CPI da Pirataria ouve suposta tesoureira do esquema de Lobão


19/09/2003 21:49

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Tania Santos, suposta tesoureira do esquema do contrabandista Lobão <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/piratariaC190903.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Deputado federal Luiz Antônio Medeiros preside trabalhos da CPI da Pirataria <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/piratariaA190903.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

DA REDAÇÃO

Tânia Santos, funcionária da Transportadora Búfalo Branco e garota de programa que fazia ponto na Rua Augusta, depôs nesta sexta-feira, 19/9, na CPI federal que investiga a pirataria. Presa no último dia 3 de setembro, acusada de pertencer ao esquema de Roberto Eleutério da Silva, contrabandista conhecido como Lobão, Tânia se disse vítima de uma situação.

A depoente revelou que o aluguel do escritório onde está instalada a Transportadora Búfalo Branco, no 11º andar da Galeria Pajé, está em seu nome, contradizendo suas respostas anteriores em que afirmara ser apenas uma auxiliar de escritório, sem conhecimento preciso das atividades da empresa. Marcelo Barbosa, que também está preso na polícia federal, foi apontado por Tânia como proprietário da transportadora.

Ao responder aos deputados da Comissão, Tânia, Kátia ou Vanessa, nomes usados para se apresentar aos seus clientes de programa, afirmou que tinha alugado o escritório da Galeria Pajé para fazer um favor ao uruguaio Rodolfo Cabral, seu cliente de noitadas.

A depoente revelou que as pastas que foram apreendidas em sua casa, quando de sua prisão, pertenciam ao uruguaio, mas afirmou desconhecer o conteúdo das mesmas. Segundo informações em poder dos deputados, Tânia na verdade exercia a função de tesoureira do esquema do Lobão.

Também deveria depor o delegado titular do Serviço de Investigações Gerais (SIG) da Seccional Leste, Ettore Capalbo, mas este eviou declaração médica emitida pelo hospital Albert Einstein que atestou sua internação por motivo de hipertensão arterial e hemiparesia direita e paresia facial inferior. O documento indica ainda que Capalbo estará submetido a tratamento ambulatorial até que se descarte a suspeita de acidente vascular cerebral.

'Bico' para bandido

O primeiro indiciado a ser ouvido pela CPI no período da tarde foi o sargento Luiz Carlos Filho, um dos sócios da empresa Reker, que tem escritório no 9º andar da Galeria Pajé e prestava serviços de segurança à família do contrabandista Lobão. Ele afirmou que recebia de Tânia R$ 36 mil mensais, em dinheiro, pela proteção oferecida pelos sócios e mais 22 empregados. O policial disse reconhecer em Tânia a função de secretária da empresa de importação e exportação Dinossauro, que ocupa todo o 11º andar da Galeria Pajé e pertence ao contrabandista.

Com relação à Transportadora Búfalo Branco, empresa em que Tânia afirmou trabalhar, Luiz Carlos Filho disse não ter conhecimento. Ele também afirmou nunca ter visto Lobão e que o contrato verbal de prestação de serviço foi estabelecido com Isabel, ex-esposa do contrabandista. O sargento encontra-se recolhido na Corregedoria da Polícia Militar.

O segundo depoente foi o outro sócio da Reker, soldado Arnaldo Ferracini, que cumpre prisão temporária no presídio Romão Gomes. Em um primeiro momento, o soldado não se recordou do nome de Tânia, mas lembrado pelo presidente da CPI, Luiz Antônio Medeiros, de que já revelara esta informação na véspera, reconheceu lembrar-se Tânia quando esta o levou à sala de Lobão para que o soldado apresentasse a ele a proposta de segurança privada.

Ferracini confirmou o recebimento quinzenal de R$ 18 mil, mas negou que o fizesse pessoalmente, atribuindo a tarefa a Luiz Carlos Filho e a um empregado chamado Valdir.

Luiz Antônio Medeiros despediu-se do soldado reconhecendo que o 'bico' é uma atividade usual entre os policiais, o que não se podia fazer é 'bico' para bandido.

Apenas envelopes

Após acareação com os dois policiais que depuseram à CPI, Tânia finalmente assumiu que os conhecia, mas negou que realizasse pagamentos. "Eu apenas entregava a Luiz os envelopes que eu recebia por meio de office-boys. Nunca tive curiosidade de abri-los". Tânia forneceu o número de duas contas bancárias que possui, mas garantiu que não serão encontradas grandes movimentações. "Só uso os cheques para comprar coisinhas e estou sempre no negativo".

O deputado Júlio Lopes (PP-RJ) perguntou à depoente se ela estava sofrendo algum tipo de ameaça para não colaborar com a CPI e a informou que seu silêncio a prejudicaria muito. "Negar informações a esta comissão faz com que sua participação nos crimes de Lobão deixe de ser considerada um mero ofício de despachos e passe a ser encarada como co-autoria", salientou.

A deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) confirmou à Tânia que, se insistisse em mentir, passaria a representar o mesmo nível de periculosidade que Lobão. A deputada informou a todos que o escritório de advocacia Francisco Célio Scapaticio, que incumbiu-se de assistir Tânia mas não enviou representante à CPI, defende toda a quadrilha de Lobão.

O presidente da comissão concluiu que deixar Tânia depor sem assistência de um advogado é uma estratégia da defesa para que ela seja vista como coitadinha. Medeiros convocou a próxima reunião para segunda-feira, 22/9, quando a suposta tesoureira da quadrilha voltará a comparecer e, dessa vez, terá seus depoimentos confrontados com os de Marcelo Stracieri Barbosa, outro suposto membro da quadrilha de Lobão.

alesp