Palestras destacam importância da Educação Física na formação do cidadão


27/08/2008 19:48

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Elizabeth Mattos <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/08-2008/SEMINA EDUCA FISICA ELIZABETH MATTOS.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Roberto Gimenez <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/08-2008/SEMINA EDUCA FISICA Prof Roberto Gimenez - mmy (4).jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O seminário intitulado "As conquistas da Educação Física", promovido pela Comissão de Educação da Assembléia Legislativa, iniciado ontem, prosseguiu hoje com palestra do professor Go Tani, diretor da Faculdade de Educação Física e Esporte da USP, que tratou do processo evolutivo da Educação Física e da dificuldade de se conceituá-la.

Segundo o professor, a Educação Física tem sido vista como disciplina curricular do ensino fundamental, profissão, curso de formação profissional e área do conhecimento. Ele procurou distinguir as profissões academicamente orientadas das tecnicamente orientadas. As primeiras, explanou, são as que requerem uma formação de nível superior de quem as exerce, já as últimas não têm tal exigência.

Educação Física exige um corpo de conhecimento que vai dar base às propostas, programas e procedimentos de intervenção profissional, explicou Tani. Esse conhecimento é o que distancia o professor dos treineiros, ex-atletas e animadores, por exemplo. Essa legitimidade profissional, entretanto, implica uma legitimidade de conhecimentos, que se dá com investimentos em pesquisa. Aliás, a falta de investigação científica levou uma comissão de estudos dos Estados Unidos, na década de 1960, a questionar se haveria justificativa para se considerar Educação Física como nível superior.

Esse estudo provocou várias reações corporativistas, mas uma conseqüência direta foi o fomento à pesquisa e publicação de vários artigos científicos. Formar profissionais e produzir conhecimentos passaram a ser pressupostos da Educação Física, esclareceu o diretor.

No Brasil, as pesquisas nessa área começaram com certo atraso, mas hoje já se tem 21 cursos de pós-graduação em sentido estrito, com mais de 500 doutores ou mestres em Educação Física. Embora Tani classifique como incipiente a pesquisa no país, nos últimos cinco anos mais de 35 docentes publicaram cerca de cem artigos em periódicos internacionais.

Na segunda palestra matutina, Sônia Penin, diretora da Faculdade de Educação da USP, ao explanar sobre a Educação Física no contexto da educação nacional, lembrou que esse profissional também sofre com a desvalorização do professor existente no Brasil.

A formação dos jovens e crianças deve ser a principal preocupação do professor. Um questionamento que o professor sempre deve fazer, explanou, é se seu trabalho busca formar o aluno como um cidadão com a qualidade desejável. Educação Física possui uma peculiaridade que pode influenciar o aluno em outras disciplinas.

Pode acontecer de um aluno não conseguir ir bem nas disciplinas acadêmicas, mas se sobressair na prática de educação física, o que pode lhe dar auto-estima suficiente até para se superar nas disciplinas que enfrenta dificuldades, explicou.

Citando experiências internacionais, Penin afirmou que em países como Chile e Coréia do Sul, "educação é questão de brio nacional" e se disse ansiosa para que isso se torne realidade no Brasil.

A educação em tempo integral foi outra questão defendida pela oradora. O tempo de exposição no processo de aprendizado é essencial, afirmou. Mesmo em países que enfrentaram crises econômicas sérias, como a Espanha, a educação integral sempre foi mantida, disse.

A pesquisa também foi destacada pela professora. "Uma pesquisa sempre começa com uma pergunta", ensinou. Referindo-se à palestra do professor Tani, ela afirmou que é imprescindível ao pesquisador "transitar" em outras áreas de conhecimento, mas que deve tomar cuidado para não perder o foco. "É a natureza transdisciplinar da pedagogia", concluiu.



Cultura e inclusão



Na parte da tarde, dando seqüência ao seminário, o professor Gladson de Oliveira, do Centro de Práticas Esportivas da USP - Capoeira, descontraiu a pláteia ao fazê-la interagir, com cantos e rápidos exercícios em grupo, enquanto conceituava o tema Cultura e Educação Física: a contribuição da Educação Física.

Oliveira, que ministra aulas de capoeira em centro esportivo no Capão Redondo, bairro da periferia da Capital paulista, disse que em qualquer lugar do mundo é possível encontrar a base que fez surgir, no Brasil, essa luta: a reação de um povo oprimido à dominação do mais forte. A partir disso, afirmou ainda o professor, é também possível levar a qualquer povo do planeta a cultura que a originou.

Segundo ele, ninguém é tão pobre que não possa dar algo de si, em colaboração para a melhoria da qualidade de vida universal, e ninguém tão rico que não necessite receber algo. Desta forma, a capoeira aliada à educação física muito pode contribuir para a difusão da cultura afro-brasileira. Oliveira afirmou que considera a capoeira um instrumento psicomotor da cidadania, título de um de seus livros sobre o assunto.

Ao professor da Universidade Cidade de São Paulo, Roberto Gimenez, coube discorrer sobre "Inclusão ou exclusão: as responsabilidades da Educação Física". Tratando da exclusão motivada por questões de gênero, grupo étnico, econômicas, sociais e pela existência de necessidades especiais, Gimenez propõe a atenção dos profissionais da Educação Física à identidade da área de atuação, ao trabalho com grupos pequenos e homogêneos e à proposta de foco nos indivíduos e nos grupos, que permita novas descobertas e novos conhecimentos tanto no que se refere às técnicas como às possibilidades de execução de várias modalidades esportivas. "Quando falamos de inclusão, não se pode mais falar em certo ou errado, e o que prevalece é como pode o portador de necessidades especiais, por exemplo, realizar tal exercício, praticar tal esporte", considerou o professor. Ele tratou também da contribuição que o ensino da Educação Física pode trazer para a responsabilidade social de sociedades, empresas e governos, e destacou a oportunidade de atuação junto ao terceiro setor, que definiu como um espaço em que os governos não dão conta e que a iniciativa privada não tem interesse.



Compreendendo diferenças



A última palestra da tarde, foi proferida por Elisabeth Mattos, professora da Escola de Educação Física e Esporte da USP, que avaliou as particularidades do processo de envelhecimento e a situação dos portadores de necessidades especiais frente à pratica de atividades físicas. No relato das experiências que desenvolve na Universidade de São Paulo, destaca-se o conceito de inclusão reversa, quando um indivíduo não portador de necessidade passa a integrar um grupo de atividade física composto apenas por deficientes visuais, por exemplo. Revela-se aí, segundo Elisabeth, grande oportunidade ensinar, ajudar e compreender diferenças. Na mesma linha, a professora defende que a atividade física para o idoso não seja apenas ocupacional mas abra ao indivíduo a possibilidade de continuar a produzir. Ela finalizou sua palestra com a proposta de política pública que inclua as pessoas portadoras de deficiência nos centros de convivência para idosos. "Além de o idoso ser muitas vezes cuidador de portador de deficiência, ele, aposentado ou não, tem habilidades e conhecimentos diversos que podem resultar em produtividade na relação entre os dois grupos", argumentou a professora.

O seminário continua nesta quinta-feira, a partir das 9h, com encerramento previsto para as 16h30.

alesp