. O cearense registrou a patente do biodiesel no Brasil " hoje o combustível é de domínio público, feito a partir do algodão.

Para a época, foi uma grande revolução mundial, mas por ser de produção cara, o projeto acabou indo para a gaveta.

A fabricação do combustível vegetal foi deixada de lado pelos brasileiros, mas atiçou a curiosidade dos europeus que, no final dos anos 80, começaram a investir milhões de dólares no desenvolvimento do combustível do futuro.

Atualmente a Alemanha produz quase 6 bilhões de litros de biodiesel por ano, o que significa 45 % da produção da União Européia.

Outros países também entraram nessa competição pela busca da energia limpa. Além dos Estados Unidos, o biodiesel também é largamente produzido na Argentina, Austrália, Canadá, Filipinas, Japão, Índia, Malásia e Taiwan. Na Europa os principais produtores são Itália, Suécia, França e Áustria que utilizam a canola, soja, palma e sementes de girassol . Sem falar do etanol, que já é produzido e consumido em outros 40 países.

Há apenas três anos o Brasil resolveu tirar o projeto da gaveta e investir pesado em sua produção. Em janeiro de 2005 a lei 11.097 permitiu a comercialização da mistura do biodiesel com o diesel, ou seja, todo o diesel comercializado no país tem 2% de biodiesel em sua composição. Em cinco anos, esta proporção chegará a 5%.

Hoje, o Brasil produz 1 bilhão de litros de biodiesel e conta com 49 usinas autorizadas pelo governo. A continuar no atual ritmo de investimentos, estima-se que, a partir de 2010, o Brasil esteja capacitado a produzir 7,5 bilhões de litros, o equivalente a 20% do consumo nacional de diesel. Essa quantidade representará, por ano, uma economia de R$ 10 bilhões nas importações de combustíveis fósseis.



Prós e Contras



Mas, estudos recentes elaborados pelo Gabinete para Assuntos Cientícos da Bélgica mostram que os biocombustíveis contribuem para o efeito estufa na atmosfera através do uso de fertilizantes e pesticidas utilizados nas colheitas, além de provocar problemas de saúde liberam mais poluentes que promovem a destruição da camada de ozônio. Para esses estudiosos os biocombustíveis ainda estão distantes das expectativas com relação à fonte ideal de energia limpa, que poderia ser à base de hidrogênio, que emite apenas água quando queimado.



Os Estados Unidos têm recebido duras criticas por terem aumentado as plantações de milho destinadas à produção de biocombustíveis, em detrimento do mercado de alimentos. Lá a produção de Etanol já consome 20% do milho produzido. Esse crescimento fez com que os preços do grão subissem 80% causando desequilíbrios na estrutura dos mercados agropecuários. E em breve a área de plantio deve crescer mais 6 milhões de hectares, invadindo a área da soja.

Mas os americanos, agora, estão investindo em tecnologia para produzir etanol da celulose (vegetais e madeira).



Segunda Geração



Técnicos do setor já trabalham no desenvolvimento da segunda geração dos biocombustíveis, baseado no conjunto das matérias orgânicas, a chamada biomassa. Esta, segundo afirmam, apresenta muito mais vantagens do que a tradicional.



O futuro desta nova geração de combustíveis tem garantia de sucesso, pois

a nova técnica permite utilizar a totalidade da planta e não apenas a semente ou a raiz, além de usar a parte não comestível das culturas. A ausência de toda concorrência com a produção de gêneros alimentícios fica ainda mais evidente quando a biomassa provém da madeira ou dos seus resíduos.

De acordo com Centro de Cooperação Internacional em Pesquisas Agronômicas para o Desenvolvimento, estima que dos 4 bilhões de toneladas de resíduos agrícolas produzidas anualmente no mundo, apenas 300 milhões de toneladas seriam convertidas em energia.

Número expressivo, se considerarmos que, atualmente, a produção mundial

de energia é de 11 bilhões de toneladas, incluindo o petróleo e seus derivados.



Ou seja, a polêmica está criada e cabe aos governantes e à comunidade científica analisar os prós e contras dessa nova fonte de energia que, sem dúvida, não vai contribuir para aumentar a fome no mundo!



*Deputado Estadual Edson Giriboni (PV)

alesp