Presidente da AES-Eletropaulo responsabiliza o racionamento de 2001 pela crise do setor elétrico


18/09/2003 22:40

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Eduardo José Bernini, Zevi Kann e deputado Sebastião Arcanjo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/ComServObrPub2.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Reunião da Comissão de Serviços e Obras Públicas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/ComServObrPub1.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

DA REDAÇÃO

"O acordo entre a AES e o BNDES não é para satisfazer uma ou outra parte. Ele é importante para o conjunto do setor", declarou o presidente da AES-Eletropaulo, Eduardo José Bernini, em reunião da Comissão de Serviços e Obras Públicas, presidida pelo deputado Sebastião Arcanjo (PT), nesta quinta-feira, 18/9.

Em sua exposição sobre a situação da empresa, Bernini culpou o racionamento de energia ocorrido em 2001 pela eventual crise que a empresa enfrenta. "O racionamento foi um grande problema para todo o setor elétrico brasileiro, que teve de postergar inúmeros investimentos que estavam sendo idealizados", afirmou Bernini, sendo contraditado pelo deputado Simão Pedro (PT), que disse ter sido o racionamento "uma conseqüência da forma como foram feitas as privatizações, especialmente da falta de investimentos no setor elétrico".

O presidente da AES-Eletropaulo declarou que a situação da empresa encontra-se sob controle e que o acordo vai trazer melhores condições para que outras empresas de energia possam ter maior acesso ao mercado financeiro.

Depois de mencionar que a empresa que dirige é o maior investidor privado no setor de energia elétrica brasileiro, representando 23,7 % do capital líquido, Bernini declarou que "a AES-Eletropaulo não pretende deixar o país, pois é uma empresa sólida e operacionalmente eficiente, sendo a maior empresa de distribuição de energia da América Latina".

Neste ponto, Bernini foi contraditado pelo deputado Nivaldo Santana (PCdoB). Segundo o parlamentar, a exposição do presidente da AES-Eletropaulo faz parecer que está tudo bem e que "a crise notória por que passa a empresa, tão noticiada pela imprensa, não existe". Nivaldo citou ainda a mistura de moedas na exposição do presidente Bernini: "Os investimentos foram dados com valores em reais, mas o envio de dividendos em dólares, dando a idéia de um valor maior de investimentos e menor de dividendos, o que não é verdade". E concluiu: "Houve muito mais remessa de dividendos para a matriz do que investimentos. É uma manipulação de números".

Santana reclamou também do posicionamento assumido pelo comissário geral da Comissão de Serviços Públicos de Energia (CSPE), Zevi Kann. "A exposição de Bernini foi avalizada pelo comissário da CSPE, que me pareceu mais um órgão de propaganda da Eletropaulo", alertou.

O deputado Paulo Sérgio (PRONA) inquiriu o presidente da AES-Eletropaulo sobre o item segurança, uma reclamação constante dos funcionários da empresa, que já demitiu sete mil funcionários desde a privatização. Em sua resposta, Bernini deixa claro que o enxugamento no quadro de empregados das empresas é uma norma atual de mercado, mas que a AES-Eletropaulo está investindo na reciclagem e qualificação do serviço prestado. "É evidente a prioridade que estamos dando à segurança, com programas com custos razoáveis, mas eficientes", finalizou.



Petistas questionam processo de privatização

Parlamentares petistas traçaram um histórico da crise da Eletropaulo. No primeiro trimestre deste ano, a AES divulgou o não pagamento de dívida com o BNDES no valor de US$ 247 milhões. Em 21/5, o jornal inglês Financial Times publicou matéria afirmando que o grupo AES teria feito conluio com a Eron, com vistas a manipular o leilão de privatização da Eletropaulo. De acordo com a matéria, as duas empresas fecharam acordo para que a Eron retirasse sua proposta em troca da compra pela Eletropaulo (já sob controle da AES) de energia de uma usina térmica construída por ela. Sem concorrência, a AES adquiriu a Eletropaulo pelo valor mínimo de US$ 1,78 bilhão.

Desde então, a Eletropaulo tem colecionado índices negativos em relação aos serviços e ao atendimento público, analisa Simão Pedro, observando que as reclamações no Procon aumentaram 600% nos últimos 5 anos. "A falta de investimentos é o grande motor da piora dos serviços. Se a companhia tem que optar entre investir ou gerar lucro, ficará com a segunda opção", disse.

Tiãozinho questionou o papel dos órgão reguladores. Caberia à CSPE cumprir e fazer cumprir a legislação específica e fiscalizar as concessionárias. "A conclusão só pode ser uma: a CSPE não está cumprindo sua obrigação da maneira como deveria". O deputado também questionou a falta de transparência na privatização da companhia. "As coisas estão nebulosas e a única saída digna é a apuração dos fatos até que tudo esteja esclarecido", finalizou Tiãozinho.

A bancada petista questiona o processo de privatização e gestão da Eletropaulo. O deputado Candido Vaccarezza protocolou na Assembléia pedido de instalação de CPI. No âmbito federal, há dois meses, tramita outro pedido de CPI, solicitado pela Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, em Brasília.

alesp