Lobão pode estar dirigindo seus negócios de dentro da prisão


06/10/2003 20:30

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Lobão foi conduzido à CPI Federal da Pirataria por policiais federais<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/CPIpirata06out03.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

DA REDAÇÃO

Documentos encontrados pela Polícia Federal com Roberto Eleutério da Silva, o Lobão, durante intervalo no depoimento que ele prestava à CPI Federal da Pirataria, nesta segunda-feira, 6/10, "mostram a possibilidade de que ele esteja dirigindo seus negócios de dentro da prisão", afirmou o presidente da comissão, deputado Luiz Antônio Medeiros (PL/SP). O deputado considerou o fato "da maior gravidade".

Lobão foi preso pela Policia Federal no início de setembro, acusado de contrabando, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. Segundo a PF, ele é o maior contrabandista de cigarros de São Paulo.

Folhas de papel com anotações de valores referentes a preços de caixas, cálculos em dólares e em guaranis e cartões de seguradoras foram entregues à CPI pelo agente da Polícia Federal que acompanhou Lobão ao banheiro. O policial disse ter estranhado os movimentos que Lobão fez nos bolsos da calça, por isso o revistou e encontrou os papéis.

"Isso é uma armação, isso foi colocado dentro do meu bolso", rebateu Lobão, acusando a Polícia Federal. Ele solicitou aos deputados que seja feito exame grafológico dos manuscritos para provar que não foram escritos por ele.

Deputados da CPI lavraram termo de apreensão dos documentos. Agora, eles querem apurar, com a Superintendência da Polícia Federal, o que podem significar as anotações encontradas com Lobão. Querem também uma relação de todos os visitantes que o detido recebeu desde que está sob custódia da PF.

Em juízo

O depoimento de Roberto Eleutério da Silva à CPI, que se reuniu no plenário Tiradentes da Assembléia Legislativa, começou por volta de 10h30. Lobão - que negou o tempo todo ter esse apelido - foi contraditório nas poucas declarações que fez. Ele disse aos deputados que trabalhava fora do país e, logo em seguida, afirmou: "sou comerciante na rua 25 de Março há 35 anos, onde só trabalho com compra e venda de mercadorias com nota fiscal".

Depois disso, passou a se recusar a responder às perguntas do relator da CPI, Leonardo Piaccini (PMDB/RJ), declarando que só falaria em juízo. Pressionado pelos deputados, negou-se a fornecer detalhes do funcionamento de empresas nas quais estaria envolvido, além de afirmar desconhecer vários nomes de outras pessoas envolvidas na organização.

Algemado, Lobão chegou ao Plenário escoltado por policiais federais. A Assembléia também montou um forte esquema de segurança, com o efetivo de sua Assistência Policial Militar. Mostrando-se tranqüilo durante todo o interrogatório, Lobão irritou os deputados ao adotar a expressão "só falo em juízo" como resposta para todas as perguntas. Ele foi advertido pelo presidente da CPI por seu comportamento desrespeitoso com os demais deputados. Lobão só foi enfático ao se intitular vítima da CPI. "Por ordem do senhor Medeiros não posso nem receber a visita de minha esposa", alegou. "Fui preso como o maior contrabandista brasileiro, mas nunca pegaram nada, nenhuma mercadoria comigo", insistiu.

Depois de desacatar a deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB /AM), ele declarou que a CPI poderia consultar órgãos como a Junta Comercial e a Receita Federal para conseguir dados sobre as empresas Búfalo Branco e Dinossauro, nas quais teria participação.

Diante da insistência dos parlamentares para que fosse respeitoso e aproveitasse aquele momento como uma chance de se defender, disse: "Não tenho nada de que me defender porque não devo nada". Ele chegou a acusar alguns dos deputados que o interrogavam de lhe "faltarem com o respeito", provocando-os.

Conversa gravada

À tarde, Medeiros indagou do superintendente da Polícia Rodoviária Federal no Distrito Federal, Hélio Cardoso Derenne , se havia enviado ofício ao Ministério da Justiça propondo o fim da força-tarefa que tinha sob seu comando. Darenne respondeu que o problema com o grupo era falta de recursos para continuar operando. O envio de ofício foi confirmado por representante do Ministério da Justiça, presente à reunião.

Antes de encerrar os trabalhos, para constar como prova e dar-lhe caráter testemunhal, foi ouvida a gravação da conversa entre o agente da Polícia Federal e Roberto Eleutério da Silva, quando da apreensão dos papéis em que constam dados que indicam a continuidade das atividades ilícitas mesmo após sua prisão. Na gravação, Roberto Eleutério mostra-se indignado com o fato de ter sido revistado no banheiro, alegando que já o fora enquanto ainda estava sob a custódia da PF. Contraditoriamente, Lobão menciona, na gravação, que foi revistado "na custódia", como se refere ao local de sua prisão, e que saiu com o papel no bolso. Reclamou, então, que seus direitos constitucionais foram violados, por haver sido revistado novamente, e que aquilo era "rasgar a Constituição". A ação da Polícia Federal foi elogiada pelos deputados membros da CPI.

alesp