A vez do futebol. De novo, corrupção

Opinião
29/09/2005 13:58

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Afanasio Jazadji<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/afanasio.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Depois de quase quatro meses seguidos, as capas das maiores revistas semanais do Brasil mudaram de assunto: deixaram de focalizar a crise política que afeta o governo federal e o Congresso Nacional. Mas, se houve uma aparente trégua nas denúncias e investigações sobre mensalões e mensalinhos, nem assim o País ficou livre do tema corrupção. A revista "Veja", em sua edição de 28 de setembro, apresentou reportagem de capa com denúncia capaz de balançar as estruturas de uma das grandes paixões do povo brasileiro, o futebol.

Uma quadrilha agia nos bastidores para subornar árbitros, fabricar resultados de jogos e, com isso, garantir dinheiro em apostas ilegais. Tão logo a revista chegou às bancas, a Polícia Federal prendeu dois envolvidos: o juiz paulista Edílson Pereira de Carvalho e o aliciador Nagib Fayad, que não tiveram como negar conversas gravadas, às quais policiais tiveram acesso, e mostradas pela "Veja". O tema tornou menos importante a decisão do Campeonato Mundial de Fórmula 1 em páginas e programas de esportes. Tomou conta do País.

Nos últimos dias, enquanto a Polícia Federal colhia novos depoimentos e provas, dirigentes esportivos discutiam a possível anulação de jogos apitados por Edílson. E, por mais que se insista que se trata de um problema localizado, fica evidente uma conclusão: o futebol, que já não reunia santinhos, comprova fazer parte do ciclo de corrupção dominante no País. Existe algo a ser feito?

Em primeiro lugar, é preciso levar em conta que o futebol, de tantos ídolos e tantas emoções, nunca foi exceção quanto ao risco de acertos em troca de dinheiro. No passado, houve inúmeras denúncias sobre árbitros venais e sobre dirigentes que se eternizam em cargos e faturam vantagens ao vender passes de jogadores ou assinar contratos de material esportivo, de jogos amistosos e de direitos de transmissão pela TV. O Brasil continua exportando craques e poderá conquistar, em 2006, seu sexto título mundial, sem jamais deixar de lado a idéia de que seu futebol é grande só dentro de campo. Fora de campo, prevalecem os oportunistas, com raras e honrosas exceções.

Outra questão: devemos considerar que a reportagem da revista "Veja", muito bem conduzida pelos repórteres André Rizek e Thaís Oyama, em seis meses de trabalho junto ao Ministério Público e à Polícia Federal, não significa uma mudança de foco da mídia, uma provável troca do tema corrupção na política pelo tema corrupção no esporte. A verdade é que o País vive clima de corrupção e a mídia tem cumprido seu papel, inclusive ao mostrar como um partido pode chegar ao poder e contrariar todas as promessas de seus tempos de oposição.

Assim, logo após a queda de Severino Cavalcanti, o Brasil entrou em outra etapa importante, a da escolha do novo presidente da Câmara. Se o futebol passa a ocupar espaço no cardápio da corrupção, nada impede a mídia e a opinião pública de continuarem em estado de alerta ao que vem de Brasília!

Afanasio Jazadji* é advogado, radialista e deputado estadual (PFL)

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