A Comissão de Direitos Humanos, presidida pelo deputado Ítalo Cardoso (PT), recebeu na tarde de quinta-feira, 10/11, representantes de diversas entidades e de moradores de rua para discutir a decisão do I Tribunal do Júri de São Paulo, de rejeitar denúncia do Ministério Público contra policiais suspeitos do assassinato de moradores de rua da região central da Capital de São Paulo.O promotor de Justiça Mauricio Antonio Ribeiro Lopes, um dos denunciantes do caso, agradeceu a colaboração da Polícia Militar, que, segundo ele, agiu de forma imparcial, não fazendo defesa corporativa de seus membros. Declarou que diversos depoimentos foram recolhidos e um novo relatório seria feito. O juiz, recém chegado de Jundiaí, disse que nem tinha ouvido falar do caso, que teve grande repercussão nacional e internacional. "Esse genocídio urbano é inaceitável numa cidade como São Paulo. Não se pode ter uma segunda Candelária", indignou-se o promotor.Mauricio disse que o juiz que deliberou sobre o caso mal o conhecia, apesar de o episódio ter tido repercussão até fora do país. "O magistrado se contradisse algumas vezes nas informações fornecidas pela promotoria, por falha de leitura do teor do texto, se é que houve leitura. Ele não divulgou o resultado do inquérito sobre a denúncia do Ministério Público. Recebemos a notícia da rejeição pela imprensa", declarou. Ainda de acordo com Ribeiro Lopes, a promotoria vai entrar com recurso contra a rejeição da denúncia, e recomendou às entidades que fossem à 1ª Vara do Júri e pedissem para o juiz encarregado que lesse o inquérito. "O despacho mostra despreocupação com as vítimas da chacina " 13 ao todo, sete fatais. O recurso vai para o Tribunal de Justiça, mas leva de dois a três anos para ser julgado. Vai servir para que daqui a três anos? Contaremos com a memória de quem?", questionou.A deputada Rosmary Corrêa (PSDB) disse que recebeu informações de que as seis pessoas denunciadas eram mesmo culpadas, e que elas são responsáveis diretas pelas tentativas de assassinatos e assassinatos que ainda vêm acontecendo - uma das testemunhas presenciais, a moradora de rua Priscila, foi morta em março desse ano. Rosemary se indignou com o fato de um caso tão divulgado ter ido parar nas mãos de um juiz que não sabia de nada. "Rejeitou simplesmente por desconhecimento. A justiça não está sendo feita e isso faz com que as pessoas que querem fazer o mal se sintam impunes. Quem trabalha no caso se sente desestimulado", advertiu."Não existem pessoas de rua, e sim injustiçados da sociedade. Eles têm mais direitos porque são extremamente carentes e não sabem se defender sozinhos. Precisam do apoio de comissões como essa. Devemos lutar contra essas injustiças", afirmou a deputada Havanir Nimtz (PSDB), ao pedir uma cópia do processo.Danilo Chamas, representante da Fundação Interamericana de Direitos Humanos, informou que, há um mês, sua organização tomou a iniciativa de enviar o processo a instâncias internacionais. "Esperamos que isso possa contribuir para a justiça do nosso país", finalizou.Wilson, representante da Associação Rede Rua e Pousada da Esperança, fez um discurso sobre o massacre, que completa um ano. "Os feitos de hoje repercutirão amanhã, principalmente nos jovens. Violência gera violência. Somos pobres, mas também temos direitos. É vergonhoso o poder judiciário virar-nos as costas".Para o padre Julio Lancelotti, se algo acontecer a alguma testemunha, ou mesmo a ele, os acusados, seus assessores e o juiz que rejeitou a denúncia devem ser responsabilizados. "É dever do estado defender as testemunhas. Nesse caso, a prisão preventiva dos acusados ajudará as testemunhas a perderem o medo de falar. É preciso quebrar a lei do silêncio".